Regime chinês está cometendo genocídio contra prisioneiros de consciência, revela documentário

02/11/2015 12:59 Atualizado: 02/11/2015 13:25

É difícil conseguir um coração para transplante humano. O doador geralmente está com morte cerebral e com suporte de aparelhos. Além disso, o doador e o receptor devem compartilhar os mesmos tipos de sangue e de tecidos para evitar a rejeição.

Então, Jacob Lavee um cirurgião de transplante de coração no Sheba Medical Center, da Universidade de Tel Aviv, acha difícil acreditar quando um paciente, em seu departamento de hospital em Israel, diz que esperou duas semanas na China, em uma data específica, para um transplante de coração.

“Eu olhei para ele e disse: ‘Você perguntou a si mesmo? Como eles podem agendar um transplante de coração em menos de duas semanas?

Isso foi em 2005. Dr. Lavee narra o episódio no documentário “Hard to Believe”, que faz uma análise profunda sobre o motivo pelo qual o regime comunista chinês retira os órgãos de prisioneiros de consciência. O que os pesquisadores chamam de um assassinato em massa de pelo menos dezenas de milhares de vítimas.

O documentário, traz entrevistas com profissionais da área médica, praticantes da disciplina espiritual Falun Gong e representante dos Estados Unidos e Canadá, está sendo transmitido pelas estações PBS (Serviço público de radiodifusão) em todo EUA.

O Bom médico

Já há algum tempo, o Dr. Lavee estava ciente de que os israelenses visitavam com freqüência a China para transplantes de rim, mas ele sempre presumia que os doadores eram os pobres aldeões chineses. Este é, por si mesmo, um cenário altamente problemático em relação à ética, mas os seres humanos podem viver com apenas um rim.

Dr. Jacob Lavee. (Cortesia de Hard to Believe)
Dr. Jacob Lavee. (Cortesia de Hard to Believe)

Já a doação de coração é um assunto completamente diferente. A China ficou conhecida por usar os órgãos dos criminosos executados, o Dr. Lavee observou que os números de transplantes e de execuções não batiam.

Depois de fazer investigações sobre a fonte de doadores de órgãos na China, ele deu de frente com um relatório escrito por um advogado canadense de direitos humanos e um ex-político que investigou acusações de retirada de órgãos de prisioneiros de consciência na China, especificamente, os praticantes de Falun Gong, uma disciplina espiritual que tem sido perseguido em na China desde 1999.

“A nova informação faz todo o sentido”, disse o Dr. Lavee no documentário, tendo se tornado uma das principais peças na narrativa através de seus próprios esforços para limitar o envolvimento de Israel nesta atividade.

O documentário mostra como e por que os pesquisadores acreditam que é óbvio que a colheita em massa de orgãos de prisioneiros do Falun Gong ocorre na China e procura entender o motivo pelo qual não é dada mais atenção para o assunto: por que é tão “difícil de acreditar?”. Palavras de Louisa Greve, vice-presidente da “National Endowment for Democracy” (Fundo nacional para a Democracia), que aparece brevemente no filme.

Seguindo um rastro repleto de sangue

Uma resposta pode ser encontrada simplesmente na natureza do crime: o regime chinês sua a extração de órgãos de seus próprios cidadãos de uma forma sistemática e brutalmente eficiente, para a venda aos chineses ricos e turistas que buscam o transplante.

As vítimas deste comércio de colheita de órgãos incluem os Uigures, Cristãos e Tibetanos, embora a mais extensa colheita tenha sido realizada contra o Falun Gong. Em 20 de julho de 1999, o ex-líder do Partido Comunista Jiang Zemin lançou uma vasta perseguição nacional ao Falun Gong, uma prática de meditação tradicional chinesa que incorpora os ensinamentos da verdade, compaixão e tolerância.

De uma só vez, mais de 70 milhões de cidadãos chineses se tornaram alvos da tortura brutal e enviados ao trabalho forçado. Cerca de 3.900 praticantes do Falun Gong foram torturados e espancados até a morte e mais centenas de milhares permanecem detentos, de acordo com estatísticas do Falun Gong e dos pesquisadores dos direitos humanos.

As alegações de que o regime chinês estava lucrando com os órgãos retirados com os praticantes do Falun Gong ainda vivos, surgiram em março 2006, após a esposa de um cirurgião de transplante envolvido na colheita e também um jornalista chinês virem a público com detalhes do caso macabro.

O advogado canadense dos direitos humanos David Matas e o ex-secretário de Estado canadense para a Ásia-Pacífico, David Kilgour, viram as alegações e tentaram contestá-las. Depois de considerar 33 tipos de possível prova ou refutação, incluindo numerosos telefonemas anônimos na China, verificação cruzada de números de transplantes oficiais e adotando uma lógica simples concluíram, no primeiro relatório sobre a colheita de órgãos na China, que as alegações são verdadeiras. O relatório Kilgour-Matas concluiu que os praticantes do Falun Gong foram a fonte mais provável para os mais de 41.500 transplantes, entre os anos 2000-2005.

O ex-político canadense David Kilgour (E) e advogado internacional de direitos humanos David Matas testemunharam, em sua investigação de sete anos da colheita ilegal de órgãos na China, na subcomissão dos direitos humanos em 5 de fevereiro de 2013. (Matthew Little / The Epoch Times)
O ex-político canadense David Kilgour (E) e advogado internacional de direitos humanos David Matas testemunharam, em sua investigação de sete anos da colheita ilegal de órgãos na China, na subcomissão dos direitos humanos em 5 de fevereiro de 2013. (Matthew Little / The Epoch Times)

O autor Ethan Gutmann testemunhou em primeira mão a repressão ao Falun Gong em Pequim em 1999 e iniciou sua própria investigação sobre a colheita de órgãos em 2006. Em seu livro de 2014, “The Slaughter”, Gutmann traçou a história da prática de colheita de órgãos do regime chinês a partir de experimentos impróprios, desde os anos 1990, ocorridos na província na fronteira chinesa de Xinjiang até o disfarce de “exames de saúde” que ocorrem atualmente na China, que na verdade são relatórios dos orgãos dos praticantes do Falun Gong vivos. Gutmann estima que cerca de 65 mil praticantes de Falun Gong tiveram seus órgãos retirados entre 2000-2008.

Este ano, o filme “Human Harvest” ganhou o prêmio Peabody Award, um prestígiado festival de cinema nos EUA. O documentário levanta a questão da extração forçada de órgãos, proporcionando, talvez, o conhecimento mais proeminente dos crimes que ocorrem na China atualmente.

Tom da Narrativa

Os produtores de “Hard to Believe” (Difícil de Acreditar) quiseram apresentar uma narrativa no estilo de suspense, que convida o público a perguntar por que um advogado de direitos humanos e um médico israelense chegaram a tais conclusões sobre os assassinatos em massa para fins comerciais, liderados pelo Estado chinês, ao longo da última década.

Gutmann estava cético, inicialmente, se essa abordagem seria a mais impactante, mas acabou por ser convencido. O Diretor Ken Stone e a co-produtora Irene Silber foram “sinceros em fazer a pergunta que eu não pude responder durante o processo de escrita”, disse Gutmann ao Epoch Times em uma entrevista por telefone.

O autor Ethan Gutmann. (Screen shot via Hard to believe)
O autor Ethan Gutmann. (Screen shot via Hard to believe)

“Hard to Believe” é o primeiro filme que passa mais tempo focando os investigadores, mostrando que eles são essencialmente pessoas objetivas e razoáveis, sem agenda oculta”, disse Gutmann. “É um filme de homens que raciocinam em relação a extração de órgãos.”

Os suspeitos usais

O truque foi “manter isso simples”, disse Stone ao Epoch Times em uma entrevista por telefone. “Focando nas pessoas envolvidas no assunto”, ele afirma.

“Se você contar pequenas histórias, histórias interessantes sobre as pessoas, isso resolve o problema” do filme vir a ser uma obra de advocacia, acrescentou Stone, diretor vencedor de um Emmy e ex-repórter de televisão agora residente em Minnesota.

Diretor de “Hard to Believe” Ken Stone. (Courtesia de Kay Rubacek)
Diretor de “Hard to Believe” Ken Stone. (Courtesia de Kay Rubacek)

De todas as histórias em destaque, Stone achou a entrevista com o ex-cirurgião de transplante de Enver Tohti a mais convincente. Tohti, um uigur nativo da província a oeste de Xinjiang, China, que agora dirige um ônibus em Londres, confessou nos últimos anos ter realizado a colheita de órgãos de pessoas vivas no verão de 1995, sobre as ordens de seu superior imediato.

As histórias de Ethan Gutmann, dos praticantes do Falun Gong e de Enver Tohti são facilmente cativantes a audiência da televisão americana porque são arquétipos familiares com: difícil acusação, busca da verdade, jornalista cético, advogado dos direitos humanos, vítimas de uma brutal perseguição e “Doctor zero”, o primeiro cirurgião que puderam encontrar envolvido na prática de extração de orgãos, explicou Ken Stone em um vídeo de entrevista dos produtores.

“Parte da história é trabalho do Epoch Times, das obras de Ethan Gutmann, de David Matas e Jacob Lavee”, disse Stone.

O Papel deste Jornal

O Epoch Times introduziu a história da colheita de órgãos forçado de prisioneiros de consciência em Março de 2006 e tem acompanhado de perto os desenvolvimentos da questão.

“Hard to Believe” apresenta entrevistas com Stephen Gregory, o editor do Epoch Times em inglês nos EUA, um jornal independente, com sede em Nova York. Também apresenta Matthew Robertson, repórter do Epoch Times para China que recebeu o prestigiado prêmio Sigma Delta Chi Award da Sociedade de Jornalistas Profissionais por sua cobertura da colheita de órgãos em 2013.

“Nós abordamos histórias de um repórter que está escrevendo para um jornal que a maioria dos americanos nunca ouviram falar, mas que tem escrito muito sobre isso, sendo reconhecida pela Sociedade de Jornalistas Profissionais,” disse Stone, em uma entrevista em vídeo realizado com os produtores do filme.

“A história da colheita de órgãos é a história do Falun Gong”, disse Gregory no documentário. “Falun Gong é a questão mais sensível para o regime chinês. Ninguém na grande imprensa que tem escritórios na China está cobrindo o assunto dentro do país”.

Resolvendo os detalhes

Como muitos outros, inicialmente, quando foi informado pela co-produtora Irene Silber no início de 2014, o diretor Ken Stone era cético em relação aos crimes de retirada de órgãos feitos pelo regime chinês.

Depois de pesquisar, no entanto, Stone sentiu que havia uma história digna de ser contada e decidiu iniciar a produção bem quando o Congresso Mundial de Transplantes estava sendo realizado em São Francisco em julho de 2014.

Assistir o Congresso, o maior evento internacional na área de transplante de órgãos, foi um passo crucial para o documentário, por que os produtores conseguiram conhecer e entrevistar várias pessoas-chave para o filme, disse Kay Rubacek, diretor da Rusga Films, que distribui o filme.

Durante a produção, Rubacek foi um dos principais envolvidos nas pesquisas e entrevistas e ajudou a suavizar o processo de produção, agindo como a conexão entre os entrevistadores e os entrevistados.

Rubacek, por exemplo, foi um “solucionador de problemas” ao manter por várias semanas as linhas de comunicação abertas entre entrevistados e produtores e conseguindo testemunhas que estavam relutantes em participar.

Não foi pouco o trabalho colocado na elaboração no efeito pertubador do documentário, um pulsante tema de piano dirigido por Dafydd Cooksey.

“É sinistro, gera um pressentimento e há uma tensão no conhecimento que está sendo revelado”, disse Cooksey, que trabalhou de 12-14 horas por dia na trilha sonora durante um mês para produzir um resultado digno de um assassinato misterioso. “Há algo acontecendo e aqui está a prova que isso está acontecendo”.

Dafydd Cooksey, produtor de som do documentário. (Cortesia de Dafydd Cooksey)
Dafydd Cooksey, produtor de som do documentário. (Cortesia de Dafydd Cooksey)

Cooksey, que também gravou o som ambiente e fez o trabalho de pós-produção, disse que a parte que mais afeta no documentário é a do ex-cirurgião Enver Tohti, que comentou sobre a colheita de órgãos de pessoa viva que participou.

“Como um cirurgião, o instinto natural da Tohti é salvar vidas, mas lhe foi dito para remover o fígado e os rins de uma pessoa que tinha sido baleada, mas não morta”, disse Cooksey. “O que me comoveu foi como anos mais tarde Tohti mostrou remorso por fazer isso: ele orava para o rapaz na mesquita ou igreja ou acendia uma vela em um templo.”