Após a disputa de soberania com o Japão sobre as ilhas Diaoyu e atritos com os EUA sobre o exercício militar da Coréia do Sul-EUA, a desvalorização do Yuan está atraindo os holofotes novamente sobre ao regime chinês.
Em 29 de setembro, a Câmara do Senado norte-americano aprovou uma lei, com votação de 348-79, que visa impor tarifas punitivas sobre as exportações chinesas.
O projeto precisa passar pelo Senado antes de ser promulgado pelo presidente Barack Obama. No entanto, resta saber se o projeto passará pelo Senado antes das eleições de novembro.
Duas visões diferentes existem na China sobre a valorização do Yuan: uma é o consequente aumento no preço dos bens de exportação que acarretaria uma desaceleração das exportações. Por outro lado, seria benéfico, sabendo que isto tornaria a matéria-prima importada e os bens de consumo mais baratos, assim freando a inflação. A apreciação implicaria também num poder de compra do Yuan cada vez maior, e as empresas melhorando sua produtividade e capacidades tecnológicas para atender às necessidades domésticas. Isto pode de fato ajudar a economia chinesa.
No epicentro da questão da valorização do Yuan está a manipulação do regime de câmbio. A moeda estrangeira não é livremente conversível na China. Assim, o regime chinês pode, com uma taxa de câmbio fixa, usar o Yuan para comprar o afluxo de dólares dos EUA.
Quando o Yuan se torna escasso, a China pode literalmente ligar as máquinas e imprimir mais notas. Isto resulta em duas consequências anormais. Uma, a depreciação que resulta de muitas notas em circulação, e outra, uma valorização externa da moeda, o chamado fenômeno de “apreciação externa e depreciação interna”.
De fato, o crescimento anual da moeda em circulação é superior a 20% na China, e o povo tem sofrido as consequências desta grave inflação. Se o regime chinês tenta controlar este Frankenstein através do controle de preço das commodities, isto pode levar à escassez das commodities e a outro grande desastre.
Uma vez que, aparentemente, há vantagens em valorizar o Yuan, por que exatamente o regime está relutante em fazê-lo? As razões são tanto políticas quanto econômicas.
Para o regime chinês, as taxas de câmbio são uma alavanca diplomática para usar contra os Estados Unidos e, simultaneamente, um instrumento de propaganda para manipular os sentimentos patrióticos dos chineses.
Durante a viagem do presidente chinês Hu Jintao aos EUA, ele disse que a China fará avançar a reforma do sistema de câmbio baseada em suas próprias necessidades e desenvolvimento econômico e social, e jamais “sucumbiria a pressões externas”.
Ao abordar a Assembleia Geral da ONU de 2010, o Premiê chinês Wen Jiabao afirmou que qualquer flutuação drástica na taxa de câmbio do Yuan pode levar à “instabilidade social”. Mas, o que Wen está preocupado é que a “agitação” possa resultar no colapso do regime comunista chinês, em oposição ao problema do desemprego.
Nenhuma taxa de câmbio poderia causar “tumultos sociais” numa sociedade normal. A declaração de Wen Jiabao indica que o controle do regime sobre a sociedade é cada vez mais frágil e teme que qualquer mudança possa desencadear uma reação que conduziria ao fracasso.
Uma vez que o Yuan sofra apreciação, as exportações vão diminuir, o investimento estrangeiro vai diminuir, e o crescimento econômico vai abrandar. Isto pode esmagar a economia chinesa, que está apoiada no investimento estrangeiro. Uma economia instável, cheias de bancos em crise, com o mercado de ações em colapso, e a frágil condição de sua sociedade serão totalmente revelados.
A bolha do chamado crescimento econômico, pela qual o regime tem devastado o meio ambiente e os recursos da China, vai estourar. Em outras palavras, o medo do regime não é a valorização do Yuan em si, mas que isto possa levar a uma situação incontrolável, a um buraco negro econômico, a um forte conflito social entre o regime e o povo, e ao provável colapso do regime.
O regime comunista chinês tem sempre se focado em benefícios de curto prazo, e o que interessa com esta política é garantir sua permanência no poder, ou, no jargão do regime, garantir a “estabilidade social”, nunca os interesses do povo.
A valorização do Yuan pode aliviar a pressão inflacionária, mas talvez toque em mais problemas enraizados na China de hoje. No entanto, o desemprego causado pela valorização do Yuan seria iminente. Uma vez que o prazo dos atuais dirigentes comunistas se conclui em dois anos, eles querem sair enquanto o público está firmemente sob controle.
Que interesses o regime está servindo que podem ganhar o apoio imediato do público; isto significaria focar em questões mais iminentes, como um sério declínio das exportações e desemprego em massa.
Da mesma forma, apesar de uma valorização substancial poder impedir o influxo de investimentos, ela pode ajudar a manter o crescimento contínuo dos preços dos imóveis, o crescimento do produto interno bruto (PIB), e manter, por um período ligeiramente mais prolongado, a ilusão de crescimento econômico e confiança das pessoas nas políticas do regime chinês.
A regra do regime comunista tem levado a uma estrutura de exportação de produtos de baixo custo, falta de inovação independente ou marcas de qualidade. A China tem dependido do baixo custo para manter as exportações nestes últimos 30 anos, e não pode suportar o impacto de um aumento de preços.
O Japão, quando uma vez experimentou dificuldades similares na “apreciação externa e depreciação interna”, resolveu a pressão sobre a valorização do Iene através da modernização industrial e construção de produtos de marca.
O regime não está disposto a aumentar os salários por meio da legislação, o que geraria a valorização do Yuan. A razão fundamental para a exportação de produtos baratos da China é a mão de obra barata sob o comando do regime. O fator interno da manutenção de produtos a baixos preços das exportações chinesas são os baixos salários mantidos pelo regime; o custo de trabalho da China continua a 4% dos Estados Unidos.
O que define a distribuição de renda do povo chinês é o processo político. A economia da China tem duas características importantes: primeiro, o crescimento total dos salários está muito aquém do crescimento do PIB, e, por outro lado, os salários no estrato inferior da classe trabalhadora crescem lentamente. Uma das razões é que o regime controla os recursos políticos para a distribuição de riqueza, o que mantém o seu poder político. Outra razão é que o público chinês não pode influenciar a política nacional através do voto, como nos países democráticos.
Assim, a manutenção de “empregos escravizantes” e da miséria são necessários para o regime manter sua fachada de progresso. A valorização do Yuan pode forçar a sociedade chinesa a mudar para outro paradigma, algo benéfico para a China em longo prazo, mas algo que o regime teme.
O autor é um analista político sênior da NTDTV.