R.P. da China admite que o crescimento econômico depende do mercado imobiliário

03/11/2010 00:00 Atualizado: 03/11/2010 00:00

Os preços das casas continuam a subir, e as casas já estão se tornando inacessíveis para os trabalhadores da classe média e média alta. (Getty Images)

A bolha imobiliária continua a crescer e milhões de residências, escritórios e centros comerciais estão vazios

“Bens imobiliários, não a expansão industrial” têm sido a chave para o rápido crescimento econômico da China nos últimos anos, afirma um relatório divulgado em 25 de outubro de 2010 pela Academia Chinesa de Ciências Sociais.

O “Livro azul de Pequim” diz que o crescimento econômico alcançado pela China nos últimos 20 anos não é devido a sua capacidade industrial, mas ao consumo de seus recursos naturais e aos investimentos em expansão, especialmente a forte expansão do mercado imobiliário.

O relatório assinala que a atual estrutura industrial da China não é competitiva, algo que deve ser corrigido imediatamente.

Chen Pokong, um importante comentarista sobre a economia chinesa, acredita que a declaração é válida. “Nos últimos 30 anos, a ‘política de abertura e reforma’ na China tem se caracterizado por grandes entradas e poucas saídas; altos custos e baixa eficiência”, diz ele.

“O crescimento econômico tem-se baseado no setor manufatureiro, consumindo grandes quantidades de recursos e energia. Será difícil sustentar um modelo deficiente”, argumentou Chen.

Esta situação é agravada pela corrupção generalizada. A conivência de funcionários do partido local com agentes imobiliários, e a construção de projetos face-saving (projetos que tentam salvar a própria imagem) que acabam sendo inúteis, tem criado uma “imensa bolha” na economia, admitiu ele.

Os preços dos imóveis continuam a subir, e as casas já estão se tornando inacessíveis para os trabalhadores da classe média e média alta. E conclui, “Depois de ajustar os resultados do desenvolvimento imobiliário, o crescimento econômico na China é muito duvidoso.”

O Dr. Cheng Xiaonong, um economista que mora nos EUA, disse que durante as últimas duas décadas, o crescimento econômico da China veio de dois setores: investimentos em infraestrutura civil (incluindo bens imobiliários) e exportações.

No entanto, durante os últimos seis ou sete anos, as exportações não cresceram quase nada, e o consumo interno caiu para 30% do PIB. Então, as autoridades recorreram ao desenvolvimento indiscriminado de projetos imobiliários e ao investimento em infraestrutura, como novos edifícios de escritórios para funcionários do Partido, múltiplos depósitos, represas e estradas.

“Dezenas de milhões de casas vazias; é uma perda”, disse Chen, acrescentando que a incessante construção tem contaminado o meio ambiente, e desperdiçado energia e recursos em larga escala.

“Isto também faz o crescimento econômico da China perder a melhor oportunidade para a reestruturação econômica. A competitividade industrial da China, na realidade, não melhorou”, diz Cheng.

De uma perspectiva ampla, tanto Cheng Xiaonong quanto Chen Pokong concordam que o crescimento econômico da China é insustentável, a estrutura econômica será cada vez mais frágil, e os problemas vão agravar-se.

Os autores do “Livro azul de Pequim”, no entanto, são muito mais otimistas. Eles dizem que a China está cheia de potencial, que está se tornando um dos países mais fortes do mundo, e prevê que em 2050 será o país com maior competitividade nacional, um passo atrás apenas dos Estados Unidos.

A Academia Chinesa de Ciências Sociais é uma das principais instituições ideológicas do Partido Comunista Chinês. Parte de seu objetivo é propagar as políticas e opiniões do sistema a partir de uma perspectiva acadêmica sobre uma vasta gama de questões sociais.