Quebra da bolsa chinesa elimina poupança de meio milhão de pessoas

06/08/2015 10:50 Atualizado: 06/08/2015 10:50

Nota do editor: Investidores em toda a China investiram seu dinheiro no mercado de ações chinês durante o ano passado e este ano, em grande parte por causa das promessas da mídia oficial do Estado. O Diário do Povo e outras publicações relataram que o mercado de touro chinês ajudaria a realizar o grande rejuvenescimento da nação chinesa, o tão apregoado “Sonho Chinês”. Começando em dezembro do ano passado, o escritor deste artigo, um jornalista sênior e colaborador da China Business News, juntou-se a um grupo de chat QQ com especuladores de alto nível do mercado de ações. Muitos, neste grupo, contraíram empréstimos de até 10 milhões de yuans (US $ 1.62 milhão) – várias vezes o seu próprio capital – para especular. Esta é a história de como eles perderam tudo na qued do mercado chinês. Esta é uma tradução resumida do artigo de opinião de Zhou, publicado no dia 18 de julho e amplamente compartilhado na Internet chinesa.

“Isto é a chacina da classe média”, afirmou o Sr. Hao, um conselheiro de investimentos financeiros de Chengdu, no dia 15 de julho. “Dos meus amigos, mesmo aqueles que pediram emprestado o equivalente de seu próprio dinheiro, na proporção de 1:1, precisaram pagar valores de cobertura adicional às empresas financiadoras. Eles perderam toda a riqueza que acumularam nos últimos 10 anos. Nós estimamos que pelo menos 500 mil a 600 mil investidores de classe média foram eliminados nesta queda do mercado de ações chinês!”

O crash da bolsa chinesa, que começou em meados de junho, acabou com a riqueza de investidores que fizeram operações com margem, ou seja, pediram empréstimos usando títulos como garantia, para investir no mercado de ações. Durante os últimos seis meses, eles estiveram em um estado de superexcitação, enquanto o Shanghai Composite Index mais do que duplicou. Do início de agosto do ano passado até o dia 12 de junho deste ano, o índice Shenzhen quase triplicou.

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Agora, porém, eles perderam mais dinheiro do que tinham, incluindo a quantia que haviam pedido emprestado. O mercado limpou este grupo de investidores da maneira mais violenta.

Fui testemunha desta chacina. Em dezembro 2014 entrei para um grupo de chat de investimentos no QQ, o chamado Grupo Dragão Margem de Alto Nível (vamos chamar-lhe de Grupo Dragão). Os dois diretores que criaram este grupo na província central de Hunan são conhecidos pelos apelidos “Dragão” e “Foi-com-o-vento”. O grupo também conta com uma celebridade do mercado de ações, “Dao”, que vive no sudeste da Ásia. Estes três são os principais membros do Grupo Dragão, o qual atraiu um grande número de seguidores de classe média.

“Foi-com-o-vento” me disse que o Grupo Dragão foi criado em 2014 como uma empresa de empréstimo de pequeno e médio porte, com 150 milhões de yuans (US$ 23 milhões) de capital. Naquela época, as ações chinesas do tipo A estavam subindo, e a cada dia mais pessoas se juntavam ao grupo. A maioria deles tinha pedido mais de 500 mil yuan (US$ 81 mil) emprestado. Alguns grandes clientes tinham pedido emprestado de 5 a 10 milhões de yuans (US$ 810 mil – US$ 1.62 milhão). A relação entre capitais próprios e empréstimos era, em geral de 1 para 4.

Grandes perdas no início de julho

Desde meados de junho, o grupo sofreu perdas. Grandes perdas ocorreram nos dias 2 e 3 de julho, de acordo com “Foi-com-o-vento”. Contudo, muitos clientes ficaram otimistas sobre as medidas de emergência anunciadas em Pequim, e pensaram que o mercado iria voltar.

Na noite do dia 01 de julho, a Comissão Reguladora de Títulos da China lançou três anúncios tranquilizadores que o mercado iria voltar. Entretanto, os investidores não acreditaram. Nos dias 2 e 3 de julho, o índice de ações de Xangai caiu 3,48% e 5,77%, respectivamente.

O contínuo declínio causou enormes prejuízos ao Grupo Dragão. Em 3 de julho, quase 20 contas do Grupo Dragão estavam a ponto de começar as exigências de cobertura adicional para vender ações ou colocar fundos adicionais devido aos movimentos de preços adversos.

A maioria das pessoas do grupo ficou em silêncio durante diversos dias após o crash da bolsa.

A queda de 9 de julho

As ações de tipo A caíram drasticamente após a abertura do dia 9 de julho. Os investidores foram gravemente prejudicados novamente. “Steel” aconselhou que as pessoas prestassem atenção às suas contas, uma vez que as informações estavam mudando rapidamente.

O declínio acentuado em 9 de julho acabou com a última esperança de muitos investidores. Diversos clientes do Grupo Dragão foram obrigados a vender suas posições.

Amigos do Sr. Hao que haviam pedido emprestado o equivalente de seu próprio dinheiro, na proporção de 1:1, foram obrigados a vender durante a queda de 9 de julho. A maioria dos investidores não foram capazes de investir mais dinheiro, e dezenas de anos de poupança desapareceram, ele disse.

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Trilhões simplesmente evaporam

Desde a queda de junho, o uso de empréstimos com margem causaram trilhões de yuans de prejuízo, representando centenas de milhares de yuan por pessoa. Aqueles que pediram empréstimo com margem, seja de corretores estabelecidos ou empresas de empréstimos ilegais, foram os que mais sofreram.

A Forbes estimou certa vez que a classe média da China com capacidade para investir, composta por aqueles indivíduos que possuem capital entre US$ 96.5 mil e US$ 964 mil para investir, chegariam aos 14 milhões de componentes ao final de 2014. Se de 500 mil a 600 mil deles desapareceram, significa que a queda da bolsa eliminou 3% deste grupo.

O negócio de empréstimo de capital de ações expandiu amplamente, impulsionado pela ganância, com a última rodada do mercado em alta. De acordo com “Foi-com-o-vento”, este tipo de negócio começou em 2007, embora fosse só permitido para contas individuais naquela época. Não havia nada como os novos sistemas que podem gerenciar automaticamente milhares de contas.

Com a queda das ações do tipo A, em 2007, o endividamento para investimento em ações desapareceu. Entretanto, no início de 2014, este negócio retomou lentamente. O sistema HOMS conveniente, para melhor gerenciar um grande número de contas, também se tornou disponível. Empresas financiadoras permitiram aos clientes realizar diretamente transações de alto risco através de suas contas. Antes do final de 2014, muitas empresas permitiam aos especuladores pedir emprestado até cinco vezes o valor de capital disponível.

A empresa de empréstimos de capital cuja “Foi-com-o-vento” estava envolvido, adquiriu mais e mais clientes em 2014. De acordo com sua análise, o capital externo chegou a cerca de 1 trilhão de yuans (US$ 162 bilhões) até maio de 2015, um valor muito superior aos 500 bilhões de yuan (US$ 81 bilhões) indicados por algumas empresas de valores mobiliários.

Entrei em contato com muitas empresas de empréstimo de margem e descobri que na queda da bolsa, 80 a 90 por cento dos clientes na maioria das empresas, e até 100 por cento em algumas delas, perderam o seu capital de investimento.

Mais de 50% dos clientes do Grupo Dragão perderam o seu próprio capital sob o estrito controle de risco. O célebre investidor de Xangai, Sr. Xia, disse que a última rodada do mercado em alta havia atraído muitos investidores antigos. Todos eles perderam dinheiro; alguns deles mais de 1 bilhão de yuans (US$ 162 milhões).

Os devedores foram obrigados a vender parte ou a totalidade de suas ações. Eles também foram acusados de serem a principal razão deste último crash. Anteriormente, foi dito que a principal razão para a queda foi o sistema HOMS por Hundsun Technologies, que pode controlar a compra e venda de milhares de contas. Alguns até apontaram para Hangzhou, uma cidade na costa leste da China e sede da Hundsun, como o marco zero da catástrofe. Outros refutaram este ponto de vista.

De acordo com “Foi-com-o-Vento”, este tipo de acusação serve apenas para transferir a culpa. Em um mercado em alta, os ajustes são inevitáveis. Contudo, a falta de coordenação do controle de danos do governo acelerou as perdas sofridas pelos devedores, disse ele.

Zhou Yuanzheng é um jornalista veterano da China Business Times e um colunista amplamente reconhecido.