Os 100 bilhões de euros (126,3 bilhões de dólares) de resgate do setor bancário espanhol não foram recebidos favoravelmente por alguns investidores, enquanto outros sugerem que foi um passo na direção certa.
“Perdoe meu ceticismo, mas não vejo muitos problemas. Em primeiro lugar, 100 bilhões de euros não serão suficientes. Embora as estimativas atuais estejam mais próximas de 40 bilhões de euros (se você perguntar aos espanhóis), o JP Morgan estima que seja mais provável algo em torno de 350 bilhões. Outros estimam mais ou menos, mas 100 bilhões de euros é decididamente otimista”, sugere um artigo do website ‘The Market Oracle Ltd.’.
Em questão está no fato de a Espanha terá de continuar emprestando. Por um lado, o governo espanhol deixou de incluir cerca de 35% de suas perdas em suas projeções. “Até mesmo as autoridades espanholas estão reconhecendo que há outros 35% de persas do mercado imobiliário, que é a principal origem das perdas. E parece que isso NÃO foi incluído”, disse o Market Oracle.
Onde está o dinheiro do resgate?
Outra questão importante é que “não está claro exatamente como este resgate (vamos considerá-lo sem rodeios) acontecerá. […] Tenho certeza que há um plano coerente aqui em algum lugar, mas não posso encontrá-lo”, disse o Market Oracle.
Analistas numa série de artigos sugerem que o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Banco Central Europeu (BCE) possam estar envolvidos no financiamento. Mas “o FMI não está envolvido nem o BCE”, sugere um artigo recente do ‘Phoenix Capital Research LLC’.
O FEEF não parece ser uma fonte de financiamento possível, segundo o Phoenix Capital. Os investidores do FEEF aparentemente insistem que os títulos emitidos pelo FEEF sejam assegurados ou eles não arriscarão fazer o investimento. E o MEE, como discutido abaixo, ainda está sendo esboçado e levará algum tempo para ser formado.
Então, considere que “a Espanha e Itália representam 30% do suposto ‘financiamento’ da MEE. […] Cerca de um terço do capital do fundo de megaresgate virá de países que estão em falência e que já estão pedindo resgate (Espanha) ou estarão em breve (Itália)”, segundo o Phoenix Capital.
O FEEF, formado em maio de 2010, foi criado para prestar apoio aos países fracos da zona do euro. O FEEF emite títulos e os investidores incluem a maioria das instituições, como bancos, fundos de pensão, bancos centrais, fundos soberanos e companhias de seguros. O FEEF está autorizado a emprestar até 440 bilhões de euros (555,9 bilhões de dólares) e garantir até 780 bilhões de euros (985,3 bilhões de dólares).
O MEE, previsto para se tornar um mecanismo permanente de gerenciamento de crise, substituirá o Mecanismo de Facilitação da Estabilidade Financeira Europeia e o Mecanismo de Estabilização Financeira Europeia, com data de lançamento estimada para julho de 2013.
Reação em progresso
“Quais as consequências disso? (a Irlanda já está clamando por uma reescrita de suas regras de resgate)”, pergunta um artigo recente do Phoenix Capital.
Caso o FEEF ou o MEE sejam usados, pode haver uma reação de outros países carentes, como a Grécia, Portugal e Irlanda, que podem pedir renegociações dos acordos que fizeram. Além disso, os holandeses e finlandeses aconselharam que não querem que os fundos existentes sejam dados à Espanha. Aparentemente, o primeiro-ministro espanhol era adepto de conseguir os termos do resgate através dos negociadores alemães.
Pouco antes de as negociações de resgate começarem, Mariano Rajoy, o primeiro-ministro da Espanha, enviou uma mensagem para Luis de Guindos, o ministro da econômica da Espanha, dizendo-lhe que a Espanha não era um país atrasado, mas um grande jogador na zona do euro.
Um artigo no website Market Oracle, citando Joe Weisenthal do Business Insider, sugeriu uma interpretação da postura de pré-negociação do governo espanhol: “Enfim: esperamos por algo bom. Nós somos poderosos e se eles não cederem a coisa toda cairá. Isso custará a Europa 500 bilhões se a Espanha falir e depois outros 700 bilhões se a Itália falir.”
Situação de risco
“O ‘resgate’ espanhol pode fazer mais mal do que bem”, alertou o Market Oracle, citando Louis Gave, o CEO da GaveKal.
Os investidores têm comparado o resgate espanhol ao resgate grego. A situação que levou ao resgate espanhol tem semelhanças com os componentes do resgate grego, como uma possível corrida aos bancos, mover o dinheiro para outros países e transformar a dívida pública em dívida subordinada.
Dívida subordinada significa que o governo tem de se submeter à União Europeia e que o empréstimo fornecido não é tanto para escorar os bancos, mas para apoiar o governo. Quando um governo perde sua posição de dívida subordinada e se torna subordinado dos credores, os investidores já não estarão interessados em tais títulos, porque o risco é muito grande.
“A maioria dos investidores que compra dívida do governo o faz segundo a premissa de que o papel é o mais ‘livre de risco’. Estes não são investidores que ponderam cuidadosamente sobre o risco-recompensa de um ativo circulante”, sugeriu Gave.
Resgate, a melhor coisa que poderia ter acontecido
Um artigo do Business Insider afirma que o resgate do banco espanhol é oportuno e uma grande estratégia. Peter Tchir, gerente do ‘TF Market Advisors’, sugeriu no artigo que os investidores estão tremendo com muita facilidade e não consideraram todas as probabilidades.
Acima de tudo, o fundo não está emprestando para o governo espanhol, mas para o Fundo de Reestruturação Bancária Ordenada (FRBO) da Espanha. O FROB foi criado em 2009 para gerenciar processos de reestruturação das instituições financeiras. O FROB e o governo espanhol são entidades separadas, embora ambos sejam parte do Estado espanhol.
O programa sob o FROB foi comparado ao Programa de Alívio de Ativos Problemáticos dos EUA e, como os bancos norte-americanos, o dinheiro ajudaria os bancos espanhóis a ficarem de pé. A subordinação do Estado espanhol à União Europeia pode ser descartada, segundo Tchir. No entanto, Tchir não elabora além da sua declaração de que a situação está “sendo demasiadamente sensacionalista”.
Por último, o artigo do Business Insider sugere que há uma “nova ideologia na gestão da crise europeia: Enquanto os líderes da UE poderiam ter submetido a Espanha a uma ajuda governamental muito constrangedora, ao invés disso, eles estão percebendo a necessidade de aceitar mutuamente a carga do sistema bancário espanhol.”
Desespero do resgate
“Quão desesperadas são as coisas para provocarem mudanças tão grandes tão rapidamente?”, perguntou o Phoenix Capital. Por que a pressa súbita, especialmente se a Espanha começou a falar de um resgate só este mês? Parece que no ano passado o governo espanhol rejeitou qualquer sugestão de que um resgate seria necessário. Eles não admitiram abertamente a escassez de recursos financeiros.
Por exemplo, o parcialmente nacionalizado banco espanhol Bankia, formado pela consolidação de diversos bancos regionais em 2010 e nacionalizado em maio, pediu ao governo espanhol 19 bilhões de euros (24 bilhões de dólares) em fundos de resgate. Em maio, o Bankia publicou seus resultados revistos de 2011 que mostram perda de 3 bilhões de euros (3,8 bilhões de dólares) ao invés de lucro de 309 bilhões de euros (390 bilhões de dólares).
O artigo do Phoenix Capital disse sem rodeios: “O ponto que faço aqui é que tanto o governo espanhol e os bancos espanhóis jogarão ‘estátua e fazer de conta’ enquanto for possível até que estejam à beira do colapso.”