Regime chinês acoberta atrocidades, dizem pesquisadores

08/11/2012 01:58 Atualizado: 20/04/2014 21:27
Ministério que coordena novo sistema de doação de órgãos não tem autoridade sobre hospitais militares
Instrumentos cirúrgicos usados numa operação de transplante de rim. (Brendan Smialowski/AFP/Getty Images)

Promessas recentes de líderes médicos da China, de que o país se desvencilhará dos órgãos transplantados de prisioneiros executados, estão sendo observadas criticamente por pesquisadores e um grupo de defesa médica.

No início de novembro, um oficial médico chinês sênior disse ao Bulletin, a principal publicação da Organização Mundial de Saúde, que a China eliminaria progressivamente a dependência de prisioneiros no corredor da morte para transplantes de órgãos no próximo ano.

As observações foram recebidas com algum alarde na imprensa, mas elas merecem muito mais atenção crítica, segundo os ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’ (DAFOH), um grupo de defesa da saúde baseado em Washington.

“Os DAFOH estão preocupados que as mudanças anunciadas sejam destinadas principalmente a apaziguar a comunidade internacional, enquanto os abusos de transplante de órgãos antiéticos continuarão em segredo”, disse o grupo num comunicado de imprensa enviado na noite de 5 de novembro.

Uma grande parte da atividade da colheita de órgãos que ocorre na China é realizada secretamente pelas forças de segurança e pelo aparato militar-médico. Dezenas de milhares, possivelmente mais, de tais transplantes foram realizados desde a década de 90, tendo como alvo os prisioneiros da consciência.

Segundo os pesquisadores, na década de 90, uigures foram os primeiros mortos por seus órgãos e, em seguida, a partir de 2000, um ano após o início da perseguição ao Falun Gong, praticantes do Falun Gong detidos foram alvo. Mais de 60 mil adeptos teriam sido mortos, efetivamente executados no processo de tirada dos órgãos.

Como não houve reconhecimento público ou reparações para essas práticas abusivas de transplante, os pesquisadores questionam a fundação do novo sistema supostamente ‘limpo’.

Doação voluntária e registro

Wang Haibo, diretor do ‘Centro de Pesquisa do Sistema de Resposta para Transplante de Órgão’ do Ministério da Saúde chinês, disse ao Bulletin, “É hora da China seguir adiante e desenvolver um sistema de doação de órgãos ético e sustentável.”

Ele disse que o uso de prisioneiros no corredor da morte para órgãos “não é ético ou sustentável” e que não há um consenso entre os profissionais de transplante na China para acabar com a prática.

A Sociedade da Cruz Vermelha da China, uma organização afiliada ao governo, foi nomeada pelo Ministério da Saúde para estabelecer e operar o sistema de doação de órgãos.

O Centro de Estudo de Doenças do Fígado no Hospital Queen Mary da Universidade de Hong Kong foi designado para gerir o Registro de Transplante de Fígado da China, que registraria todos os transplantes de fígado na China.

Não foi dado um prazo rígido para quando prisioneiros executados deixarão de ser utilizados por seus órgãos e Wang Haibo não explica como será confirmado que a prática de colher órgãos de prisioneiros cessou.

Questões de transparência

O Registro do Fígado em Hong Kong não é administrado de forma transparente, segundo David Matas, coautor de um livro de 2009 que examina como praticantes do Falun Gong são alvo da colheita forçada de órgãos.

Em 2009, Matas foi capaz de acessar dados do registro e se referiu a eles em sua pesquisa para indicar tendências em transplantes de rim realizados na China. Por volta de 2010, o acesso público à informação foi interrompido e assim permanece até agora.

Matas disse numa entrevista por telefone que quando questionou Wang Haibo sobre a razão para este maior segredo num assunto público no Congresso Internacional da Sociedade de Transplante em agosto 2010 em Vancouver, Wang Haibo disse que não queria que os dados fossem utilizados de maneiras que ele desaprovava por indivíduos como Matas. “Essa é a antítese do livre acesso à informação”, disse Matas.

Uma ligação para o escritório de Wang Haibo chamou sem resposta na manhã de 7 de novembro.

De acordo com um esquema no website, o processo de registro é iniciado por centros de transplante em toda a China. Não está claro se este processo de entrada voluntário captura operações ilícitas de transplante de órgãos ou como as atividades da indústria militar-médica na China seriam dissuadidas pela iniciativa do Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde não tem autoridade sobre hospitais militares na China.

Durante anos, os serviços de segurança e os hospitais militares têm colhido órgãos de prisioneiros políticos, em sua maioria praticantes do Falun Gong, enquanto que o regime chinês ataca os críticos que tentam expor essa prática bárbara.

Grande parte da cobertura da mídia sobre a nova iniciativa evitou este contexto.

‘Salto’ ou acobertamento?

Na entrevista do Bulletin, Wang Haibo disse, “Eu estou otimista de que a China possa saltar para o sucesso num período relativamente curto de tempo, devido à combinação de apoio governamental e experiência internacional.”

Ethan Gutmann, um jornalista investigativo que tem realizado desde 2006 uma pesquisa sobre o envolvimento dos serviços de segurança da China no comércio de órgãos, pensa que a ideia de que a China poderia saltar seus atos passados apresenta uma perspectiva sombria.

“O Sr. Wang Haibo quer que aceitemos que a China pode ‘saltar’ para um sistema de transplante ético puramente por meio da vontade burocrática, como se a coleta de órgãos chinesa pudesse ser apagada como um caso vestigial do subdesenvolvimento e do feudalismo chinês irritante”, escreveu Gutmann em resposta por e-mail.

Ele continuou, “A culpa pela execução médica secreta de dezenas de milhares de dissidentes políticos e religiosos – o Falun Gong, uigures, tibetanos e cristãos – não pode ser colocada sobre o povo chinês ou mesmo sobre o sistema de saúde. A culpa é do próprio Partido Comunista Chinês.”

A pesquisa de Gutmann descobriu que os uigures, tibetanos e praticantes do Falun Gong têm sido alvo da colheita de órgão realizada pelo complexo militar-médico que trabalha com os serviços de segurança.

“Isso não é uma reforma médica de forma alguma. É um acobertamento, uma tentativa descarada de mudar de assunto, uma tentativa de ganhar tempo para enterrar um crime contra a humanidade, para deixar a grama fazer o seu trabalho”, escreveu Gutmann.

“O ‘salto’ a que se refere Wang Haibo está ocorrendo sobre a enorme vala comum de 65 mil pessoas. E o Partido Comunista Chinês está realizando esta manobra repugnante à vista de todo o mundo.”

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Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.