Queda de preços no mercado imobiliário chinês enfurece investidores

21/04/2014 11:18 Atualizado: 21/04/2014 11:18

“Reembolsem nossos imóveis!”, gritaram manifestantes no escritório da agência imobiliária Tenhong em Hangzhou, China, antes de despedaçarem maquetes de imóveis, exibir cartazes e gritar com os funcionários. Eles estavam furiosos que apartamentos no mesmo prédio, semelhantes aos que eles tinham acabado de comprar, estavam agora sendo vendidos com um grande desconto, prejudicando seus investimentos.

O incidente foi o caso mais recente que destacou a insegurança no mercado imobiliário da China, cujos negócios têm abrandado nos últimos três meses. Analistas alertam que com a atividade recente, um ponto de virada pode estar no horizonte, impedindo mais estímulo econômico artificial por parte das autoridades.

Um relatório oficial da Academia de Indexação da China, que monitora os preços dos imóveis em 100 grandes cidades, mostra que a taxa de aumento dos preços da habitação começou a abrandar no início deste ano. A taxa de aumento dos preços dos imóveis foi contínua por 22 meses, desde junho de 2012. Além de uma apreciação mais vagarosa dos imóveis, seus preços em 37 das 100 grandes cidades caíram em março, uma cidade a mais do que no mês passado, e 5 cidades a mais do que em dezembro passado.

O caos que ocorreu em Hangzhou foi o resultado de descontos como experimentado pela sra. Pan. Moradora de Hangzhou, Pan comprou uma casa pelo alto preço de 19.300 yuanes por metro quadrado poucas horas antes de uma grande queda de preço de até 6.000 yuanes (U$ 964) por metro quadrado, segundo anunciado pela Tenhong. Isso fez sua habitação 500 mil yuanes (US$ 80.366) mais barata do que ela pagou, segundo o China News.

A Wharf Holdings em Chengdu também deu descontos de mais de 30% em alguns de seus imóveis e recebeu uma resposta visceral dos investidores. “Rentistas sem escrúpulos! Aproveitadores! Devolvam o nosso dinheiro!”, diziam algumas faixas que os proprietários ultrajados penduraram no escritório da Wharf em 8 de abril, segundo a China Business. Várias centenas de investidores furiosos protestaram no local por dias, exigindo uma explicação da empresa.

O volume de operações também caiu em todo o país, segundo o Sistema de Indexação do Mercado Imobiliário da China. As quatro cidades de mais alto nível – Pequim, Shanghai, Guangzhou e Shenzhen – tiveram uma queda de mais de 40% nas transações, enquanto as transações em Pequim caíram mais de 55%.

Parte do problema seria o excesso de oferta, disseram especialistas. Gordon G. Chang, um escritor e analista sobre a China, disse que alguns dos problemas de Hangzhou se originam do “excesso de construção em massa”.

Jason Ma, um comentarista de assuntos chineses, que apresenta um programa na emissora NTDTV, disse que a coisa principal que sustenta os preços dos imóveis é a demanda dos investidores e não necessariamente pessoas que pretendem viver nas casas que estão comprando.

“A taxa de habitação própria na China já é muito elevada, especialmente nas cidades de terceiro e quarto níveis, onde alcançam o patamar de 80-90%”, disse Ma, em entrevista por telefone. A China classifica suas cidades em quatro níveis diferentes com base numa avaliação de desenvolvimento econômico. “Nessas cidades, o mercado imobiliário é sustentado com investimento”, disse ele. A queda de preços – algo inédito na China – fará com que os investidores saiam do mercado. Isto terá um impacto reforçado, acrescentou Ma.

A terra na China é do Estado, e agências governamentais têm controlado a oferta de terrenos, o que em parte levou a disparada dos preços da habitação, diz Ma. “O mercado imobiliário da China pode atingir um ponto de virada este ano, se o Partido Comunista não estimular o mercado por meio da impressão de enorme quantidade de dinheiro, como tem feito há muitos anos.”