Regime chinês propõe zona de livre comércio em Shanghai

25/09/2013 15:00 Atualizado: 25/09/2013 15:00
Mas esta pode ser mais um incentivo a corrupção do que verdadeiramente livre
Visão aérea de Shanghai com o Centro Financeiro Mundial de Shanghai em construção. A nova Zona de Livre Comércio de Shanghai, aprovada em agosto para incentivar a competitividade, levantará a censura sobre o New York Times e outros websites banidos (STR/AFP/Getty Images)
Visão aérea de Shanghai com o Centro Financeiro Mundial de Shanghai em construção. A nova Zona de Livre Comércio de Shanghai, aprovada em agosto para incentivar a competitividade, levantará a censura sobre o New York Times e outros websites banidos (STR/AFP/Getty Images)

Na recém-criada Zona de Livre Comércio de Shanghai, a livre conversão do yuan é agora possível e alguns websites antes proibidos, como o Facebook e o Twitter, serão reabilitados.

Mas não tenha muitas esperanças para a verdadeira mudança econômica ou política na China: Enquanto as autoridades chinesas tentam relaxar a censura e criar um sentimento de singularidade como em Hong Kong, analistas temem que o projeto seja uma política equivocada que agrava os problemas financeiros e incentiva mais corrupção.

A Zona de Livre Comércio (ZLC) foi lançada em agosto pelo Conselho de Estado chinês, o equivalente do gabinete de governo do Partido Comunista Chinês (PCC). A área de 26 km² em Shanghai abrange o distrito de Pudong, o porto de Yangshan e um aeroporto internacional. O regime espera que a remoção de tarifas de importação-exportação e a liberalização das comunicações atrairão capital estrangeiro que seriam direcionados ao Sudeste Asiático.

O Diário da Manhã do Sul da China, um jornal de Hong Kong, informou que, segundo uma fonte do regime comunista, os políticos chineses precisam atender o público internacional para incentivar o investimento de empresas estrangeiras. “Se eles não puderem entrar no Facebook ou ler o New York Times, eles naturalmente questionarão o quão especial é a ZLC comparada com o resto da China”, disse a fonte, segundo o Diário.

O anúncio de que sites proibidos seriam permitidos na ZLC provocou ira online. Um internauta popular escreveu: “Primeiro, o PCC nos privou de todos os nossos direitos básicos, chamando isso de ‘andar o caminho socialista’. Agora, ele nos devolve os direitos numa cidade costeira desenvolvida e chama isso de ‘aderir à reforma e abertura’.”

Outro olhou para uma época histórica anterior e escreveu: “O governo chinês tem alegado muitas coisas para o público estrangeiro que a internet da China é livre e aberta. Desta vez, ele finalmente admitiu que usa a censura? A Concessão de Shanghai está voltando; os estrangeiros desfrutam de navegação irrestrita. Será que os chineses e os cães terão acesso aos mesmos direitos online?” A Concessão Internacional de Shanghai do final do século 19 e início do 20 foi resultado de tratados entre as potências ocidentais e a decrépita corte imperial chinesa e foi amplamente visto como injusto.

De acordo com o premiê chinês Li Keqiang, a ZLC é concebida como um experimento econômico, para o qual “Shanghai tem a qualificação e a fundação requeridas”. “A fim de enfrentar o desafio da globalização econômica, a China deve se expandir por meio de reforma institucional inovadora. A sede regional de empresas multinacionais na Ásia-Pacífico deveria ser convidada a mudar para a China. Esta é uma oportunidade fugaz”, disse Li Keqiang num artigo da Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do regime chinês.

Funcionários decoram o portão da Zona de Livre Comércio Shanghai Waigaoqiao para a assinatura do programa piloto em 29 de setembro. A nova zona permitirá o acesso ao Facebook, Twitter e outros websites banidos no resto da China, numa exceção aos estritos controles da internet no país comunista (STR/AFP/Getty Images)
Funcionários decoram o portão da Zona de Livre Comércio Shanghai Waigaoqiao para a assinatura do programa piloto em 29 de setembro. A nova zona permitirá o acesso ao Facebook, Twitter e outros websites banidos no resto da China, numa exceção aos estritos controles da internet no país comunista (STR/AFP/Getty Images)

Mas nem todos veem a região como uma vantagem. Frank Xie, um economista que regularmente comenta na imprensa chinesa no estrangeiro, expressa dúvida sobre as chances de sucesso da política. A livre conversão da moeda chinesa na zona poderia levar a uma fuga de capitais de outras partes da China para a zona, abrindo a porta ao aumento da corrupção e do comportamento especulativo por parte dos oficiais do PCC, disse ele. Este êxodo de capital nacional pode exacerbar a escassez de reservas nos bancos estatais e causar instabilidade no sistema financeiro da China.

“Tornar a moeda chinesa totalmente conversível poderia ajudar a China a se assimilar melhor na economia mundial, reduzir o atrito do comércio e aliviar as preocupações ocidentais sobre a manipulação da moeda, mas esta reforma parcial na zona de apenas 26 km² não alcançará essa meta. Além disso, o regime chinês se baseia no rígido controle da economia e do poder político para manter a estabilidade, por isso, não é provável que eles abram mão do controle sobre a economia quebrando os monopólios estatais”, disse Xie ao Epoch Times.

De acordo com o analista financeiro chinês Liao Shiming, enquanto os desenvolvimentos em Shanghai representam uma ameaça evidente à posição de Hong Kong como um polo econômico, desde que a cidade possa manter seu sistema judiciário independente e liberdade, Shanghai não será capaz de ultrapassar Hong Kong como principal centro financeiro da China pelos próximos 30 anos.

Frank Xie tratou da mesma questão num artigo do New Epoch Weekly, uma publicação parceira do Epoch Times. “Se a reforma do premiê Li Keqiang não assegurar justiça social e estado de direto concreto, mas, ao contrário, ignorar a liberdade de imprensa e de expressão, o sistema econômico chinês se provará hipócrita e até mesmo prejudicial.”