Regime chinês persegue advogados e destrói suas famílias

23/10/2015 15:20 Atualizado: 23/10/2015 15:20

No início deste mês, policiais da China e da Birmânia invadiram um hotel que fica na fronteira entre os países, e sequestraram o filho adolescente de um advogado chinês de direitos humanos bem conhecido, e seus dois companheiros de viagem. Agora, Bao Zhuoxuan está sob prisão domiciliar na casa de sua avó no Interior da Mongólia, sendo mantido como refém enquanto seus pais aguardam pelo demorado julgamento da custódia.

O incidente atraiu grande atenção internacional, uma vez que o menino está sendo culpado pelo simples fato de ser filho de dois ativistas considerados uma ameaça ​​pelo Partido Comunista Chinês.

O episódio também trouxe à tona a técnica de “punição coletiva” aplicada na China hoje em dia. A perseguição de membros da família se tornou uma arma sofisticada dentre o arsenal do Partido contra chineses que desafiam suas regras. Esta tática remonta aos tempos antigos, e apesar de ter sido criticada pelos comunistas antes de tomarem o poder, logo em seguida a prática se expandiu rapidamente, até desfrutar de um renascimento obscuro ao longo da última década.

Prática obscura torna-se uma norma

Antes de assumir o poder, o Partido Comunista Chinês era conhecido por enterrar famílias inteiras vivas, caso estas fossem acusadas de cometer um crime contra a revolução, de acordo com histórias de 1930 e 1940.

Após conquistar a China em 1949, o Partido Comunista fez da punição coletiva uma norma. Diversos proprietários de terra foram assassinados desta forma no final de 1950. Filhos de intelectuais foram removidos à força de suas famílias, e levados a zonas rurais onde eram obrigados a realizar trabalhos escravos.

Nem mesmo os entes queridos do quadro militar do Partido Comunista foram poupados durante a Revolução Cultural. Depois que Xi Zhongxun, um líder revolucionário, foi expulso do comitê, seu filho adolescente Xi Jinping (atual líder da China) foi obrigado a trabalhar com agricultura na província de Shaanxi.

Hoje, a mídia estatal chinesa usa os seis anos que Xi viveu na zona rural para cultivar a imagem do atual líder do Partido Comunista como um homem do povo, como um “jovem enviado para baixo”. Aparentemente, essa propaganda é feita sem nenhum traço de ironia, desconsiderando que o trabalho forçado foi na realidade uma punição para a identidade de seu pai.

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Expansão feroz

O Partido Comunista Chinês “herdou a prática legalista” de punição coletiva, afirmou Zhang Tianliang, apresentador de uma série popular que explora a China pré imperial, exibida pelo canal americano New Tang Dynasty Television (NTDTV).

Desde a Dinastia Qin (221-206 a.C.), a família inteira de um criminoso considerado culpado de um crime capital seria executada junto com ele. A punição coletiva permaneceu na legislação até 1905, quando as reformas na Dinastia Qing extinguiram a prática para integrar a China nas normas internacionais.

Entretanto, o Partido Comunista pegou a “punição coletiva, uma prática obscura dos tempos antigos, e a expandiu ferozmente”, disse Zhang em entrevista ao Epoch Times, por telefone.

“Agora, até mesmo colegas de escritório podem ser envolvidos na punição coletiva.”

Silenciando advogados

A maneira como o atual governo da China lida com advogados de direitos humanos, promovendo uma repressão maciça, tem muitas semelhanças com a época da Revolução Cultural, disse Teng Biao, um professor da Escola de Direito de Harvard, em uma entrevista por telefone com o Epoch Times.

O regime comunista tem como alvo os advogados de direitos humanos porque seu trabalho em defender os marginalizados da sociedade chinesa – ativistas, dissidentes, grupos religiosos perseguidos – é visto como uma ameaça à regra absoluta do Partido. Mais de 290 advogados foram interrogados ou presos durante esta recente repressão, de acordo com o Grupo de Advogados de Direitos Humanos da China, com sede em Hong Kong.

Para “intimidar e punir” os advogados, o regime chinês tem recorrido a diversas táticas – como sequestro, prisão domiciliar, detenção – e “vai estender estas táticas para seus familiares”, disse Teng.

A perseguição à advogada de direitos humanos Wang Yu e sua família é um grande exemplo: No dia 9 de julho, a polícia invadiu sua casa em Pequim e a sequestrou. Seu marido e filho, Bao Longjun e Bao Zhuoxuan, foram detidos no aeroporto de Pequim, quando o jovem estava indo para a Austrália cursar o ensino médio.

Wang Yu e Bao Longjun estão atualmente presos e incomunicáveis, e o passaporte do jovem Bao Zhuoxuan foi confiscado.

O Partido Comunista Chinês tem punido advogados e suas famílias de forma ainda mais severa.

Gao Zhisheng, um famoso advogado de direitos, uma vez saudado como a “consciência da China”, foi preso e terrivelmente torturado por defender praticantes da disciplina espiritual Falun Gong, que começaram a ser perseguidos após o governo proibir esta prática de meditação na China, devido ao grande número de adeptos.

Uma multidão de policiais à paisana começaram a vigiar, 24 horas por dia, Gao, sua esposa, e seus dois filhos. Temendo pelo bem estar de seus filhos, Geng He, esposa de Gao, fugiu com as crianças para Nova York em 2009. A família de Gao agora reside em São Francisco.

Entre 2006 e 2014, Gao Zhisheng passou a maior parte de seu tempo na cadeia, onde foi torturado sem piedade. Em um vídeo divulgado no mês passado, Gao mostrou como perdeu diversos dentes, e descreveu uma surra particularmente recorrente que deixava seus torturadores exaustos. Gao está atualmente sob uma forma de prisão domiciliar na província de Shaanxi, na China.

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‘Extremo Trauma Mental’

O tratamento abusivo em relação a Gao Zhisheng, Wang Yu, e outros advogados de direitos humanos expõe em que medida a punição coletiva expandiu sob as regras do comunismo – estes advogados têm prestado assistência jurídica aos praticantes do Falun Gong, um dos grupos mais severamente perseguidos na China hoje em dia.

A punição coletiva tem sido usada livre e intensamente durante a perseguição ao Falun Gong. Quando os mais de 70 milhões de praticantes na China, de acordo com estimativas oficiais, foram submetidos a uma intensa repressão que começou em 20 de julho de 1999, o uso da família foi fundamental.

Os membros da família foram marcados pelo Partido Comunista para punição, e também foram alistados na campanha do governo para realizar a “transformação” de praticantes do Falun Gong. Isso significa que eles teriam que renunciar à tradicional prática chinesa de auto-cultivo, que consiste em cinco exercícios de meditação e baseia-se nos princípios de verdade, compaixão e tolerância, e prometer lealdade ao Partido Comunista.

O caso de Shen Long é um exemplo significativo. Filho de praticantes do Falun Gong, ele recentemente entregou uma carta contando os sofrimentos vivenciados por sua família para o Minghui.org, um website especializado em informações sobre a prática.

Shen, um dentista de 27 anos, da cidade de Guchen, escreveu que a polícia havia monitorado firmemente sua casa desde 1999, e gerou um “trauma mental e psicológico extremo à minha família, principalmente ao meu avô e minha avó”.

Em 2010, Shen foi brutalmente agredido pela polícia em uma delegacia local, após tentar recuperar seus objetos pessoais e livros do Falun Gong de sua mãe, que foram confiscados em uma invasão a sua casa.

Os policiais perguntaram mais tarde se Shen praticava Falun Gong, e espancaram-no novamente quando ele verdadeiramente disse que não.

Frank Fang contribuiu para este artigo.