Líderes de partidos de oposição na Câmara dos Deputados questionaram nesta quinta-feira (17) a hospedagem do ditador de Cuba, Raúl Castro, na Granja do Torto, residência oficial de campo da Presidência da República. A oposição pretende pedir informações ao Itamaraty e à Secretaria-Geral da Presidência da República sobre a deferência especial ao líder cubano.
A hospedagem de Castro estava sendo tratada como segredo de Estado pelo governo brasileiro, mas o fato foi confirmado por duas fontes do governo. Em Brasília para o encontro da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) com o presidente da China, Xi Jinping, Castro foi o único dos chefes de Estado a se hospedar na casa de campo utilizada pela presidente Dilma Rousseff.
Na manhã desta quinta-feira, o ditador cubano recebeu na Granja do Torto o colega venezuelano Nicolás Maduro. “É uma distinção inexplicável e injustificável”, criticou o líder da bancada do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA). O tucano lembrou que o ditador cubano, em eventual dificuldade de encontrar hospedagem em Brasília, poderia optar pela Embaixada de seu país.
Imbassahy informou que o PSDB vai encaminhar requerimento ao Ministério de Relações Exteriores questionando os custos e a falta de transparência do governo brasileiro. O tucano quer saber se, além da hospedagem, o governo brasileiro teve outros gastos, como transporte do ditador cubano e sua comitiva, além dos motivos pelos quais a estada de Castro foi mantida em sigilo pelo Palácio do Planalto.
Outro requerimento será apresentado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados para que o ministro Luiz Alberto Figueiredo esclareça o alinhamento entre Brasil e “países de regimes ditatoriais”. “Depois que deu dinheiro para construção de um porto (de Mariel), supriu o caixa do governo cubano com os recursos do Programa Mais Médicos, o Palácio do Planalto oferece agora mais um mimo especial”, atacou o deputado.
O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), também criticou o tratamento diferenciado ao cubano e chamou a Granja do Torto de “Embaixada da Ditadura no Brasil” e de “hospedaria de ditador latino-americano”. “Essa distinção por Cuba, depois de ter criado um programa de importação de médicos para financiar a ditadura cubana, garante a Raúl Castro tratamento concedido apenas para outro ditador, o presidente da Venezuela e afilhado político de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, nesses 12 anos de governo do PT”, afirmou.
“Essa simpatia por Cuba faz eco com o alinhamento do governo petista ao Foro de São de Paulo, união de países de cunho populista, autoritário e bolivariano, caso da Ilha dos Castro, da Venezuela e da Bolívia”, afirmou. Na opinião do líder do DEM, a deferência só aconteceu porque há uma “sintonia” ideológica entre os dois governos. “Nunca vi a Dilma fazer essa distinção a governos democráticos”, emendou.
Além do requerimento pedindo informações ao Itamaraty, o DEM deve cobrar explicações da Secretaria-Geral da Presidência da República, responsável pela administração dos palácios e residências presidenciais. Já o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), destacou que os demais líderes procuraram hospedagem própria e não precisaram da ajuda do governo brasileiro.
Em sua visão, o episódio demonstra o alinhamento político do administração petista com o governo da ilha e o aparelhamento do bem público. “É o DNA do PT de aparelhar a coisa pública para uso ideológico”, avaliou.
A Secretaria de Imprensa da Presidência da República informou que cedeu a Granja do Torto atendendo a um pedido do próprio dirigente cubano. Raúl Castro chegou em Brasília na noite de quarta-feira para participar na quinta-feira de uma reunião com o presidente da China, Xi Jinping, e os integrantes da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).