Diário do Povo, o jornal oficial do Comitê Central do Partido Comunista Chinês publicou um editorial em 10 de Agosto, deixando um claro aviso para os antigos líderes do partido que ainda se intrometem nos assuntos de seus sucessores.
A linguagem utilizada no editorial, o período da publicação, o contexto político, e a interpretação quase unânime do objetivo do artigo segundo comentários através da internet chinesa, aponta para um alvo: o ex-líder do Partido Comunista, Jiang Zemin.
Nos parágrafos iniciais, mensagens nítidas são estampadas sobre como agem os bons líderes aposentados e como agem os maus. “Muitos dos líderes do Partido, uma vez que renunciaram a seus cargos, tem tratado corretamente a mudança de posição. Eles não interferem na obra da nova liderança”.
“No entanto,” entoa o artigo, “há líderes do Partido que, enquanto ainda estão no poder, nomeiam assessores de confiança para assumirem posições-chaves com o propósito de estender sua influência no futuro. Além do mais, depois destes líderes do Partido deixarem o cargo, aparentam não estarem dispostos a desistir de exercer a sua influência sobre os rumos do governos…”
Embora o artigo em nenhum ponto cite o nome de Jiang Zemin, a conclusão parece certa aos leitores. Jornais do Partido são famosos por fazer alusões a figuras políticas de forma codificada. A violenta e maníaca forma de fazer criticismo herdada pela Revolução Cultural está amplamente sendo eliminada, ainda mais quando o próprio Diário do Povo publica – um “cão de guarda” do partido -, deixa uma crítica fazendo alusão a demissão de um funcionário da dinastia Ming.
“Para um bom entendedor, é claro que este artigo é uma crítica à Jiang Zemin, mas sem citá-lo”, escreveu Hu Ping, comentarista político veterano que vive em exílio em Nova York, pelo site da Radio Free Asia. A principal agência de notícia da França, Agence France-Presse – AFP , também comentou que Jiang Zemin é o provável alvo.
“Xi Jinping tem divulgado amplamente sua campanha contra a corrupção que possui uma longa lista de funcionários seniores e juniores incluindo o ex-czar da segurança, Zhou Yongkang, que foi condenado à prisão perpétua em junho deste ano”, escreveu a AFP. “Zhou é considerado um aliado do ex-líder Jiang Zemin … especula-se sobre se Jiang pode ser alvo de Xi, do Comitê de Investigação Interna do Partido e da Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCDI).”
O Diário do Povo usa em seu artigo uma metáfora para deixar a mensagem, a idéia de que “o chá esfria quando a pessoa vai embora”, é uma frase que data da dinastia Ming. O artigo inclui esta frase em sua manchete, publicado na seção de opinião da web, e na página 7 na edição impressa. A manchete intima os leitores a se “posicionar corretamente” sobre o assunto, pois quando o “chá esfria”, significa que não se deve apoiar um oficial do partido que procura manter o poder depois de deixar o cargo.
“Teoricamente, em um ambiente de trabalho, o chá esfriar quando a pessoa vai embora é comum. Mas por que existem pessoas que insistem que o chá permaneça quente?” acrescenta o editorial.
Sob essa sutil mensagem, existe uma faca bem afiada: “Estando infelizes em se aposentar… fazem tudo o que podem para manter seu poder, não se importando com quais políticas estão sendo implementadas, não se importando em interferir com uma governança virtuosa, fazendo todo o possível para certifique-se de que o chá permaneça quente durante todo o tempo. “
Jiang Zemin é notório por ter incorporado grande quantidade de comparsas dentro do Comitê Permanente do Politburo, centro nevrálgico do Partido, quando ele estava deixando o cargo em 2002. Durante seu mandato ele também colocou comparsas em todos os níveis do Partido e aparelhou o Estado, concedendo-lhes a capacidade de enriquecer como forma de comprar-lhes a lealdade política. Um fato interessante é que Jiang Zemin não tinha nenhuma base de poder estabelecida dentro do regime quando, inesperadamente, chegou ao poder em 1989. Antes de ele renunciar as seus títulos militares em 2004 e 2005, Jiang tinha seus homens – muitos dos quais já foram presos pelo atual líder, Xi Jinping – controlando de forma eficaz os militares.
Com esta rede de conexões estabelecida, Jiang exerceu grande controle sobre os pontos fundamentais da política chinesa há mais de uma década, mesmo depois de deixar o cargo. Um dos casos mais proeminentes dessa influência é a do ex-chefe do aparato de segurança nacional, Zhou Yongkang, a quem Jiang promoveu rapidamente após demonstrar lealdade na implementação da violenta campanha para perseguir e eliminar a prática espiritual do Falun Gong. A perseguição foi oficialmente ordenada por Jiang Zemin em 20 de julho 1999.
Nesta época, segundo levantamento do próprio regime chinês, a prática continha cerca de 70 a 100 milhões de praticantes. O Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, é uma disciplina tradicional de qigong que inclui exercícios e promove a elevação do caráter moral pela assimilação aos princípios da verdade, compaixão e tolerância.
Li Hongkuan, comentarista de política chinesa que por muitos anos funcionou com referência para VIPs, responsável pelo desenvolvimento de uma renomada newsletter que combate o regime chinês, disse em entrevista à televisão New Tang Dynasty que “o propósito de tal artigo não é para gerar debate … é para alertar certas pessoas.”
Em fevereiro, Zeng Qinghong, homem-chave e mentor político de Jiang, também foi “avisado” de forma semelhante através do Diário do Povo, pela Comissão Central do Partido de Inspeção Disciplinar, com uma referência a um príncipe corrupto da Dinastia Qing. O nome de Zeng não foi citado, mas os observadores de política chinesa rapidamente entenderam a mensagem.
A tese de que Jiang Zemin é o alvo principal de Xi Jinping, sob o pretexto de atacar a corrupção pra limpar o partido, vem sendo parte da cobertura do Epoch Times sobre o cenário político chinês há anos. Nossos colunistas e repórteres desde o início de 2012 previram a queda de Bo Xilai, Zhou Yongkang, entre outros, antes de que as informações se tornassem oficiais. Nossas análises se baseiam em observações de tendências políticas chinesas, além de informações recebidas de fontes de dentro do regime. Também, o editorial do jornal declara que outros assessores de alto escalão ligados a Jiang Zemin, e o próprio Jiang, acabarão sendo perseguidos por fim.