Questão do programa nuclear iraniano rouba a cena no Fórum da ONU no Brasil

29/05/2010 03:00 Atualizado: 29/05/2010 03:00

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Fórum da Aliança das Civilizações das Nações Unidas em 27-29 de maio no Rio de Janeiro. (Felipe Santiago/The Epoch Times)RIO DE JANEIRO – A controvérsia sobre o acordo do programa nuclear iraniano, que causou uma crise diplomática entre o Brasil e os EUA, tomou o centro das atenções no Fórum da Aliança das Civilizações das Nações Unidas em 27-29 de maio no Rio de Janeiro.

O Presidente Lula se aproveitou de seu papel de anfitrião para defender o acordo assinado entre o Brasil, a Turquia e o Irã em seu discurso de abertura do segundo dia do fórum oficialmente intitulado “paz através da interconecção cultural”.

O acordo assinado em 17 de maio permite que o Irã envie urânio pouco enriquecido para a Turquia em troca de barras de combustível de urânio mais enriquecido, que o Irã diz que usará num reator de pesquisas médicas. O Brasil subscreveu o acordo numa tentativa ajudar a evitar um conflito violento no Irã.

“O Brasil acredita num entendimento que faça as armas silenciarem […] o mundo precisa de um Oriente Médio pacífico, e, obviamente, o Brasil não está fora desta necessidade. Defendemos um país livre de armas nucleares. Acreditamos que a energia nuclear deva ser um instrumento para promover o desenvolvimento, não uma ameaça”, disse Lula, em seu discurso no Fórum do Rio.

Os EUA discordam e criticaram duramente o Brasil e a Turquia por sua falta de unidade no tratamento das aspirações nucleares iranianas.

“Temos divergências sérias com a diplomacia brasileira vis-à-vis ao Irã”, disse Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, numa coletiva de imprensa em Washington na quinta-feira.

“Achamos que ganhar tempo para o Irã, permitindo que o Irã evite a unidade internacional com respeito a seu programa nuclear, torna o mundo mais perigoso, não menos. Eles têm uma perspectiva diferente sobre o que eles veem que estão fazendo”, disse Clinton, referindo-se ao Brasil.

“Achamos que é hora de ir ao Conselho de Segurança e que é somente após o Conselho de Segurança agir é que os iranianos se engajarão efetivamente em seu programa nuclear”, disse Clinton.

Ahmet Davutoglu, ministro turco das Relações Exteriores, fala no Fórum da Aliança das Civilizações da ONU em 27-29 de maio no Rio de Janeiro. (Felipe Santiago/The Epoch Times)Tanto o Brasil como a Turquia são membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Respondendo às críticas de Clinton, Lula reiterou que ele sente que a posição dos EUA levará inevitavelmente à violência.

“As teses sobre a suspeita de uma fratura de civilizações no mundo, que conduziria inexoravelmente ao conflito. Essas teorias são criminosas quando usadas como pretexto para ações militares chamadas preventivas.”

O primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan expressou sua concordância com o Brasil, criticando a atitude ocidental e dos EUA, quase os chamando de hipócritas.

“Quando ouvimos aqueles que falam de impedir o Irã de obter armas nucleares, percebemos que eles próprios possuem armas nucleares”, disse Erdogan.

Numa conferência de imprensa no fechamento da sessão do fórum na sexta-feira, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Espanha e Turquia; Celso Amorim, Miguel Angel Moratinos e Ahmet Davutoglu respectivamente; voltaram a defender o que eles veem como uma solução diplomática para o conflito nuclear iraniano.

“Eu acho que a diplomacia é a única maneira de resolver esta importante questão […] nós estamos tentando construir uma nova ordem global, e por isso não podemos criar um distúrbio nuclear”, disse o ministro espanhol Moratinos.

“Eu acho que a ação do Brasil e da Turquia no Irã, o acordo de Teerã e tudo o que foi alcançado hoje nas Nações Unidas […] esta é uma cultura de paz e é isso que estamos procurando. O resto é cultura de conflito, tentando resolver as coisas de forma punitiva”, disse Amorim.

O ministro brasileiro disse que o que eles estão promovendo é uma “cultura de paz” e em contraste com uma “cultura de conflito”.

“Estamos tentando um caminho de diálogo, uma maneira de dialogar, uma forma de entendimento, e isso já produziu resultados; e eu acho que há um monte de pessoas que ficaram desapontadas porque isso produziu resultados. Sua expectativa era de que isso não os produziria, para terem uma justificativa para continuar na mesma linha”, disse Amorim.