É preciso ter cuidado com o que se deseja. No caso da China, eles queriam que as forças de mercado tivessem maior influência sobre sua economia centralizada. Isso funciona bem quando se cresce, mas muitos se esquecem de que tudo o que sobe desce.
O fato é que as ações chinesas caíram 8,5% na segunda-feira, 24 de agosto, acabando com todos os ganhos da bolha até agora este ano.
O motivo: as autoridades chinesas abandonaram o mercado. Antes defendiam o nível de 3.500 como preço mínimo, que ontem (24) desapareceu em um segundo.
Na última sexta-feira (22), os investidores imploraram ao banco central para interferir de novo, então o fato de que o Banco Popular da China não deu atenção a essa demanda e não limitou as taxas é quase surreal. Nem mesmo lançou mão dos 300 bilhões de dólares destinados a apoiar o mercado de ações (dos quais 160 bilhões de dólares foram e voltaram).
Há várias razões possíveis para que as autoridades não continuem apoiando o mercado de ações:
• Elas estão ocupadas mantendo a desvalorização da moeda logo depois da surpreendente desvalorização de duas semanas atrás. A taxa de câmbio com o dólar só se moveu na segunda-feira, 24 de agosto.
• Elas querem ver até onde o mercado aguenta.
• Elas imaginam que continuar a limitar as taxas ou comprar diretamente não ajuda muito.
• O regime perdeu o controle.
Claro, muitos dos especuladores com pouca experiência e pouca alavancagem não abandonaram o mercado chinês porque as autoridades disseram que apoiariam os preços. Agora eles perderam toda a esperança e estão vendendo tão rápido quanto podem.
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Mas não são só os chineses que estão vendendo. No início da segunda-feira, o mercado de futuros dos Estados Unidos teve uma elevação mínima e precisou parar o mercado de ações devido à queda drástica nos preços (5% para o ‘Dow Jones Industrial Average’, por exemplo).
Apesar do fato de que a China está relativamente desconectada do sistema financeiro mundial, a desvalorização súbita, a queda da bolsa e os dados econômicos sombrios tem assustado os investidores internacionais.
Eles estão tirando dinheiro de ativos mais arriscados, como ações, e estão colocando em títulos do governo dos Estados Unidos e Alemanha. Eles também estão retirando dinheiro de países com alto desempenho, onde costumavam investir com bons ganhos (China, mercados emergentes, Estados Unidos) e enviando o dinheiro para sua casa ou para o local onde receberam o empréstimo.
Este é o fim do famoso “carry trade” (tomar dinheiro emprestado em uma moeda a baixas taxas para colocá-lo em outra moeda a taxas mais elevadas), e hoje até o dólar caiu e o euro e o iene estão subindo.
Uma vez iniciada, a liquidação por atacado é difícil de parar, porque produz uma cascata de margens adicionais em todo o mundo, e os bancos centrais como o Fed e o Banco Popular da China serão novamente convidados a fazer algo a respeito.