Regime chinês tenta estimular mercado imobiliário em queda

24/06/2014 14:50 Atualizado: 24/06/2014 14:50

Para combater a crescente falta de confiança no mercado imobiliário da China, os governos locais estão afrouxando as restrições sobre quem pode comprar casas, oferecendo incentivos aos compradores e removendo controles de preços estabelecidos anteriormente.

A mídia do Partido Comunista Chinês também começou a falar sobre o potencial latente do mercado, numa aparente tentativa de reforçar a confiança no preço dos imóveis.

Mas em toda a China, desenvolvedores imobiliários lutam para se livrar de seus inventários, recorrendo a técnicas pouco ortodoxas de venda, o que sugere uma profunda preocupação com o futuro.

Um colapso no preço dos imóveis seria catastrófico para a economia chinesa: a grande maioria da riqueza chinesa está amarrada no setor imobiliário e este tem sido a locomotiva do crescimento do país por pelo menos uma década.

“Salvando o mercado”

Nas cidades de segundo nível em toda a China – que são enormes segundo padrões globais –, as autoridades têm removido restrições que vigoravam há anos, visando a estimular as pessoas a comprarem mais casas. Essas medidas são conhecidas em chinês como “jiushi”, ou “salvando o mercado”.

Wuhan, um centro de transporte na China central, nas margens do rio Yangtzé, tem incentivado estudantes universitários a se mudarem para lá para estudar. Eles podem obter certificado de residência local após a graduação, obter emprego e, crucialmente, comprar uma casa, diz a nova política.

O status de residência oficial nas cidades chinesas é controlado pelo governo por meio do chamado “hukou”, ou ‘sistema de registro de residência’, que funciona como um visto interno ou mecanismo de passaporte dentro da China.

Pessoas nascidas no campo são relegadas a hukous rurais. Sem um hukou urbano, eles se tornam cidadãos de segunda classe ao imigrarem para uma cidade, são incapazes de enviar os filhos para a escola ou comprar imóveis ou carros.

Outras cidades têm negociado a promessa de hukous locais em troca da compra de um imóvel, segundo a Xinhua, uma agência estatal de notícias porta-voz do regime chinês.

A cidade de Wuhu, na província de Anhui, Centro da China, cancelou a restrição sobre graduados universitários terem de completar três anos de trabalho antes de receberem subsídios para comprar a primeira casa.

Zengcheng e Conghua, duas cidades de segundo nível na província de Guangzhou, também começaram a remover restrições sobre os preços da habitação, o crédito, o volume de inventário imobiliário e a identidade do comprador, critérios que foram adicionados no ano passado na tentativa de impedir a fuga do mercado imobiliário e sua desestabilização.

Devido a políticas econômicas restritivas que são uma parte essencial do modelo de crescimento econômico do regime chinês, isso resultou na canalização de grande parte da renda familiar para o mercado imobiliário, e assim até mesmo pequenas alterações na política, amplificada pela vasta população da China, podem ter um efeito imediato e significativo.

Mas essas medidas podem ser na melhor das hipóteses um bálsamo temporário. Os sinais de desaceleração econômica parecem inexoráveis e estão por toda a parte.

Desaceleração

O Deutsche Bank AG disse num relatório de 13 de junho, segundo a Bloomberg, que só depois de cortar os preços em 10-15% os corretores imobiliários foram capazes de atingir um volume aceitável de vendas. Dados oficiais mostram que de abril a maio, os preços das casas caíram em 35 de 70 cidades, um mergulho não visto desde maio de 2012.

Os preços das ações em grandes empresas imobiliárias da China listadas nos Estados Unidos também tropeçaram este ano, com o SouFun, um dos principais website imobiliários, perdendo 25% do seu valor em junho, e a E-House China Holdings Ltd., uma corretora de imóveis da China, despencando 13%.

O Índice Imobiliário da Bolsa de Shanghai caiu mais de 6% este ano, refletindo a fortuna de duas dúzias de empresas do setor imobiliário que o índice representa.

Li Junheng, uma analista da economia chinesa da Warren Capital, sediada em Nova York, disse num boletim recente que as “maiores cidades, incluindo Shanghai, têm visto reduções de preços, tanto dentro como fora do Anel Rodoviário Interno, de 2-3% e 8-10%, respectivamente”.

O boletim também disse que a desaceleração da economia levou os varejistas de luxo a impedirem a abertura de novas lojas em centros comerciais, enquanto grandes projetos imobiliários têm apresentado descontos de até 50%. Mesmo os jogadores VIPs e sempre confiantes que viajam para os casinos de Macau têm se reduzido a um punhado.

“Pensamos que a dinâmica do mercado é significativamente diferente de 2008-09… e 2012… em que o mercado demonstrava um excedente fundamental e estrutural e baixa falta confiança do consumidor”, escreveu ela.

Na internet

O Diário do Povo, um jornal estatal porta-voz do Partido Comunista, assumiu a defesa dos ajustes na política imobiliária.

“Crescimento imobiliário tem segundas intenções, ajustes de preços são normais”, afirmou o título de um artigo recente. “Negócios imobiliários tenderam para baixo este ano, subitamente levando a clamores de ‘colapso’, ‘ponto de inflexão’, ‘corrida aos bancos’ e outras teorias pessimistas”, disse o jornal.

Na verdade, tudo isto faz parte de um “ajuste normal”, disse o jornal, estabelecendo a linha do Partido Comunista sobre a maneira politicamente correta de interpretar o mercado imobiliário.

Outros funcionários chineses foram mais sóbrios. Pan Gongsheng, o vice-presidente do Banco Popular da China, disse num fórum recente que, segundo observações parafraseadas, se as pessoas de um país investem sua riqueza principalmente em imóveis, isso pode trazer muitos problemas para o desenvolvimento econômico, levando a uma verdadeira bolha imobiliária que pode eclodir e gerar crise econômica.