Realismo: Como a arte moderna se tornou comercializada

06/01/2015 16:14 Atualizado: 06/01/2015 16:22

O que os modernistas fizeram foi ajudar a estimular a destruição da única linguagem universal com a qual os artistas podem se comunicar em nossa humanidade. Tem sido um objetivo meu, por muitos anos, expor a verdade da história da arte moderna, e colocar em questão qualquer prática que expõe a análise da história da arte de uma maneira que, deliberadamente, suprime um entendimento válido e correto do que realmente aconteceu.

E é de extrema importância que a história do que realmente ocorreu não seja perdida para sempre devido a preconceitos e gostos transitórios de uma única era. Isso deve ser feito para que a história da arte, como um campo de estudo, não se transforme em nada mais do que documentos de propaganda, voltados para otimização do mercado de coleções valiosas, passadas adiante como forma de estoques de preservação de riqueza.

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Comerciantes de sucesso, que obtiveram grande riqueza com a venda de tais obras – obras criadas em horas, em vez de semanas – não tiveram dificuldade em alinhar com os mestres articulados da nossa língua para criar jargões complexos apresentados em todos os lugares como uma análise brilhante. Esses influenciadores de mercado trataram de assegurar a proteção financeira dessas coleções.

A tal “arte de falar”, passou a ser conhecida, e é um artifício que usa conscientemente complexas combinações de palavras complicadas para impressionar, hipnotizar e, finalmente, silenciar o instinto humano, de modo que não possamos identificar verdadeiramente o que foi falado.

Isso é realizado através de uma lavagem cerebral por meio da autoridade, confundindo as evidências de nossos sentidos pois, de outra forma, qualquer pessoa em sã consciência iria questionar tal discurso. A “autoridade” de altos cargos, a “autoridade” dos livros e de impressões, e a “autoridade” dos certificados anexados aos nomes dos principais defensores do modernismo, tudo conspirou para impressionar e humilhar aqueles que, com o mínimo de senso comum, se colocariam em oposição ao que teria sido, evidentemente, um absurdo se tivesse saído da boca de alguém sem essa preponderância de “autoridade” para apoiá-la.

O melhor termo para descrever esse fenômeno é “sugestão de prestígio”. Sempre que as pessoas ou até mesmo os nomes de produtos mostram as armadilhas e os símbolos de qualidade, valor, ou autoridade expert, as pessoas tendem a ver qualidade, valor ou importância de acordo com esses símbolos.

Por exemplo, um consumidor rico vê uma bolsa com o nome “Prada” ou “Gucci”, e automaticamente presume valor e qualidade. Talvez o preço seja US $1.800, e se a loja está em promoção e o produto está sendo vendido por US $1.200, ela vai acreditar que é um bom negócio e vai ter orgulho em usá-la em seu braço para mostrá-la aos amigos.

Pegue a mesma bolsa sem um rótulo e tente vendê-la em uma mesa nas ruas por um preço de US $80. O consumidores poderá pensar que é muito caro, e vai tentar obter um preço mais baixo, talvez ela irá comprá-la por US $40. O nome Prada e o fato de ela estar sendo vendida em lojas conhecidas tendem a dar prestígio e presumem o valor que foi sugerido na mente do consumidor.

Existe uma diferença entre o valor devido ao prestígio e o valor devido à qualidade intrínseca. Da mesma forma, pinturas com pouco valor intrínseco, que têm a assinatura de Kooning, Pollock, Rothko, ou Mondrian, são atribuídas com alto valor porque as pessoas com Ph.D ou diretores de museu nos disseram o que pensar sobre seu valor. Grandes comerciantes ou leiloeiros atribuíram estimativas de milhões de dólares para esses trabalhos, e disseram às pessoas que pagar um milhão de dólares poderia levar a um lucro de 10 milhões no futuro.

A maioria das pessoas não se sentem bem informadas sobre o que tem valor ou não quando se trata de livros de bolso, tapetes persas, ou relógios de pulso, que dirá de obras de arte. Assim, mesmo que os seus instintos dizem para rejeitar algo, eles se calam para não se exporem ao ridículo ou serem considerados ignorantes.

Uma sugestão de prestígio leva as pessoas a assumir automaticamente que uma obra deve ser grandiosa se tiver qualquer um dos “grandes nomes” da arte moderna, então eles começam a procurar a grandiosidade. Se eles não vêm grandiosidade, eles acreditam que é devido à sua ignorância ou falta de sensibilidade artística, mas nunca porque, talvez, apenas exista alguma falha na obra de arte.

Reconhecer a dúvida é tornar-se vulnerável ao ridículo e à chacota. É muito mais fácil acompanhar para conviver confortavelmente.

Os alunos que operam sob esse tipo de pressão intimidadora, você pode ter certeza, vão encontrar grandeza, não importa para o que estão olhando. O contrário disso acontece quando eles analisam pinturas acadêmicas. Eles foram ensinados que os trabalhos que exibem a renderização realista são artes “ruins” e, portanto, qualquer grandeza que se vê não é devido à qualidade na realização artística, mas sim devido a uma falta de inteligência e bom gosto no espectador.

Assim, muitos estudantes, e até professores, têm escrito cartas para nós relatando como o realismo tem sido praticamente, ou literalmente, banido de seus departamentos de arte. As observações de John Stuart Mill sobre essa questão (a tendência de não debater, confrontar, ou ignorar completamente diferentes pontos de vista) são hoje tão vivas e pertinentes como eram há 200 anos.

No entanto, relutar com alguém que tem uma opinião forte, pode abrir portas para que ela admita a possibilidade de que sua opinião pode ser falsa. Deveríamos considerar como realmente verdadeiro, aquilo que for totalmente, com frequência, e destemidamente discutido. Caso contrário, será como um dogma morto, não uma verdade viva.

Sem uma dinâmica, mantendo um círculo social exclusivo de especialistas que ensinam técnicas tradicionais de desenho e pintura, nunca será possível para os departamentos de arte da faculdade ter alunos capazes de enriquecer o debate e o ambiente acadêmico para todos os alunos através da produção de obras de arte que são capazes de expressar ideias complexas e sutis.

Proibir que essas habilidades sejam ensinadas em qualquer profundidade real é tão ridículo como ter um departamento de música que se recusa a ensinar o ciclo das quintas, ou só ensina três ou quatro notas, a partir das quais eles insistem que toda música deve ser composta.

Se não têm nada para se envergonhar de seus métodos de ensino e de seus resultados, eles dariam boas vindas à oportunidade de confrontar as ideias que eles deveriam estar bem equipados para refutar. Eles têm o dever solene de manter a integridade do pensamento que tornou possível o que tem sido transmitido a eles, elaborado por esses artistas, escritores e pensadores do século 19 e antes, que estabeleceram um sistema em que a liberdade de pensamento iria prevalecer.

E onde é mais importante conceder esses princípios do que em faculdades e universidades, que estão treinando a próxima geração de líderes? Mesmo que eles não concordem, eles têm o dever de expor a seus alunos pontos de vista responsáveis e opostos.

Esta é a Parte 10 de uma série de 11 partes do discurso proferido por Frederick Ross, no dia 07 de fevereiro de 2014, apresentado no Artists Keynote Address to the Connecticut Society of Portrait Artists. Frederick Ross é presidente e fundador do Art Renewal Center (www.artrenewal.org)

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