Reformista cruza espadas com facção linha dura no sul da China

29/05/2012 04:30 Atualizado: 29/05/2012 04:30

O reformista Wang Yang opõe-se à facção linha-dura do PCC numa reunião política na província de Guangdong em março de 2010. (Liu Jin/AFP/Getty Images)O regime comunista da China normalmente exige de seus membros certa brutalidade e adesão à linha do Partido, e o desvio muitas vezes pode ser fatal para o oficial infrator. Mas na agitada província de Guangdong, o secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) na região, Wang Yang, está ganhando atenção como um aparente reformador aberto de novas formas de fazer as coisas.

No entanto, isso não se coaduna com outros oficiais, satisfeitos em manter o status quo e a impulsiva gana de poder do PCC. Wang se alinhou estreitamente com o atual líder Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao, este último tendo indicado que deseja ver a China gozar de maior liberdade. Mas isso representa uma ameaça aos oficiais que já construíram suas carreiras reprimindo o povo chinês.

Agora, figuras principais da “facção das mãos ensanguentadas” estão enfrentando censura. Esses oficiais subiram na hierarquia sob o ex-líder Jiang Zemin pelo zelo demonstrado em executar os comandos de Jiang para suprimir a prática de meditação tradicional chinesa do Falun Gong.

A província de Guangdong tornou-se um importante campo de batalha em meio à tempestade política na liderança do PCC. É aqui que Hu e Wen têm testado as reformas para uma China melhor, e aqui que os membros remanescentes da facção das mãos ensanguentadas têm se posicionado para bloquear esses esforços.

Hu e Wen já tomaram medidas para restringir Zhou Yongkang, o oficial mais alto hierarquicamente da facção linha-dura. Zhou, chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL) do regime chinês, presidiu o aparato onipresente da segurança pública do regime, milhões de policiais regulares e paramilitares, tribunais, o sistema judiciário, etc. Supostamente, Zhou foi forçado a entregar as rédeas do poder do CAPL a um ex-subordinado e agora estaria sendo investigado.

Isso não se coaduna com dois dos aliados mais poderosos de Zhou, o atual chefe de propaganda Li Changchun e o chefe do Congresso Nacional Popular, Zeng Qinghong. O par tem operado nos bastidores para neutralizar os movimentos de Hu e Wen na esperança de vingança e autopreservação.

Liberdade de imprensa versus propaganda

Li agora está usando sua posição como chefe de propaganda para manipular a mídia em Guangdong contra Wang antes do 18º Congresso Nacional que deve ocorrer no final deste ano. No congresso, sete dos nove membros do todo-poderoso Comitê Permanente do Politburo serão substituídos, incluindo Zhou e Li. As informações vazadas ao Epoch Times por uma fonte bem colocada indicam que o Congresso poderia marcar o começo do fim do regime comunista, o que torna a disputa por posições antes do Congresso fundamental para todos os envolvidos.

Li recentemente enviou Tuo Zhen, o vice-presidente da agência estatal de notícias Xinhua, uma porta-voz do PCC, para assumir a direção do Departamento de Propaganda de Guangdong. O vice-diretor de propaganda de Li, Yang Jian, também da Xinhua, assumiu como secretário do Partido do Grupo de Mídia do Sul e os 11 jornais controlados pelo grupo na província de Guangdong.

O Diário Oriental de Hong Kong informou que a recente mudança na liderança foi forçada sobre Wang por altos oficiais do Partido.

Com oficiais adversários agora no controle de grande parte do cenário midiático de Guangdong, Wang já está sendo pressionado. Wang tem sido defensor de uma imprensa mais livre, e os jornais no sul da China, que incluem os de Guangdong, são conhecidos por serem ousados e francos em seus artigos. Wang tem incentivado a imprensa a ajudar a investigar a corrupção, algo que a maioria dos oficiais trabalha por manter enterrado.

“Nós temos de encorajar os repórteres a visitarem secretamente e reportarem sobre fábricas e vendedores de produtos falsificados. Devemos também arranjar pessoas da Segurança Pública para protegê-los”, disse Lin Ying, o vice-secretário-geral de Wang em Guangdong, em 7 de maio. Ying disse que os jornalistas precisavam de proteção para que possam “investigar mais profundamente e expor os fatos com mais precisão”.

Mas o que Wang quer ver exposto à luz do dia, Li quer manter nas sombras. Após o Diário Metropolitano do Sul publicar recentemente um relatório franco sobre produtos químicos falsificados, o Departamento de Propaganda agiu contra Wang e forçou o jornal a retirar o artigo.

O relatório expôs uma fábrica secreta na cidade de Huizhou, onde oficiais do governo local apreenderam 70 toneladas de agentes aceleradores de coagulação falsificados usados para construir o sistema de metrô de Dongguan. O proprietário da fábrica também supervisiona o projeto, e ajudou a vender os produtos químicos.

O artigo foi tirado do ar poucas horas após a publicação. Fontes no Diário Metropolitano do Sul revelaram que a pressão veio de “cima”, sugerindo que o Departamento de Propaganda da cidade de Dongguan e da província de Guangdong ordenaram a exclusão. De acordo com o informante, tais ordens têm sido raras para o jornal.

A censura é provavelmente o primeiro sinal dos esforços de expansão de Li para bloquear Wang e obstruir a agenda de abertura aparente de Hu-Wen.

Facção “conservando as aparências”

Ao mesmo tempo, Wang tem batido cabeças com a linha dura do governo da cidade de Shenzhen em sua própria província.

Em 11 de maio, o Primeiro Diário Financeiro publicou um editorial intitulado “Wang Yang critica o processo de reforma de Shenzhen: Paixão ardente pelos anos passados desvanece”.

Segundo o editorial, Wang Yang criticou a reforma econômica de Shenzhen por perder seu ímpeto no 11º Congresso do PCC em Guangdong. Ele disse que sem uma reforma econômica sustentável para a economia de mercado, Shenzhen gradualmente perderá os avanços que fez.

No mesmo dia, o Diário Metropolitano do Sul publicou um editorial no qual o secretário do Partido em Shenzhen, Wang Rong, refutou rispidamente Wang Yang. “Nós não concordamos com a recente declaração de que o entusiasmo de Shenzhen pela reforma está diminuindo. Se a reforma na década de 80 precisou apenas de coragem, uma reforma agora também precisa de sabedoria”, disse Wang Rong conforme citado.

De acordo com as regras silenciosas do PCC, seria incomum para Wang Yang dirigir críticas diretas contra seus camaradas, mas o desafio de Wang Rong também foi incomum. Comentaristas sugeriram que eles estão agindo como intermediários, lutando um contra o outro a mando de seus chefes de facção.

Sem brincadeira para o CAPL

Guangdong tornou-se um campo de batalha em grande parte porque Wang Yang bloqueou o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL) do Comitê Permanente de Guangdong, de acordo com o defensor da democracia e dissidente chinês Song Yuxuan. “A principal razão para a facção das mãos ensanguentadas pôr os pés na província de Guangdong é que, numa recente mudança da liderança, Wang Yang excluiu o CAPL local do Comitê Permanente de Guangdong. Este foi considerado o primeiro disparo do plano de Hu e Wen para purgar o CAPL como um todo.”

Com Zhou sob controle, a facção das mãos ensanguentadas já não tem o controle de uma alavanca fundamental do poder dentro do regime. Isso força Li a usar sua posição como chefe de propaganda para lutar contra Hu e Wen.

Não foi a primeira vez que Li Changchun tenta estragar o esforço de outros oficiais controlando a opinião pública através da mídia. Como ex-secretário do Partido em Guangdong, depois que ele foi promovido a chefe de propaganda, ele emparelhou com seu sucessor em Guangdong e iniciou uma severa limpeza no Diário Metropolitano do Sul. O vice-editor-chefe foi preso sob acusações de crime econômico e condenado a 8 anos, uma sentença que Wang Yang reverteu quando assumiu o poder na província. Wang também libertou outros que haviam sido presos.

Reformador político

Nos últimos dias, a posição de Wang como um forte defensor das diretrizes de Wen pela reforma política inclui réplicas ousadas ao dogma sancionado pelo PCC e à posição do Partido na China. Enquanto isso, suas reformas ameaçam oficiais corruptos.

Há alguns dogmas seletos do Partido que formam seu argumento central de legitimidade, incluindo a ideia de que não há nenhuma nova China sem o PCC e que tudo que é bom e glorioso na China decorre diretamente do Partido.

Em 9 de maio, Wang rejeitou completamente isso no 11º Congresso na província de Guangdong. “Devemos romper a noção equivocada de que a felicidade das pessoas é conferida pelo Partido e pelo governo”, disse eles aos atendentes.

Em 13 de maio, ele também declarou que “aquele que procura o ganho para si mesmo usando seu poder será denunciado pelo público. Nosso poder é dado pelo povo, e só pode ser usado para lutar por benefícios para o povo.”

No dia seguinte, em 14 de maio, Wang virou de cabeça para baixo uma parte do dogma hipócrita do PCC numa maneira chinesa que a oratória do PCC impregnada de duplicidade entenderia muito bem. Wang disse à imprensa que reportava sobre o Comitê Permanente da província de Guangdong que “às vezes pode ser razoável para um mestre apontar as coisas para seus servos”. A propaganda do Partido proclama incessantemente que o povo chinês é o mestre e os oficiais são servidores do povo. Wang jogou com esta conhecida alegoria aparentemente para encorajar os dissidentes a expressarem suas preocupações.

Mas são os esforços de Wang para atacar a corrupção que provavelmente têm deixado os oficiais preocupados. Wang declarou recentemente planos para fazer de Guangdong a primeira província onde seria obrigatório para os oficiais do PCC e funcionários do governo declararem seus bens, uma reforma chocante considerando a dimensão da corrupção na China e quantos oficiais de alto escalão serão afetados.

Dias futuros

Guangdong continuará sendo interessante nos próximos dias enquanto forças rivais na China se posicionam para o próximo Congresso Nacional. Enquanto o futuro de Wang depende em parte dos sucessos se seus aliados superiores Hu e Wen no movimento de reforma, o resultado de derrubar alguns dos oficiais mais brutais no regime comunista chinês sinaliza um bom augúrio.