A quem interessa calar o promotor Nisman

06/02/2015 12:32 Atualizado: 06/02/2015 12:32

Muitas pessoas tinham interesse em impedir o promotor Nisman de fazer suas denúncias e por isso tiraram-lhe a vida. Mas foi em vão, porque a Corte Suprema de Justiça tornou públicos o documento e as escutas telefônicas, e agora toda a Argentina pede justiça para o caso AMIA e para o procurador Alberto Nisman.

No dia 19 de janeiro a Argentina acordou com um terremoto sobre sua cabeça. Os meios de comunicação informavam ao país que na noite anterior foi encontrado sem vida o promotor Alberto Nisman, encarregado da “causa AMIA”, ato terrorista perpetrado contra a Associação Mutual Israelita da Argentina (AMIA), no dia 18 de julho de 1994, no qual morreram 84 pessoas e quase 300 ficaram feridas.

Como o caso se arrastava sem solução, em 2004 o então presidente Néstor Kirchner criou a Unidade Especial de Investigação, do Ministério Público, para cuidar especificamente deste caso, nomeando o promotor Alberto Nisman como responsável máximo pela investigação.

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Com as férias do judiciário, Nisman viajou para a Espanha com a filha mais velha que fazia 15 anos mas voltou no dia 12 de janeiro e no dia 14 foi ao Centro de Informação Judicial (CIJ), pertencente à Corte Suprema de Justiça, onde deu entrada em um documento de quase 300 páginas com o resultado da investigação de pouco mais de 10 anos. Lá, ele denuncia a presidente Cristina Kirchner, o chanceler Héctor Timerman entre outros altos funcionários do governo, de serem responsáveis pelo encobrimento dos terroristas iranianos pelo atentado à AMIA. Nesse mesmo dia ele concedeu uma entrevista ao programa “A dos voces” no canal “TN” de televisão, onde descreveu com segurança e desenvoltura o resultado de suas denúncias. Na tarde da segunda-feira (19) ele iria ao Congresso prestar depoimento acerca desse tema mas foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento na noite do domingo (18).

A cena descrevia que ele estava deitado no chão do banheiro sobre um charco de sangue, tendo ao lado da mão direita uma pistola calibre .22 e imediatamente sugeriu-se “suicídio”, uma vez que o apartamento estava fechado por dentro com as chaves nas portas e no sábado anterior a esse fato, ele havia pedido uma arma idêntica a essa a um funcionário que lhe prestava serviços de informática e frequentava sua casa quando solicitado. Segundo o laudo divulgado, ele foi morto com um disparo no lobo temporal direito cuja bala permaneceu em seu corpo.

Nada no comportamento de Nisman sugeria que ele pudesse ter-se suicidado, pois estava ansioso por prestar o depoimento no Congresso, onde levaria quase 300 provas de escutas telefônicas (legais, autorizadas pela Justiça), e o único bilhete encontrado foi uma nota de compras que a empregada deveria fazer na segunda-feira. Quando sua ex-esposa, a juíza Sandra Arroyo Salgado inteirou-se de sua morte, descartou a hipótese de suicídio ou “suicídio induzido”, e disse que ia pedir outra autópsia mas depois desistiu.

Entretanto, segundo informou o jornalista Hernán Cappiello, uma pessoa que participou da autópsia realizada por médicos forenses no necrotério judicial de Viamonte, o disparo foi feito desde cima e a curta distância, sugerindo que ele devia estar de joelhos ou agachado, uma vez que a bala entrou pelo lobo temporal direito e seguiu uma trajetória vertical, atingindo a língua, faringe e laringe. Tratou-se, portanto, de uma execução por alguém que quis não só silenciá-lo mas humilhá-lo. Quem são os autores intelectuais e materiais do crime? Ninguém sabe até agora e, embora toda a perícia esteja levando à hipótese de suicídio, não apenas eu mas milhares de argentinos se recusam a aceitar.

Alberto Nisman, que era judeu, foi sepultado no Cemitério Israelita de La Tablada no dia 29, e nos arredores por onde passou o cortejo fúnebre a multidão que foi despedir-se dele trazia flores, velas, cartazes pedindo “justiça” e gritando “Cristina assassina”. No sepultamento, sua ex-esposa fez um pronunciamento encerrando com essas palavras: “Eu sei que este final não foi uma decisão tua” e “Foi decisão de outras pessoas mas vamos chegar à verdade”.

Cristina Kirchner escondeu-se desde o dia 14 e por duas vezes publicou em sua conta do Twitter longas, enfadonhas, afrontosas e auto-referentes cartas, primeiro “tendo certeza” do suicídio e depois, com a mesma “certeza”, de que foi um assassinato “para prejudicar seu governo”. Nenhuma nota de pêsames à família, nenhum luto oficial pela morte de um Promotor da República. Nada. A presidente brasileira, por seu turno, não deu um pio, preferindo ir à posse do índio cocalero Evo Morales e depois ao encontro da CELAC, que ocorreu na Costa Rica onde estava entre seus camaradas.

Muitas pessoas tinham interesse em impedir o promotor Nisman de fazer suas denúncias e por isso tiraram-lhe a vida. Mas foi em vão, porque a Corte Suprema de Justiça tornou públicos o documento e as escutas telefônicas, e agora toda a Argentina pede justiça para o caso AMIA e para o procurador Alberto Nisman. Deus permita que, com esse crime horrendo, a Justiça argentina ponha um ponto final neste ato terrorista e ponha na cadeia seus responsáveis, sejam eles quem forem.

Editado por Epoch Times