A primeira-dama americana Michelle Obama chegou com sua mãe e duas filhas em Pequim em 19 de março, iniciando um “intercâmbio pessoal” cuidadosamente programado de uma semana entre os Estados Unidos e a China. Para a primeira-dama, cuja anfitriã é Peng Liyuan, a esposa do líder chinês Xi Jinping, o foco da viagem é a educação, e nada de política, segundo a Casa Branca.
Assessores da sra. Obama dizem que a visita visa a contrastar com conversações oficiais em nível presidencial. Destacando a necessidade de entendimento entre a juventude americana e chinesa, a primeira-dama promoverá programas de intercâmbio educacionais. Chineses compõem a maior proporção de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos, os seus números estão em torno de 200 mil. Em contraste, apenas 20 mil norte-americanos estão atualmente estudando na China, um número que Washington pretende aumentar.
“Seu foco em relações pessoais, seu foco na educação e capacitação da juventude é algo que acreditamos que repercutirá na China”, disse Benjamin J. Rhodes, vice-conselheiro de segurança nacional, numa coletiva com jornalistas.
“Se os jovens americanos forem capazes de compreender a China, capazes, por meio de nossos intercâmbios educacionais, de estudar na China, isso será uma experiência inestimável para um dos principais atores da economia global”, acrescentou.
A chefe de pessoal chinês-americana Tina Tchen para a sra. Obama disse que a visita multigeracional seria apelativa ao senso de tradição chinesa.
Ao mesmo tempo, com Washington e Pequim em confronto sobre desacordos envolvendo temas como comércio, ciberespionagem, reivindicações territoriais e direitos humanos, e à luz da próxima reunião de cúpula nuclear entre o presidente Obama e o secretário-geral Xi Jinping, evitar completamente a política será um desafio, ou um erro.
“Embora as intenções aqui possam ser boas, esta é uma interpretação terrivelmente errada sobre a China, a política internacional e o lugar vital da América no mundo”, escreveu Claudia Rosett, da Fundação para a Defesa das Democracias, um instituto de reflexão de Washington DC. “A China é um dos piores violadores mundiais dos direitos humanos e seu governo tem influência sobre mais de 1,3 bilhão de pessoas – mais de um sexto da humanidade”, disse Rosett.
A sra. Obama evitar problemas como a censura, desaparecimentos forçados, tortura, confissões forçadas e discriminação étnica provavelmente mostrarão a China que “a América é uma potência em decadência – cada vez menos disposta a lutar pelos próprios valores”, argumenta Rosett.
Talvez a América possa esperar, pelo menos, que os sorrisos da sra. Obama encantem os chineses um pouco mais pelos Estados Unidos.
“Os jovens chineses não entendem muito sobre a América… Anos de propaganda tendenciosa criaram uma mentalidade de ódio entre os jovens chineses de baixa escolaridade”, disse o economista Wang Fuzhong, num comentário no Weibo, um site de microblogue chinês. “A visita de Michelle ajudará os jovens a conhecer melhor os países uns dos outros.”
Embora a ênfase da sra. Obama no tema benigno da educação seja típica para primeiras-damas, esposas de presidentes anteriores, 14 das quais foram à China, têm por vezes sido francas sobre questões sensíveis.
Em 2008, quando o presidente Bush participou das Olimpíadas de Pequim, a primeira-dama Laura Bush visitou um campo de refugiados perto da fronteira tailandesa e birmanesa para chamar a atenção sobre os birmaneses deslocados pelo governo autoritário de seu país e apoiado pela China. E em 1995, numa conferência em Pequim, Hillary Clinton pronunciou-se contra os maus-tratos sofridos pelas mulheres na China.
Talvez, no entanto, a viagem de Michelle Obama não fique sem qualquer referência a questões sensíveis. Um item incluído no itinerário é uma refeição num restaurante tibetano em Chengdu, capital da província de Sichuan, sul da China, em 26 de março.
Hua Po, um comentarista político em Pequim que frequentemente fala em questões de direitos humanos, apresentou um ângulo positivo para o significado potencial desta refeição, em entrevista à Rádio Som da Esperança. “Ela usa este método para aumentar indiretamente a consciência sobre a questão tibetana, os direitos humanos no Tibete, o modo de vida dos tibetanos, e assim por diante.”