Rede de crédito na província de Zhejiang da China desmorona

02/08/2012 03:00 Atualizado: 02/08/2012 03:00

O distrito financeiro de Pudong em Shanghai em 1º de novembro de 2011. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)600 empresas privadas enfrentam dificuldade financeira

Cerca de 600 empresas privadas na China estão enfrentando uma crise de crédito. Esta crise foi desencadeada pelo colapso de duas empresas entrelaçadas numa estrutura de garantia mútua de crédito em Hangzhou, a capital da província oriental chinesa de Zhejiang.

De acordo com o jornal de negócios chinês ‘21st Century Business Herald’, essas 600 empresas escreveram recentemente uma carta as autoridades provinciais em busca de fundos de resgate de emergência.

Conforme relatado pelo ‘21st Century Business Herald’ em 17 de julho, os problemas financeiros imprevistos dessas 600 empresas resultaram numa reação em cadeia provocada pelo colapso de duas grandes corporações baseadas em Hangzhou, a ‘Zhongjiang Holding Co. Ltda.’ e a ‘Tianyu Construção Co. Ltda.’

O relatório disse que as empresas em Zhejiang haviam criado uma rede de garantia mútua de crédito para satisfazer as exigências de fiador, enquanto conseguiam empréstimos de bancos e instituições financeiras.

Após o colapso da Zhongjiang e da falência da Tianyu, os bancos em Hangzhou começaram a cobrar os empréstimos concedidos a muitas empresas ligadas à rede, afetando mais de 600 empresas ligadas à Zhongjiang ou à Tianyu em Hangzhou.

O volume total de empréstimos no esquema de garantia de crédito é estimado em cerca de 10 bilhões de yuanes (1,56 bilhão de dólares). Se os bancos continuarem a cobrar seus empréstimos de cada empresa na cadeia, essas empresas podem enfrentar uma grave crise de liquidez.

Por um lado, elas podem não ser capazes de reembolsar o empréstimo imediatamente ou fornecer garantia adequada no caso dos empréstimos terem sido garantidos pela Zhongjiang ou pela Tianyu.

Por outro lado, essas pequenas e médias empresas não podem prover as perdas que os bancos incorreram no crédito concedido à Zhongjiang ou à Tianyu se eles atuaram como fiadores de crédito para qualquer uma das duas companhias.

O relatório diz que um funcionário do Departamento Financeiro Provincial de Zhejiang confirmou a notícia sobre a carta das 600 empresas afetadas na área de Hangzhou.

A carta contém dois pedidos. O primeiro apela às autoridades provinciais e locais para formarem uma equipe de coordenação para resolver rapidamente esta crise de crédito de forma eficaz. Entre as autoridades estão o governo provincial de Zhejiang, a Comissão Provincial Econômica e Informativa de Zhejiang, o Departamento Provincial Financeiro de Zhejiang e o Escritório de Zhejiang da Comissão de Regulação Bancária da China.

O segundo pedido é que o governo da província de Zhejiang deveria mediar com os bancos para prevenir que cobrem os empréstimos. Os bancos podem então ser persuadidos a usar as amortizações dos empréstimos já coletados para temporariamente refinanciarem as empresas na cadeia de garantia mútua.

Desta forma, o grupo de empresas com problemas temporários de liquidez poderia continuar a operar. Além disso, o governo deveria negociar com os bancos para que nos próximos três anos eles não reduzam os limites de empréstimos a essas empresas.

Efeito dominó

Patrick Chovanec, professor de economia da Universidade de Tsinghua em Pequim, explicou como a falha súbita da companhia Tianyu produziu o efeito dominó de inadimplência que está puxando para baixo cada membro da rede de garantia mútua e, portanto, devastando também seus credores.

Na rede de garantia de crédito na província de Zhejiang, disse Chovanec, a empresa A agiu como fiador da empresa B, e alguma subsidiária da empresa B acabou atuando como fiador da empresa A.

Se uma das empresas foi à falência, os bancos estariam preocupados com os empréstimos que fizeram a outras empresas fiadoras da empresa falida, por isso, os bancos acabaram cobrando os empréstimos de cada elo da cadeia. Essas empresas interligadas podem ter empréstimos garantidos com mais empresas, sinalizando problema para outras empresas também.

Chovanec citou um artigo de 26 de junho do Caixin que diz que 62 empresas de fabricantes de móveis para comerciantes de importação-exportação foram afetadas em graus variados pela falência do desenvolvedor de imóveis ‘Tianyu Construçao Co. Ltda.’ no final de 2011.

O colapso do grupo Zhongjiang é outro gatilho para toda a pilha de garantias mútuas desabar, ameaçando numerosos bancos e empresas.

De acordo com um relatório de 9 de julho da revista financeira chinesa Caixin, a Zhongjiang continuou emprestando vários bilhões de yuanes de bancos para seus investimentos e aquisições, incluindo 3 bilhões de yuanes (470 milhões de dólares) das filiais de Zhejiang do Banco de Construção da China (BCC). Este grupo empresarial também deve outros bancos e 68 companhias cerca de 5 bilhões de yuanes (780 milhões de dólares). A insolvência final da Zhongjiang sugou seus credores numa crise financeira severa.

Yu Zhongjiang, o presidente da Zhongjiang, foi detido pela polícia por solicitação ilegal de fundos em 14 de junho, segundo o artigo do Caixin. Yu também enfrenta acusações de ter forjado pedidos de empréstimo. O caso envolve um total de 8 bilhões de yuanes (1,25 bilhão de dólares) em dívidas.

Quem é o responsável?

De acordo com o Caixin, um analista de crédito disse que os bancos de Zhejiang confiaram cegamente nos fiadores dos empréstimos sem qualquer escrutínio. Alguns gerentes da empresa culparam os bancos de serem gananciosos durante períodos de acesso fácil ao crédito, mas de recuarem ao primeiro sinal de problemas.

“Os proprietários de negócios de Zhejiang foram viciados pelo acesso fácil ao crédito, especialmente em 2008 e 2009”, disse um gerente de crédito de um banco.

“A natureza recíproca da rede de garantia retirou qualquer valor das garantias de empréstimos bancários. O sistema fez todos os seus participantes mutuamente vulneráveis a um desastre econômico”, disse outro banqueiro.

Em entrevista ao Epoch Times, uma fonte do ‘Grupo Carleo Co. Ltda.’ admitiu que seu grupo está entre as 600 empresas que pediram apoio financeiro provincial. Ela disse que todas as empresas se esforçam por um melhor ambiente de negócios e desejam que os bancos flexibilizem as regras de empréstimo; que “isto é o que cada empresa deseja”.

Cheng Ping, um especialista em negócios do Distrito Xiaoshan de Desenvolvimento de Hangzhou, disse ao Epoch Times que a situação real das empresas numa economia lenta é ainda pior.

“Muitas pequenas e médias empresas em Hangzhou enfrentaram dificuldades estratégicas e operacionais meio ano atrás”, disse Cheng. “Agora, está ainda mais difícil. Nos primeiros anos de desenvolvimento e expansão, as pequenas empresas exportadoras adquiriram grandes empréstimos para comprar terrenos e equipamentos e construir fábricas. Agora, tornou-se impossível para elas lidarem com contenção financeira.”

Mas mesmo que as 600 empresas recebam assistência, Chovanec salientou que, “Resgates, quando eles acontecem, não fazem as perdas irem embora, eles simplesmente as impõem a outros, o entrave ao crescimento permanece.”