Refugiados sírios são peões em guerra brutal

20/07/2013 13:39 Atualizado: 20/07/2013 13:39
Uma refugiada síria com uma criança na cidade libanesa de Sidon. O êxodo de refugiados sírios acelerou dramaticamente nos últimos meses (Mahmoud Zayyat/AFP/Getty Images)

O número de refugiados sírios continua a crescer a um ritmo alarmante e sem perspectiva de fim para aqueles afetados pelo conflito. O que torna sua situação ainda mais dolorosa é que todos os países envolvidos direta ou indiretamente no conflito, Rússia, Estados Unidos, China, Irã, Grã-Bretanha e França, até agora têm relutado em aceitar os refugiados nos próprios países. Em vez disso, os refugiados sírios têm sobrecarregado os serviços sociais e de saúde em países vizinhos como Líbano e Jordânia.

De acordo com António Guterres, alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o número de pessoas que foge do conflito atingiu uma média de 6 mil por dia em 2013, uma taxa não vista desde o genocídio de Ruanda há quase duas décadas.

Nawaf Salam, embaixador do Líbano na ONU, alertou que o número de refugiados sírios que entram no Líbano poderia ultrapassar 1 milhão até o final de 2013 e poderia ter consequências graves na capacidade dos serviços sociais de fornecer ajuda aos necessitados. Como o Líbano tem uma população de cerca de 4 milhões, esse número seria o equivalente a 47,5 milhões de refugiados vindo para o Brasil.

“A pressão aumenta e as necessidades dos refugiados sírios podem superar as capacidades do Líbano”, disse o embaixador. Enquanto ele pedia ao Conselho de Segurança da ONU para ajudar a lidar com a situação, ele afirmou que o Líbano “não fechará sua fronteira na frente dos refugiados que fogem da violência e destruição e não deixará de prestar ajuda”. Também preocupante, disse Salam, é o “aumento do fogo cruzado transfronteiriço e das incursões da Síria no Líbano que ameaçam a segurança e a estabilidade do Líbano”.

Alguns países já estão restringindo a renda dos refugiados sírios. Tal é o caso do Egito. De acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), os sírios que vão para o Egito agora estão sendo repelidos. A mudança na política do Egito segue o que também está acorrendo no Iraque, Turquia e Jordânia, todos os quais estão tentando conter o fluxo de refugiados.

A Convenção de 1951 das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados estabeleceu os direitos dos refugiados e as obrigações de acolhimento dos países. Embora o Egito seja signatário, sua mais recente decisão contraria os princípios do tratado e o princípio de refoulement (repulsão), segundo o qual “Nenhum dos Estados contratantes expulsará ou repelirá um refugiado de qualquer maneira para as fronteiras dos territórios onde sua vida ou liberdade esteja ameaçada em virtude de sua raça, religião, nacionalidade, pertença a um determinado grupo social ou opinião política.”

O medo de que os refugiados sírios também tragam problemas políticos levou países como o Iraque a fecharem suas fronteiras aos refugiados que chegam. “Basicamente, o governo cita preocupações de segurança e medo de transbordamento do conflito sírio para o Iraque como a principal justificativa de sua política”, afirmou Natalia Prokopchuk, uma oficial do ACNUR em Bagdá.

Estima-se que 5 milhões dos 21 milhões de cidadãos da Síria foram deslocados dentro do próprio país. Além disso, quase 7 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária na Síria. Com base nas tendências de chegada previstas desde o início de 2013, estima-se agora que 3,45 milhões de refugiados sírios necessitarão de assistência até o final do ano.

Mais da metade dos refugiados que foge da Síria são crianças, traumatizadas pelo conflito que as deixou sem casa, família e apoio social de amigos e parentes. Muitas crianças afetadas pelo conflito precisarão de suporte psicológico em longo prazo, pois podem experimentar Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

A situação de saúde das crianças refugiadas pode ser afetada de outras formas. Como afirmou Maria Calivis, diretora regional da UNICEF para o Oriente Médio e o Norte da África: “Sem água potável suficiente e saneamento, a probabilidade aumentará de que as crianças na Síria e as que vivem como refugiadas pela região adoeçam de diarreia e outros males.” Além disso, cerca de 2 milhões de crianças no interior das fronteiras da Síria correm o risco de não receberem vacinas fundamentais e outros cuidados médicos críticos.

O que o escritor norte-americano Frederic Prokosch escreveu sobre Aleppo em seu famoso romance “Os asiáticos”: “Aleppo era uma cidade grande e terrível”, agora pode ser aplicado a todos desse país sofrido. Como Valerie Amos, chefe humanitária da ONU, afirmou claramente: “O mundo não está assistindo apenas a destruição de um país, mas também de seu povo.”

O Dr. César Chelala é um consultor internacional de saúde pública

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