A história por trás do oficial do Partido Comunista acusado de planejar um golpe de Estado
As agressões aos praticantes do Falun Gong em 20 de julho de 1999 nas ruas de Dalian foram brutais, segundo o website Clearwisdom.net, associado ao grupo espiritual. Milhares de praticantes se reuniram para solicitar a libertação de companheiros de prática presos na noite anterior e, desde então, começou oficialmente em Dalian a campanha nacional de extermínio ao Falun Gong, comandada pelo então líder chinês Jiang Zemin.
Os praticantes formaram quatro linhas na calçada de pedestres perto da sede do governo local e deram as mãos numa manifestação pacífica. Por volta das 7h da manhã, os policiais começaram a atacar. Os praticantes foram tirados da linha e cercados por vários policiais que os chutavam e socavam, além de usarem cassetetes de borracha e bastões elétricos. A violência continuou durante todo o dia e os policiais continuavam chegando de outras regiões para reforçar e prosseguir o trabalho. Num Audi preto, não muito longe do local, estava o prefeito Bo Xilai, assistindo o espetáculo, segundo o jornalista Jiang Weiping.
Depois de publicar um artigo acusando Bo Xilai de corrupção, Jiang Weiping foi condenado em 2002 por revelar segredos de Estado e incitar subversão. Liberado em 2009, ele mora atualmente no Canadá com sua família. Ele havia recebido em 2001 o prêmio internacional pela liberdade de imprensa do ‘Comitê para a Proteção dos Jornalistas’ (CIJ).
Num artigo publicado em 2009, Jiang Weiping cita o motorista de Bo Xilai, chamado Wang, que escutou Bo Xilai dizer a um chefe de polícia, “Esses praticantes do Falun Gong são realmente unidos e eficazes. Nós certamente devemos detê-los e violentá-los. Você deve espancá-los sem piedade. Eles merecem isso e, se forem espancados até a morte, o governo assumirá a responsabilidade.”
As razões de Bo Xilai
Bo Xilai era até pouco tempo o chefe do Partido Comunista Chinês (PCC) na megalópole de Chongqing. Ele foi demitido de suas funções na semana passado após um escândalo envolvendo seu braço-direito Wang Lijun, que, visivelmente temendo por sua vida, fugiu para o consulado norte-americano em Chengdu. Considera-se que Wang Lijun tenha dado informações comprometedoras sobre Bo Xilai aos EUA, incluindo um plano de golpe de Estado.
Em 1999, Bo Xilai tinha 51 anos e, embora prefeito da segunda maior cidade da província de Liaoning, estava à margem da elite do PCC.
Bo Xilai tinha suas razões para exigir um tratamento brutal contra o Falun Gong. De acordo com o jornalista Jiang Weiping, Jiang Zemin disse a Bo Xilai, “Se você mostrar severidade na questão do Falun Gong, assim como Hu Jintao [o atual presidente chinês] foi severo com os protestos no Tibete em 1989, isso será seu capital político.”
Bo Xilai sabia que Jiang Zemin tinha ligações sólidas com seu pai Bo Yibo, um dos “oito imortais” do PCC. O exemplo de Hu Jintao, que já tinha sido nomeado sucessor de Jiang Zemin na época, sugeria a Bo Xilai que um dia ele poderia também comandar o PCC se jogasse corretamente suas cartas.
Em todo o caso, Jiang Zemin precisava de aliados para conduzir sua campanha contra o Falun Gong, uma disciplina espiritual que depois de introduzida na China em 1992 cresceu rapidamente em popularidade.
Numa carta de 25 de abril de 1999 endereçada ao Politburo, Jiang Zemin argumentou a favor da repressão ao Falun Gong, pois temia sua popularidade. O número de praticantes, estimado em 100 milhões na época, tinha excedido os membros do Partido Comunista e ele temia que os chineses preferissem os ensinamentos do Falun Gong à ideologia do PCC.
A decisão de Jiang Zemin de perseguir o Falun Gong não era comum a todos. Segundo um artigo publicado em 2011 pela revista Frontline de Hong Kong, o Comitê Permanente do Politburo e sua própria família se opuseram a essa decisão. Então, ele teve de “unificar” (que no jargão do PCC significa impor sua vontade) as opiniões dos membros do comitê para lançar sua campanha.
A perseguição conduzida por Bo Xilai
Jiang Zemin fez Bo Xilai ascender rapidamente. Enquanto ainda era prefeito de Dalian, Bo Xilai se tornou governador interino de Liaoning em 2000 e governador em 2001. Em 2002, Bo Xilai foi nomeado para o Comitê Central do PCC. Em 2004, ele se tornou ministro do comércio. Enquanto isso, as cidades de Dalian e Liaoning se transformaram num inferno para os praticantes do Falun Gong.
Segundo o jornalista Jiang Weiping, Bo Xilai inspecionava as prisões, os centros de detenção e campos de trabalho no fim de cada mês. Jiang Weiping também afirmou que Bo Xilai havia dito a policiais que mesmo que os praticantes do Falun Gong pratiquem verdade, compaixão e tolerância, assim que tiverem o poder, eles nos matarão e nós é que seremos aprisionados. Então, nunca sejam gentis com eles, teria dito Bo Xilai.
Sob a autoridade de Bo Xilai, as instalações prisionais, incluindo os campos de trabalho forçado de Masanjia, Dalian, Zhangshi e Longshan, eram conhecidas por sua brutalidade e inovação em matéria de tortura. Masanjia e Dalian também eram conhecidas por casos frequentes de violência sexual.
Em 2001, o relator especial da ONU sobre a violência contra a mulher informou que, em outubro de 2000, 18 praticantes do Falun Gong encarceradas em Masanjia foram jogadas nuas nas celas de criminosos masculinos, onde foram estupradas. O relator também informou que as mulheres em Masanjia recebiam choques elétricos em seus órgãos genitais e seios.
No entanto, os responsáveis pela tortura eram recompensados. Segundo a ‘Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong’ (WOIPFG), o oficial encarregado da ala feminina de Masanjia recebeu um prêmio de 6 mil dólares e seu auxiliar 3 mil dólares. Outros funcionários de Masanjia também receberam bonificações, assim como os oficiais nos campos de Zhangshi e Longshan.
Além dos prêmios em dinheiro, os campos também receberam elogios oficiais. O campo de trabalho forçado de Dalian foi qualificado pelo PCC como uma das “instituições mais progressistas” devido a suas “famosas façanhas em matéria de reforma”. O serviço de polícia de Dalian recebeu o prêmio de “melhor desempenho” na repressão ao Falun Gong.
Bo Xilai não poupou gastos no desenvolvimento de instalações para intensificar a perseguição. Segundo a WOIPFG, a província de Liaoning investiu 112 milhões de dólares em três anos, começando em 2002, para desenvolver o sistema carcerário em toda a província. Mais de 60 milhões de dólares foram gastos em Masanjia, transformando o campo na primeira cidade-prisão da China, ocupando 1,4 km². A capacidade de Masanjia foi aumentada para comportar 10 mil prisioneiros.
Extração de órgãos
O pesquisador Ethan Gutmann descreveu a província de Liaoning como o “epicentro” da colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong. Wang Lijun, que antes de Bo Xilai convocar para Chongqing tinha sido chefe de polícia na cidade de Jinzhou em Liaoning, gabou-se de ter supervisionado milhares de transplantes quando recebeu um prêmio por contribuir com avanços na área. Sua contribuição consistia em desenvolver uma droga que paralisava a vítima ao invés de matá-la, permitindo a extração de órgãos em melhor estado.
Bo Xilai enfrenta 14 processos em 13 países por tortura, genocídio e crimes contra a humanidade. Em 2007, esse fardo deteve sua ascensão na hierarquia do PCC. Quando a facção de Jiang Zemin quis colocar Bo Xilai como vice-primeiro-ministro para desta forma suceder o atual premiê Wen Jiabao, este se opôs enfatizando que os processos internacionais contra Bo Xilai o impediriam de exercer satisfatoriamente uma função com maior exposição internacional, segundo um informe diplomático norte-americano revelado via WikiLeaks. Bo Xilai foi então enviado para Chongqing para ser secretário do PCC na região.
Longe de se sentir desmotivado pelo rebaixamento, Bo Xilai redobrou seu ímpeto na perseguição ao Falun Gong em Chongqing. Ele trouxe o “letal” Wang Lijun consigo para ser seu chefe de polícia e anunciou que atingiria as metas de “transformar” os praticantes do Falun Gong em dois anos, antecipando os três anos estipulados pelo PCC. “Transformar” aqui significa fazê-los abandonar suas crenças por meio de métodos como lavagem cerebral, trabalhos forçados, torturas, etc.
Com pesquisa de Jane Lin.
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