Com certeza, Janet Yellen, a presidente do conselho do Federal Reserve, o banco central dos EUA, falou sobre os dados econômicos em seu depoimento perante o Comitê Bancário do Senado na quinta-feira (27) passada. Os gastos dos consumidores foram mais suaves do que o esperado e também o crescimento do emprego. Pode ser o clima. Em qualquer caso, o Fed precisa manter suas opções abertas, insinuou Yellen.
O que ela não lhe disse é que o ‘afunilamento’ nunca esteve relacionado com as vagas metas econômicas que o Fed arbitrariamente definiu e alterou. Na verdade, outras circunstâncias permitiriam o banco central aumentasse as compras de ativos novamente.
Afunilamento não diz respeito a dados
Precisamos esclarecer o fato de que o ‘afunilamento’ – a redução gradual da compra mensal do Fed de ativos, como títulos do Tesouro – nunca esteve vinculado aos dados econômicos. O Fed primeiro determinou níveis específicos de desemprego e inflação, e depois mudou tanto os números como as definições assim que os dados se aproximaram de atingir suas metas.
Apesar de dados melhores, o Fed teria preferido continuar imprimindo dinheiro e comprar títulos, mas teve que parar por outras razões. Tudo tem a ver com os ativos que o Fed estava comprando. Desde que o Fed desencadeou o ‘afrouxamento quantitativo’ (QE) em setembro de 2012, ele tem comprado US$ 40 bilhões em ‘títulos lastreados em hipotecas’ (MBS) e US$ 45 bilhões em títulos do Tesouro a cada mês.
Qual foi a verdadeira razão por que ele precisou reduzir as compras em dezembro de 2013? Esses mercados estavam ficando sem papéis para suprir o frenesi de compra do Fed. Em novembro, o Fed teria comprado três dólares de MBS para cada 1 dólar recém-criado destes títulos. Desde o QE iniciado em 2009, ele acumulou mais de US$ 1,5 trilhão em MBS, levando algumas corretoras a reclamarem que a liquidez é pior agora do que era durante o colapso do banco Bear Stearns em 2008.
No entanto, para MBS, este não era um grande problema, apesar do mercado ser menor. De qualquer maneira, Bancos estavam felizes em descarregar títulos questionáveis e sem liquidez e os MBS não desempenham uma função importante nos mercados financeiros.
Mas os títulos do Tesouro importam. O mercado do Tesouro dos EUA é o mercado mais profundo e líquido de capital no mundo. Não só isso, mas bancos e outras instituições financeiras usam títulos do Tesouro como base para todos os tipos de margem e operações com derivativos.
Se o Fed comprar todos os títulos, então não há mais nada para o setor privado continuar negociando. Isso seria uma má notícia para todos, desde a dívida corporativa até o mercado de ações. Mas espere, o estoque atual da dívida não está em US$ 17,3 trilhões? Não há o bastante para sustentar o mercado mesmo que o Fed detenha US$ 2,3 trilhões? A resposta é não.
Em primeiro lugar, apenas US$ 11,8 trilhões são comercializáveis, o resto é conservado em títulos intergovernamentais não-negociáveis. Em segundo lugar, apenas US$ 1,4 trilhão está em títulos que duram mais de cinco anos, ou de maior qualidade de garantia.
Convertidos em títulos de 10 anos por simplicidade, o Fed possuía cerca de 30% destes títulos de 10 anos em dezembro e estava consumindo cerca de 0,25% desse mercado por semana. Isso é acima de apenas 13% em 2009 e muito para o setor privado digerir. Daí o afunilamento.
Nova dívida significa mais impressão
Normalmente, o Fed e o mercado privado poderiam contar com o governo federal para apenas emitir nova dívida e fornecer novos títulos para o Fed se monetizar. Não em 2013, no entanto, quando o sequestro do orçamento federal, a paralisação do governo e numerosos debates do teto da dívida dificultaram novas emissões.
Com a aprovação do novo limite da dívida, esse obstáculo foi efetivamente removido. O Tesouro pode emitir tanta dívida quanto quiser até março de 2015, pois o teto da dívida está simplesmente suspenso até então. Vários leilões da dívida bem-sucedidos no início de 2014 mostraram tanto o apetite por títulos quanto a vontade do governo de abastecê-los.
O Departamento de Orçamento do Congresso pensa que os déficits federais serão de US$ 1 trilhão a cada ano na próxima década, o suficiente para o Fed e o mercado privado.