Na segunda-feira, na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no Noroeste da China, o governo da cidade de Kashgar anunciou a punição de 15 funcionários locais por crimes como “ter crença religiosa”, “recrutar trabalhadores religiosos” e “participar em atividades religiosas”, segundo a mídia estatal chinesa.
Enwaer Tursun, o prefeito e vice-secretário do Comitê do Partido Comunista Chinês (PCC) em Kashgar, uma cidade importante na região de Xinjiang, anunciou que os 15 quadros do PCC estavam envolvidos em 8 casos de violação da “disciplina política”. Isso inclui medidas inibitórias contra ter crenças religiosas ou “participar publicamente em atividades de adoração”, disse o prefeito na segunda-feira, durante uma conferência política.
O prefeito Tursun também criticou alguns funcionários pela “atitude ambígua e lentidão durante os projetos antiterrorismo”. Alguns funcionários, segundo ele, inclusive “difundiram informação religiosa prejudicial na internet”. Essas violações graves teriam minado a unidade da nação, “causado um impacto extremamente vil” e ignorado a correta “postura política básica”.
Os 15 funcionários receberam reprimendas públicas e avisos, e oito deles foram demitidos de seus cargos de liderança no Partido Comunista ou de seus empregos públicos. Um funcionário foi colocado sob investigação por possuir “livros eletrônicos [e-books] religiosos ilegais”.
Mais de 800 líderes de diversos escalões do PCC e do governo participaram da reunião. No autêntico e distintivo formato do comunismo chinês, 5 dos 15 ‘malfeitores’ subiram ao palco e encenaram suas confissões e autocrítica no final da sessão.
O sexo, idade, etnia ou orientação religiosa dos funcionários não foi esclarecido nas reportagens oficiais, mas a população nativa de Xinjiang, alguns dos quais identificam a região como Turquestão Oriental, é um grupo de língua turca chamado uigur, que pratica uma forma de islamismo. Assim, é provável que os funcionários punidos sejam uigures muçulmanos.
Se for esse o caso, a punição ostensiva dos funcionários não ajudará a aliviar as tensões étnicas e religiosas em Xinjiang, que têm sido palco de trágico derramamento de sangue e conflitos nos últimos anos. Os uigures vivem frustrados com o que eles chamam de regime colonialista chinês na região, onde o Partido Comunista é visto como invasor e explorador da região de Xinjiang para o benefício exclusivo do regime e da população chinesa han local, dando pouca ou nenhuma atenção à cultura e às tradições dos nativos.
Essa frustração é o pano de fundo de uma série de ataques terroristas nos últimos anos, assim como protestos pacíficos, e da repressão brutal do Partido Comunista. Recentemente, grupos uigures afirmaram que milhares de pessoas foram chacinadas pelas forças de segurança chinesas num município na região de Xinjiang.