Rearranjo da liderança militar da China

23/08/2012 18:04 Atualizado: 23/08/2012 18:04
Um guarda chinês fecha uma cortina antes de uma cerimônia de boas vindas no Grande Palácio do Povo em Pequim, em 9 de abril de 2012. (Liu Jin/AFP/Getty Images)

Hu Jintao solidifica sua base de poder militar futura

Os militares da China tem silenciosamente transferido um grande número de oficiais de alta patente e removido a maior parte dos apoiadores de Bo Xilai, um poderoso oficial recém-deposto que era preparado pela facção mais cruel do Partido Comunista Chinês (PCC) para se tornar o próximo líder chinês, situados em duas regiões-chave. Dentro de apenas um mês, houve 14 transferências de generais em Regiões Militares.

De acordo com vários relatos recolhidos pelo Diário Metropolitano do Sul, desde julho, os militares da China mudaram um grande número de generais, incluindo generais da Marinha, da Força Aérea, das Regiões Militares de Lanzhou, Guangzhou e Chengdu, do Batalhão de Hong Kong, do Departamento Geral de Logística e da polícia militar. As frotas do Mar do Sul da China e do Mar do Norte também mudaram seus comandantes-chefes. Esta é a maior remodelação dos principais oficiais militares chineses desde o massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 4 de junho de 1989.

Os ajustes mais notáveis ocorreram nas Regiões Militares de Lanzhou e Chengdu. A maioria dos generais que apoiavam Bo Xilai e o ex-líder chinês Jiang Zemin foram removidos de suas posições, uma vez que estavam ligados a um golpe de Estado que teria sido tramado por Bo Xilai e Zhou Yongkang, ambos membros da facção de Jiang Zemin. Os três se uniram num plano para tomar o poder na liderança do Partido Comunista, a fim de encobrir seus crimes em perseguir a prática espiritual chinesa do Falun Gong, segundo fontes chinesas e analistas especialistas.

Mas de acordo com um alto funcionário de Pequim, o atual líder chinês Hu Jintao, a fim de permanecer como presidente da Comissão Militar Central (CMC) do PCC e manter algum controle do poder depois de entregar o cargo de líder da China, não quer fazer muitos inimigos. Hu Jintao está usando “tratamento suave” ao lidar com Bo Xilai e Zhou Yongkang para deixar a seus apoiadores “uma saída” e tentar minimizar o impacto do tsunami político provocado pela dupla, disse um oficial à revista New Epoch em condição de anonimato.

Segundo relatos, os dois vice-presidentes e os oito membros do CMC assinaram uma petição pedindo que Hu Jintao permanecesse como presidente da CMC. Obviamente, o compromisso de Hu Jintao tem trazido benefícios para si mesmo. Esses altos oficiais envolvidos no incidente de golpe já mudaram sua postura e Bo Xilai e Zhou Yongkang não têm nenhuma influência agora, mesmo que Zhou Yongkang ainda permaneça em sua posição atual no PCC.

Quebrando o CAPL

Recentemente, uma mensagem oficial confirmou a política “relaxada no exterior, rígida no interior” de Hu Jintao e do primeiro-ministro Wen Jiabao a respeito de Zhou Yongkang. De acordo com a mídia estatal Xinhua News, desde o início de agosto, as posições de chefe de polícia das regiões provinciais e autônomas serão assumidas por funcionários transferidos de outras províncias. Esta é mais uma iniciativa depois do treinamento intensivo de 26-31 de julho de rotação dos chefes de polícia de mais de 1.400 cidades e condados para enfraquecer o impacto do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL) e, finalmente, quebrar e remodelar o CAPL.

Além disso, os comitês locais do PCC passaram por reeleições no início de julho. Houve 23 novos secretários provinciais do CAPL que não eram chefes de polícia locais, em vez disso as posições foram preenchidas por funcionários sem qualquer relação prévia com o CAPL. Anteriormente, o cargo de secretário do CAPL sempre era ocupado pelo chefe de polícia local e sua autoridade frequentemente superava a de outras autoridades policiais. Assim, o CAPL formava um segundo centro de poder na China controlado por Jiang Zemin e Zhou Yongkang.

A intenção das ações de Hu Jintao é enfraquecer este segundo centro de poder e as segundas forças armadas para evitar a possibilidade de um novo golpe.

Resultado do reposicionamento

1. A fim de estabilizar o poder, quem declarou publicamente lealdade à Hu Jintao, mesmo que tivesse alguma ligação menor com Bo Xilai, teria seu futuro garantido, pelo menos por agora. Desde que cortassem os laços com Bo Xilai, Hu Jintao usaria a política de “ignorar o passado”. É claro que o intuito desse ajuste é eliminar membros da facção de Jiang Zemin, que foram removidos ou, pelo menos, não promovidos desta vez.

2. Apesar de Hu Jintao permanecer como presidente da CMC, Xi Jinping assumirá a liderança da China em breve e Hu Jintao tem que promover o pessoal proposto por Xi Jinping. Portanto, esta remodelação da cúpula militar tem resultados positivos para Xi Jinping. O mais óbvio é a ascensão dos “príncipes”, o grupo privilegiado de descendentes de antigos líderes do PCC, incluindo o próprio Xi Jinping.

3. Na superfície, Hu Jintao banalizou o escândalo de Bo Xilai, reduzindo-o de um golpe político premeditado a um processo criminal, a fim de salvar a regime do PCC. Mas, na verdade, Hu Jintao tem vigorosamente erradicado os elementos centrais ligados a Zhou Yongkang. Mudanças, treinamento de rotação e promoções dentro do CAPL e da polícia militar visam enfraquecer Zhou Yongkang, que representa as velhas forças de Jiang Zemin e Zeng Qinghong.

4. Na superfície, o PCC ainda pode manter o poder por algum tempo e o 18º Congresso do PCC ainda poderá ser realizado como previsto. Mas um olhar perspicaz pode ver que quanto mais o PCC grita, “O partido tem a liderança absoluta sobre as Forças Armadas”, mais instável são os militares.

5. O PCC está remanejando generais em grande escala. Isso visa proteger seu próprio poder e impedir os militares de participarem num golpe político. Mas, ao mesmo tempo, a transferência frequente de generais das forças armadas também enfraquecerá o poder de combate dos militares.

6. A partir desta rodada de remanejamentos, pode-se ver que o PCC está colocando os linha-dura no Mar do Sul da China, assim, pode haver conflito militar localizado por lá, embora o PCC não queira lutar uma grande batalha. A política de defesa nacional do PCC tem sido de natureza defensiva, porque sabe que seu poder militar realmente não pode desafiar o de outras grandes potências. A menos que use armas atômicas como último recurso, a China não pode vencer guerras com armas convencionais. No Mar do Sul da China, eles apenas falam grande, mas agem pouco.

Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.