O regime chinês já afirmou a existência de dois milhões de monitores da opinião online, mas parece que isso não foi suficiente. Agora, certificados estão sendo dispensados para aqueles que tomam um curso de formação que lhes instrui que informações precisamente censurar. Recrutas se tornam “especialistas em gestão da opinião pública online”, ou seja, censores.
O desenvolvimento é uma tentativa de Pequim de profissionalizar ainda mais e consolidar seu controle das opiniões na internet. As primeiras sessões de treinamento para estes especialistas serão realizadas em Pequim neste mês, seguidas de testes para garantir que o conhecimento foi absorvido e então os certificados serão concedidos.
O controle da opinião pública sempre foi uma característica marcante do regime comunista na China. O rápido crescimento da internet e das mídias sociais, no entanto, pegou o Partido Comunista desprevenido. Ele tomou agora uma variedade de medidas para reafirmar o controle estatal sobre os canais de mídia social.
O Partido Comunista leva a sério a ameaça de instabilidade social na China, e tenta gerir, manipular e controlar a opinião pública na internet para dissolver protestos antes que tenham a chance de se difundir e ganhar força, segundo a própria literatura do Partido sobre o tema.
A primeira sessão de treinamento de seis dias para os novos certificados será realizada de 27 de março a 1º de abril e organizada pela agência de notícias Xinhua, uma mídia porta-voz do Partido Comunista Chinês, em cooperação com o Centro Nacional de Testes Padronizados de Opinião Pública (CNTPOP), segundo a Xinhua.
A iniciativa é “uma tarefa muito importante para todos os níveis do governo e líderes”, disse a Xinhua. Praticamente ninguém no regime está sendo deixado de fora. A formação em opinião pública online tem como alvo funcionários em todos os níveis do governo: o departamento de propaganda, o sistema de segurança pública, o Judiciário, as escolas e universidades, centros de investigação científica e unidades de relações públicas em grandes e médias empresas, informou a Xinhua.
Os participantes precisam fazer um teste de três horas, após o qual, se aprovados, serão concedidos certificados pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação. Há cinco categorias: assistente de analista, analista, analista-sênior, gerente e gerente-sênior. Os participantes precisam pagar até 6.800 yuanes (US$ 1.108) pelo certificado.
O CNTPOP define como o controle da opinião deve funcionar. Os novos comissários da internet serão treinados para evitar a propagação de “rumores” no Weibo, ou plataformas de microblog, supervisionando as mensagens e excluindo aquelas que sejam consideradas prejudiciais. Eles usam tecnologia avançada de filtragem para identificar as mensagens problemáticas, e terão de “filtrar rapidamente informações falsas, prejudiciais, incorretas ou mesmo reacionárias”.
Aqueles que espalham “rumores” podem ser “severamente punidos”, dizem os relatórios. Um caso ocorreu em 9 de março, segundo o ‘64Tianwang’, um website de direitos humanos bem-conhecido na China. Ele disse que três ativistas que atuavam como repórteres para o site foi colocados sob detenção criminal por “perturbar a ordem social” depois de terem documentado protestos de peticionários em Pequim na semana passada. Os protestos ocorreram durante as duas reuniões, conclaves políticos importantes que estão ocorrendo atualmente.
Wang Jing, um dos presos, documentou como uma manifestante tentou pôr-se em chamas na Praça da Paz Celestial em 5 de março. Sempre apegados a seus certificados, a Secretaria de Segurança Pública de Pequim ainda premiou os dois policiais que “lidaram satisfatoriamente com o incidente inesperado” de autoimolação, disse a mídia estatal China News.
“Revelar a verdade na China continental é proibido pelas autoridades comunistas”, disse Huang Qi, um ativista dos direitos e fundador do 64Tianwang, numa entrevista com a emissora NTDTV. Ele continuou: “Centenas de pessoas foram reprimidas e presas pelo Partido Comunista por revelar a verdade nos últimos anos. Se as autoridades continuarem reprimindo a liberdade de mídia e expressão, a corrupção crescerá mais desenfreada e as pessoas se levantarão em oposição.”