Enquanto este mês marcou o segundo aniversário desde o início da revolta na Líbia, o país ainda luta com as ramificações de sua revolta e as dificuldades de reconciliação após o violento conflito. Milhares de líbios permanecem deslocados por tensões étnicas desencadeadas pela revolução.
A cidade de Tawergha é talvez o exemplo mais pungente da condição de refugiado que muitos líbios experimentaram: agora ela é uma verdadeira “cidade fantasma”, seus moradores foram obrigados a se refugiar em outros lugares devido às batalhas catastróficas entre forças do antigo regime e rebeldes que ocorreram na área.
Os cerca de 30-40 mil moradores desabrigados de Tawergha continuam a ser impedidos de voltar para suas casas devido a preocupações de segurança. Os poucos que tentaram retornar teriam sido interrompidos por brigadas de Misrata que “ameaçaram matá-los e queimar o resto de suas casas”, segundo o Lybia Herald.
Tawergha fica ao longo da estrada entre o centro da cidade costeira de Sirte – último reduto de Muammar Kadafi e local onde ele nasceu e morreu – e a cidade noroeste de Misrata, reduto rebelde que se levantou em rebelião em fevereiro de 2011. Como resultado da sua proximidade, Tawergha foi ocupada por forças de Kadafi e usada como base pelas forças do regime para operações militares contra a cidade vizinha de Misrata.
A tensão entre as duas cidades continua alta, pois os residentes de Tawergha e Misrata sofreram as consequências dos confrontos violentos. Misratanes acusam os tawerghanes de compactuar com Kadafi, participar em suas operações militares contra Misrata e cometer crimes de guerra, como estupro e pilhagem.
Há também um elemento racial dessa tensão, pois tawerghanes normalmente têm pele mais negra e muitas das forças de Kadafi eram compostas por mercenários africanos, bem como líbios.
A represália aos tawerghanes foi rápida após a queda de Kadafi, com as forças misratanes lançando uma série de ataques à cidade, que a Anistia Internacional caracterizou como limpeza étnica. A infraestrutura da cidade está consideravelmente danificada, até mesmo inabitável, como resultado dos rebeldes terem capturado a cidade em agosto de 2011, o que precipitou vastos incêndios, tiroteios e ataques aéreos da OTAN. Mais tarde, Tawergha foi saqueada e pilhada por forças anti-Kadafi e o sinal verde para a cidade foi vandalizado com grafite “Misrata”.
O vice-premiê líbio Awad Barasi anunciou recentemente planos para tratar estes cidadãos deslocados internamente, reunindo-se com ministros para discutir soluções para o problema. Sem o apoio do Estado, há pouca chance de que a reconciliação e a paz duradoura sejam alcançadas entre estes grupos deslocados e seus vizinhos.
Leslie Garvey é estagiário na Foreign Policy in Focus. Copyright Foreign Policy in Focus (fpif.org).
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