Recessão permanente na Europa

28/05/2013 20:32 Atualizado: 28/05/2013 20:32
O presidente francês Francois Hollande numa conferência de imprensa no Palácio Elysee em Paris em 16 de maio de 2013, um dia após seu primeiro aniversário no governo ser perturbado por notícias de que a França voltou à recessão com indicadores econômicos em queda (Patrick Kovarik/AFP/Getty Images)

Agências de estatísticas europeias relataram que a França juntou-se às recessões da Itália e Espanha no primeiro trimestre e que a atividade econômica em toda a zona do euro continua a se contrair.

A camisa de força imposta pela aliança proposta pelo euro parece indicar um experimento fracassado numa moeda comum mal planejada, medidas de austeridade exageradas e reformas hesitantes e inadequadas do mercado de trabalho, gerando contração econômica contínua em toda a zona do euro.

O PIB da Europa caiu 0,2% no primeiro trimestre de 2013, após uma queda de 0,6% no quarto trimestre de 2012, e vem caindo há seis trimestres.

A Alemanha tem crescido arrastadamente – o PIB cresceu um escasso 0,1%, após cair 0,7% no quarto trimestre. A situação da Europa seria semelhante à Califórnia estar em ponto morto, enquanto o resto dos Estados Unidos andar para trás – profundamente!

Na França, o investimento está afundando como uma pedra – novos gastos de empresas não financeiras caíram 0,8%, após uma queda de 0,7% no quarto trimestre. Reformas inadequadas do mercado de trabalho, instintos protecionistas e virulentos e um governo socialista sem rumo na França, juntamente com um euro que está sobrevalorizado para grande parte da economia francesa, estão repelindo os negócios.

Mesmo que os gastos do consumidor estejam quase planos, medidas de austeridade e fraco investimento afundaram o PIB em 0,2% no primeiro trimestre, após uma perda similar no quarto trimestre.

Dados da Itália contam uma história triste semelhante, o PIB caiu 0,5%, depois de cair 0,9% no quarto trimestre. Em outra parte, o desemprego na Espanha e na Grécia permanece em níveis alarmantes.

Fora da zona euro, o Reino Unido escapou por pouco de uma recessão – o PIB do primeiro trimestre subiu modestos 0,3%, após cair um valor similar no trimestre anterior.

Para a zona do euro, o aspecto positivo é que a contração no primeiro trimestre não foi tão grave como no quarto trimestre e fragmentos de dados recentes sobre a atividade econômica da primavera tem sido um pouco menos desanimadores no Norte – indicando que o desfalecimento da primavera nos EUA pode ser espelhado por alguma moderação no mal-estar europeu.

A Alemanha e outros países do norte são muito dependentes do Sul para exportar seus produtos industriais e são bem favorecidos pelo euro, que tende a ser subestimado para suas economias segundo os preços atuais, enquanto sobrevalorizado para a região sul.

Essencialmente, o euro impõe um desalinhamento dos preços dos produtos industriais e de serviços negociados, fazendo com que o Norte pareça mais competitivo do que seus fundamentos permitiram de outra forma e que o Sul se desempenhe mal. Além da austeridade, agarrar-se ao euro torna improvável uma recuperação sustentável na Grécia, Espanha, Portugal e regiões alinhadas com o Sul na Itália e França.

No Sul, as reformas do mercado de trabalho e a queda dos salários não pode prosseguir rápido o suficiente para atrair novos investimentos enquanto a moeda comum existir, colocando a região em permanente recessão-depressão.

Essa é uma receita para uma recessão permanente em toda a Europa ou pelo menos uma estagnação prolongada semelhante ao destino do Japão ao longo das últimas décadas.

Longos períodos de gastos de capital fracos ou em declínio deixarão a indústria europeia permanentemente desatualizada e terminalmente não competitiva. Embora bolsões no núcleo industrial do Norte da Europa venham a prosperar – como a Fiat e empresas similares localizadas na Liga Norte da Itália – de maneira geral, a Europa prosseguirá em declínio.

Eventualmente, os rendimentos e padrões de vida em economias mais robustas na Ásia – Coreia do Sul e China urbanizada – ultrapassarão aqueles em segmentos importantes da Europa.

Peter Morici é economista e professor da Escola de Negócios Smith da Universidade de Maryland, EUA, e um colunista amplamente divulgado.

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