MUNIQUE – Todos os olhos estão na próxima eleição da Grécia em 17 de junho, que determinará o futuro da Grécia continuar como um membro da zona do euro e assim continuar utilizando o euro, ou voltar a usar sua antiga moeda, a dracma.
O novo governo poderia ser tanto pró-euro, e fazer cumprir as medidas de austeridade, ou, provavelmente, não aceitar cortes orçamentais radicais e tentar renegociar reformas e medidas de austeridade com um tom mais suave.
Pesquisas recentes mostraram um aumento no apoio ao partido pró-euro Nova Democracia, mas os especialistas têm advertido contra acompanhar essas pesquisas muito de perto, com os eleitores gregos aparentemente mudando suas mentes todo dia e as eleições estando ainda semanas de distância.
Então, a questão é se a Europa estará disposta a aceitar qualquer relaxamento das medidas de austeridade que foram negociadas no governo grego anterior? Isso poderia se tornar uma batalha entre a França e a Alemanha, quer estimulando o crescimento ou restringindo rigorosamente a Grécia. A Alemanha assumiria o lado de medidas de austeridade e disciplina rígida, enquanto a França, sob seu novo presidente, pressionará por mais gastos e empréstimos para estimular o crescimento.
“Queremos que a Grécia fique no euro, mas insistimos que a Grécia cumpra os compromissos que acordou”, disse a chanceler alemã Angela Merkel aos repórteres na semana passada.
O novo presidente francês François Hollande é de outra opinião. “A ideia é colocar energia no motor do crescimento. Todos os países membros não necessariamente compartilham minhas ideias. Mas certo número expressou-se na mesma direção”, disse Hollande.
No caso de a Europa não aceitar outra coisa que não estritas medidas de austeridade, a Grécia não receberá a segunda metade de seus 145 bilhões de euros (185 bilhões de dólares) do empréstimo de resgate do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e os restantes 26 bilhões de euros (32,6 bilhões de dólares) do Fundo Monetário Internacional (FMI) que a Grécia deve receber em parcelas até 2016.
Como resultado, a Grécia não seria capaz de pagar suas obrigações de títulos próximos a seus credores neste ano e os bancos do país entrariam em colapso. Isso, por sua vez, tornaria impossível para a Grécia continuar operando na moeda do euro, já que o Banco Central Europeu e outras instituições financeiras não emprestariam mais dinheiro para os bancos gregos.
Desta forma, a Grécia seria forçada a começar a imprimir sua própria moeda para pagar seus empréstimos e financiar toda sua economia. Esta nova moeda converteria todos os preços anteriores em euros para a nova moeda, a dracma, que substituiria completamente o euro.
O risco da dracma é que num tempo muito curto, ela poderia perder mais da metade do seu valor, fazendo os empréstimos externos subirem a alturas astronômicas e a nova moeda poderia valer menos do que o papel em que é impressa. No pior cenário, a Grécia poderia estar completa falida, pois o país ficaria sem qualquer moeda para pagar seus credores e sustentar sua economia.
Num cenário positivo em que a dracma não se desvalorize muito severamente, a Grécia, teoricamente, só se beneficiaria com o turismo, já que não tem qualquer outra exportação significativa. Seria mais barato para os estrangeiros passarem suas férias na Grécia e pagarem em dracma. No entanto, diante da instabilidade total, é difícil imaginar que muitos turistas seriam capazes de “relaxar” durante suas férias na Grécia.
“Sem qualquer indústria pesada verdadeira, a economia grega não pode explorar esta vantagem [dracma desvalorizada]”, disse Constantino Michalos, presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Atenas. “A nossa principal indústria é o turismo, mas numa situação caótica, que turista escolheria vir à Grécia logo após o país voltar à dracma?”
Por outro lado, ainda existem alguns poucos gregos que sentem que as coisas podem não ser tão ruins com o retorno à dracma, e que pode simplesmente significar o início de um novo estilo de vida, a mesma coisa que as pessoas fizeram para sobreviver durante milhares de anos.
“Da maneira como as coisas estão agora, não pode ficar pior”, disse Tasos Schinas, um habitante de Atenas de 37 anos, ao jornal Business News. “Claro, a transição para a dracma será difícil [mas] as pessoas comuns encontrarão uma maneira de sobreviver, muitos provavelmente voltarão para as vilas e começarão a cultivar e produzir. […] Nós só não voltaremos ao estilo de vida que temos levado todo esse tempo.”
Agora, o relógio está correndo até 17 de junho para determinar qual será o novo governo e que direção tomará.
“Cabe agora aos partidos gregos, políticos gregos e eleitores gregos escolherem que caminho querem tomar”, disse um oficial alemão do gabinete da chanceler Angela Merkel.