O ex-secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, publicou um comentário no jornal New York Times recentemente, alegando que a economia da China está “de volta nos eixos”. Isso é verdade?
Como ex-secretário do Tesouro, Paulson tem uma relação estreita com os líderes do regime comunista chinês. Também é importante observar que a empresa em que Paulson atuou anteriormente, bem como sua própria empresa de consultoria, têm enormes investimentos na China e laços estreitos nos altos círculos políticos e econômicos da China. Portanto, em relação à declaração de Paulson, é necessário examiná-la, assim como ele, com uma lupa.
Paulson e seu instituto de pesquisa
Nascido em 1941, Paulson recebeu seu MBA da Harvard Business School em 1970. Ele ingressou na Goldman Sachs em 1974 e se tornou presidente-executivo da empresa em 1999. Entre 2006 e 2009, Paulson trabalhou como secretário do Tesouro dos EUA para a administração Bush.
Atualmente, ele é presidente do Instituto Paulson, que afirma ser dedicado a promoção do crescimento econômico sustentável, investimentos internacionais, inovação, criação de emprego e preservação do meio ambiente nos Estados Unidos e na China.
Na primeira página do site do instituto, quatro caracteres chineses que significam “unir conhecimento e ação” aparecem em destaque. A caligrafia pertence ao atual primeiro-ministro chinês Li Keqiang.
O Instituto Paulson tenta promover atividades econômicas, criação de empregos, desenvolvimento urbano e proteção ambiental, tanto nos Estados Unidos como na China. A questão é: se a China e os Estados Unidos não se complementam nesses aspectos, mas contradizem um ao outro, jogando mais como um jogo de soma zero, como poderia o Instituto cumprir sua missão?
Por exemplo, e se o instituto descobre que um fabricante dos EUA se mudou para a China, porque os EUA têm um padrão mais elevado de proteção ambiental, enquanto o governo local chinês enfatiza apenas o crescimento do PIB e ignora as questões ambientais? Como este conflito pode ser resolvido, o quintal de que país deve ser profanado?
Vamos dar uma olhada em outro exemplo: Algumas fábricas dos EUA se mudaram para a China, porque o custo do trabalho lá é menor. A medida cria empregos na China, mas tira oportunidades nos EUA, que posição assumiria o instituto Paulson sobre esses problemas?
Quando os Estados Unidos e a China têm interesses econômicos em conflito, como os especialistas do Instituto Paulson poderiam dar sugestões justas e razoáveis para os dois países? Há muitos institutos concentrando sua pesquisa sobre os laços China-EUA e há muitos grupos de reflexão nos EUA e na China, mas o Instituto Paulson é o primeiro que pretende atender ambos os lados.
Paulson e sua atitude ‘otimista’
Paulson tem lidado com a China desde 1992, por isso, agora deve ser fácil para ele ver a raiz dos problemas da China e as questões fundamentais subjacentes a estes problemas. É inimaginável promover o crescimento econômico da China e a proteção ambiental sem abordar a política do país e o próprio Partido Comunista Chinês (PCC) – você não fará qualquer progresso.
Os investidores internacionais que são bons em dançar com os lobos podem ser capazes de se encaixar com os líderes chineses. Mas, se uma pessoa sabe sobre a tirania, a corrupção e a brutalidade, mas pretende não ouvir ou ver nada e ainda fala sobre “unir conhecimento e ação”, a pessoa não deve culpar ou outros por lançarem dúvidas sobre sua ética, particularmente quando a pessoa alega que a economia chinesa está de volta nos eixos.
Paulson admite abertamente que muitos pesquisadores dentro e fora da China acreditam que a 3ª Sessão Plenária do PCC não apresentará uma medida de reforma eficaz e detalhada, mas ele próprio pensa o contrário.
Ele acredita que a China poderia reestruturar sua economia por meio da criação de oportunidades para pequenas e médias empresas e tornando a distribuição de capital mais eficiente. Paulson deu quatro razões para seu otimismo.
A primeira razão é que os líderes do PCC sabem que o modelo de crescimento da China precisa de mudanças e que eles estão realmente fazendo algumas mudanças, incluindo a tentativa experimental da Zona de Livre Comércio de Shanghai e permitindo maior flexibilidade nas taxas de juros.
A segunda razão é que a nova liderança do PCC tem “poder suficiente” para fazer mudanças. Paulson diz que a reforma do PCC precisa de líderes com pulso forte. Ele admite que, nos dez anos desde que a China ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, a reforma estagnou.
A terceira razão é que a economia da China está à beira do colapso e eles simplesmente não podem continuar a adiar sua reforma. Ele sabe que a economia chinesa está abrandando, que o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior, que as dívidas locais estão crescendo e que as empresas exportadoras estão enfrentando uma pressão enorme, juntamente com o aumento do custo da mão de obra.
A quarta razão que Paulson dá é que a expectativa de reforma do povo chinês atingiu seu limite. Paulson observa que o período de lua de mel acabou para os novos líderes, Xi Jinping e Li Keqiang, e que os chineses compararão as ações de Xi e Li com as dos ex-líderes Jiang Zemin e Zhu Rongji, que intermediaram a entrada da China na OMC, assim há ainda maior pressão sobre a nova liderança para fazer a mudança acontecer.
Enorme negligência de Paulson
Paulson deixou de fora algo muito importante. Embora ele explique a necessidade de uma revolução na economia chinesa, ele não poderia realmente dizer se as mudanças que ele endossa levariam ou não a um desenvolvimento positivo e benigno.
De fato, a expectativa do povo chinês pela reforma atingiu seu auge. No entanto, Paulson não entende claramente quais são as expectativas de reforma do povo chinês. Ele também não sabe o que o povo chinês realmente precisa. É por isso que o ex-secretário do Tesouro dos EUA e banqueiro-investidor da Goldman Sachs negligencia a perspectiva mais ampla.
A situação difícil que a economia chinesa enfrenta é por causa do capitalismo de compadrio do PCC, da ditadura autoritária, bem como da repressão intensa por toda a sociedade e da corrupção generalizada – tudo isso chegou ao extremo. Não há espaço para a economia continuar no eixo.
O que o povo chinês realmente espera é que o PCC se desintegre. Isso removeria a fonte de dificuldades econômicas e restauraria alguma ordem social e econômica. Por que Paulson permanece em silêncio sobre esta questão? Será que é porque ele não consegue ver ou há alguma outra razão indizível?
Comentários rebatidos
Nos comentários em resposta ao artigo de Paulson, um leitor do Maine, EUA, disse que a opinião de Paulson sobre o que é necessário para a economia chinesa é precisamente o mesmo que ele defendeu antes e que levou à recessão nos EUA. O comentarista disse não entender por que as pessoas ainda dão ouvidos a Paulson.
Um professor de Jaipur, Índia, comentou que o slogan de reforma da China está sendo vociferado bem alto pelos novos líderes, mas, no sistema comunista chinês, sem reforma política, falar de reforma econômica neste cenário é inútil.
Outro leitor de Nova York acha que Paulson deve ser colocado na nave espacial Voyager e enviado numa viagem só de ida para fora do sistema solar, porque magnatas de Wall Street como Paulson deslocaram milhões de oportunidades de trabalho para a China, traindo o povo americano.
Um leitor da China continental comentou: “Quando alguém da elite nos EUA e que tem grandes interesses na China escreve como está otimista sobre a situação econômica chinesa, eu reviro meus olhos. É claro que Paulson dirá que está otimista enquanto amacia os fatos, porque ele não quer que as massas entrem em pânico e ponham em risco seus investimentos e os de suas conexões.”
Parece que para o povo chinês que pode romper a censura da internet do regime chinês, eles entendem a situação real da China de forma muito clara e não se deixam enganar pela propaganda do PCC. Os estrangeiros que defendem o PCC também não pode enganá-los. É um grande prazer ver isso.