Regime chinês cambaleia para revelar colheita de órgãos

10/10/2012 19:03 Atualizado: 20/04/2014 21:38
Um bode expiatório permitiria ao PCC clamar inocência
Grampos, tesouras e outros instrumentos cirúrgicos utilizados numa sala de operação durante um transplante de rim. (Brendan Smialowski/AFP/Getty Images)

A atrocidade tem estado à vista por anos, enquanto o regime chinês tem tentado negar, explicar ou encontrar alguém para colocar a culpa – qualquer coisa, desde que o Partido Comunista Chinês (PCC) possa continuar incólume.

Depois de 1999, ano que começou a perseguição ao Falun Gong, os transplantes de órgãos aumentaram significativamente em poucos anos, atingindo 10 mil transplantes por ano num país sem um sistema de doação de órgãos.

Por anos, a comunidade internacional, especialmente os grupos de direitos humanos, tem criticado a China por usar prisioneiros executados como fonte de órgãos. O regime chinês negou a acusação sem hesitar, mas não deu qualquer explicação sobre a origem dos órgãos.

Em julho de 2005, durante a Conferência Internacional de Transplante de Fígado, Huang Jiefu, o vice-ministro da saúde da China, admitiu que a maioria dos órgãos de transplante era de prisioneiros executados. Essa foi a primeira vez que um oficial chinês admitiu isso. Huang Jiefu reiterou sua posição em outra conferência internacional em Manila em novembro de 2005.

Esta declaração não poderia ter sido decidida em nível ministerial. Alguém no topo talvez soubesse da colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong e queria dar uma explicação antes que a origem dos órgãos fosse exposta. Ou talvez o PCC simplesmente tenha sentido a pressão da comunidade internacional para explicar de onde vinham os órgãos para as dezenas de milhares de operações.

Mas o regime também enfrentou críticas em outras frentes. O próprio número de execuções anuais foi criticado como uma violação dos direitos humanos.

O Human Rights Watch estima que a cada ano, do final da década de 1990 ao início da de 2000, o número de execuções variou de 600 a 2 mil – contabilizando cerca de 80% de todos os prisioneiros executados em todo o mundo. A alegação de que os órgãos para transplante provinham de prisioneiros executados multiplicaria o número máximo de execuções por pelo menos cinco vezes.

É provavelmente que por causa disso, numa conferência de imprensa em 10 de abril de 2006, Mao Qun’an, porta-voz do Ministério da Saúde, negou o reconhecimento de seu chefe direto Huang Jiefu de que prisioneiros executados eram a fonte dos órgãos.

A história de Mao Qun’an era que a maioria dos órgãos foi doada voluntariamente por cidadãos chineses quando estavam vivos, com apenas alguns poucos órgãos de criminosos condenados à pena de morte que tinham voluntariamente assinado um termo de consentimento.

A negação durou apenas sete meses. Em 18 de novembro, a versão de língua inglesa do China Daily informou que Huang Jiefu admitiu mais uma vez que a maioria dos órgãos para transplantes era de prisioneiros executados.

O regime agarrou-se a esta declaração desde então. Parece que alguém no topo finalmente decidiu que a história dos órgãos-de-prisioneiros-executados era uma escolha melhor do que a história dos órgãos-de-doadores-inexistentes.

A mudança de posicionamentos estava obviamente relacionada com a exposição da colheita forçada de órgãos de pessoas vivas feita em março de 2006, uma história revelada pelo Epoch Times. O regime foi forçado a dar um passo atrás e fez a afirmação pouco mais plausível de que prisioneiros executados eram a fonte principal dos órgãos.

Desde a publicação de julho de 2006 do relatório investigativo ‘Colheita Sangrenta’ de David Kilgour e David Matas, o regime chinês se manteve quase em silêncio absoluto sobre o assunto, exceto por dizer que a China proíbe a venda de órgãos humanos sem consentimento escrito.

Quadrilhas de tráfico de órgãos

No entanto, este ano, em meio ao escândalo de Wang Lijun-Bo Xilai, o regime fez alguns movimentos estranhos que o aproximaram de revelar a fonte dos órgãos utilizada em milhares de operações de transplante.

Em 4 de agosto de 2012, o Ministério da Segurança Pública anunciou que a polícia tinha desmembrado 28 quadrilhas de tráfico de órgãos. Em 9 de setembro, a revista Caixing publicou um artigo descrevendo em detalhes o julgamento de um desses casos.

Este artigo afirmava que um criminoso chamado Zheng Wei tinha organizado uma rede. A rede de Zheng Wei procurava um potencial doador de órgãos que queria vender um de seus rins, preparava uma instalação para a colheita do órgão, adquiria os documentos falsos do tribunal, incluindo o certificado de execução falso ou verdadeiro e o termo de consentimento assinado e transportava o órgão.

Os rins finalmente apareciam na sala de cirurgia de um hospital dos mais proeminentes, o Hospital 304 do Exército da Liberação Popular (ELP), que é o 1º Hospital Afiliado do Hospital Geral do ELP, também conhecido como Hospital 301. Todos os líderes chineses são tratados neste hospital.

Para um criminoso comum, um membro de uma gangue de rua, criar um sistema de transplante de órgãos sofisticado por si mesmo seria quase impossível.

Segundo o procurador, Zheng Wei só esteve envolvido no negócio da colheita ilegal de órgãos por três anos. Obviamente, ele não tem o conhecimento, o poder ou as conexões para estabelecer esse tipo de sistema de fornecimento de órgão.

Zheng Wei apenas preencheu uma brecha existente no sistema. Três anos antes, Zheng Wei se encontrou com o principal cirurgião de transplante do Hospital 304. O cirurgião se queixou com ele que não podia atender a cota que o hospital atribuiu a ele devido à falta de órgãos. O contingente é geralmente definido de acordo com a produção do ano anterior.

Seis ou sete anos antes, os centros especializados de transplante de órgãos e hospitais encheram a internet com suas propagandas. Muitos prometiam um tempo de espera de duas a quatro semanas. Parecia que havia fontes ilimitadas de órgãos na China na época.

Se Zheng Wei começou seu negócio em 2009, então, uma escassez de órgãos para transplante já tinha se tornado um problema na ocasião.

A única explicação para a escassez de órgãos é que, após a exposição da colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong, o regime ou alguém da liderança tentou reduzir ou parar a retirada de órgãos de praticantes do Falun Gong, pelo menos em locais que poderiam ser facilmente investigados e expostos. A cadeia de abastecimento de órgãos aparentemente inesgotável foi quebrada, deixando uma lacuna para criminosos comuns preencherem.

O artigo do Caixing pode ser considerado uma resposta à questão que o regime nunca respondeu formalmente: De onde vieram os órgãos? O caso de Zheng Wei admitiu a existência do tráfico de órgãos, o envolvimento de um hospital militar e outras atividades ilegais que o regime já havia negado. Este foi mais um passo em direção à divulgação.

Bode expiatório

Em 28 de setembro, a mídia porta-voz do regime Xinhua anunciou que Bo Xilai, um membro desgraçado do Politburo, foi expulso do PCC e seria julgado num tribunal por “crimes graves”.

Nesse mesmo dia, dois dos mais populares websites de microblogue na China, o Sina e o Tencent, discretamente levantaram a censura sobre o termo ‘colheita ao vivo’, ou ‘huozhai’ em chinês. Nos últimos anos, especialmente, este termo tem se referido à colheita de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong.

Anteriormente, durante o escândalo de Wang Lijun e Bo Xilai, o Baidu e o Weibo levantaram a censura de alguns termos “sensíveis” algumas vezes. Esses termos foram cuidadosamente selecionados, incluindo ‘4 de junho’ (referindo-se ao massacre na Praça da Paz Celestial [Tiananmen]) e ‘falso fogo’ (um documentário premiado que desmascara a alegação de que praticantes do Falun Gong tinham se imolado na Praça Tiananmen em 23 de janeiro de 2001).

Mas nesses casos o levantamento da censura não durou muito tempo como ocorreu após 28 de setembro.

Liberar seletivamente as palavras censuradas é uma maneira fácil de enviar uma mensagem. Em vez de dar às pessoas o acesso pleno à informação, liberar algumas palavras censuradas na China permite que as pessoas vejam os resultados da pesquisa sem serem capazes de ler o conteúdo.

Alguns dias atrás, o Boxun, um website de notícias em língua chinesa baseado fora da China, citou uma fonte em Pequim dizendo que “o crime da colheita de órgãos de pessoas vivas que os praticantes do Falun Gong tem questionado é mais ou menos verdade”.

De acordo com a fonte do Boxun, o crime ocorreu sob o escudo do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos e foi realizado por Gu Kailai, a esposa de Bo Xilai. Tanto a Rádio França Internacional como o Apple Daily de Hong Kong republicaram esta notícia, mesmo que não tenha sido verificada por outras fontes.

A fonte também afirmou que, após o escândalo de Bo Xilai vir à tona, o ex-líder chinês Jiang Zemin criticou Bo Xilai por “crimes contra a humanidade” e por “ultrapassar a linha mais baixa da humanidade”.

Jiang Zemin iniciou a perseguição ao Falun Gong. Ele próprio é culpado de crimes contra a humanidade e é responsável pela colheita de órgãos.

Quando o regime percebeu que as atrocidades não podiam ser escondidas, ele procurou fabricar explicações: Os órgãos vieram de prisioneiros executados. Não, espere, o crime organizado está envolvido no tráfico de órgãos.

Ao mesmo tempo, aqueles na liderança que querem parar a colheita de órgãos liberaram informações, fazendo os responsáveis cada vez mais desconfortáveis.

Agora, Jiang Zemin e talvez outros estão tentando encontrar um bode expiatório para sacrificar. Se a exposição da atrocidade é inevitável, então, é preciso ser rápido em escolher alguém. Bo Xilai parece ter sido o sorteado.

Enquanto isso, o regime comunista como um todo faz o controle de danos, buscando por meio de desculpas, vazamentos ou bodes expiatórios estender a vida do PCC. É tudo um castelo de cartas que começa a cambalear.

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Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.