O regime chinês realizou seu julgamento e prisão para que servisse de lição à prática espiritual do Falun Gong. Depois de servir 15 anos de sua sentença, sob tortura constante, e sofrer um derrame, ele foi libertado da prisão no sábado (18) sem alarde ou publicidade, salvo a presença de policiais locais que apareceram sem aviso e levaram-no para um centro de lavagem cerebral.
Wang Zhiwen era o coordenador da Associação de Pesquisa do Falun Dafa em Pequim, quando a polícia invadiu seu apartamento na madrugada de 20 de julho de 1999, tirou-o da cama e arrastou-o para a prisão.
Em toda a China, naquela noite, a polícia secreta do regime comunista chinês e o Ministério da Segurança Pública prenderam centenas de pessoas que eles teriam identificado como os principais membros do Falun Dafa (também conhecido como Falun Gong).
Essas prisões foram os primeiros sinais da campanha do Partido Comunista Chinês (PCC) contra a disciplina de meditação. Mais tarde naquele dia, a polícia efetuou a captura daqueles considerados membros de destaque.
Dezenas de milhares de pessoas seriam aglomeradas de uma só vez num estádio de esportes local. Elas seriam detidas por dias no calor sufocante de julho sem instalações de abrigo, comida ou lugar para banho e com pouca água, enquanto a polícia exigia que assinassem uma declaração prometendo que parariam de praticar o Falun Dafa.
Wang recebeu tratamento especial. Quando seu julgamento foi transmitido seis meses mais tarde, a família de Wang observou que seu cabelo outrora negro estava cinza, seu rosto parecia cansado e machucado. Ele havia sido severamente torturado. Sua família julgou que nesses seis meses de prisão, ele tinha envelhecido 10 anos.
A tortura que Wang sofreu tem um propósito. O procedimento típico do PCC é torturar um prisioneiro de consciência até que ele seja quebrado e depois filmá-lo renunciando a suas crenças. Nenhum vídeo desse tipo foi produzido com Wang.
Um engenheiro da China Railway Materials Commercial Corp. e membro do Partido Comunista, Wang pareceria um dos últimos indivíduos a aparecer no banco dos réus no Tribunal Popular Intermediário de Pequim.
Seu “crime” foi que ele serviu como um voluntário que se dedicou a ajudar outros praticantes do Falun Dafa em Pequim. Danielle, a filha de Wang, lembra-se do pai às vezes trabalhando 24 horas por dia e ignorando almoço e jantar. Sempre que um praticante enfrentava dificuldades, Wang apareceria para dar uma mão.
Ele foi julgado em 26 de dezembro de 1999 com três outros membros do PCC que foram anunciados como praticantes “fundamentais” do Falun Gong.
De acordo com o grupo Human Rights in China: “O julgamento de um dia ocorreu atrás de portas fechadas, sem qualquer aviso prévio e na época do Natal, quando a mídia ocidental em grande parte não está disponível. Além disso, os réus teriam sido negados representação legal e foi permitido a cada um apenas um membro da família presente no julgamento.”
Enquanto o acesso à sala de audiências era rigorosamente controlado, o próprio julgamento foi transmitido para toda a China. O objetivo era enviar uma mensagem.
“O regime chinês teve um mal-entendido fundamental sobre a comunidade do Falun Gong”, disse Levi Browde, diretor-executivo do Centro de Informação do Falun Dafa. “Eles acreditavam que havia uma liderança e que, se houvesse uma demonstração pública eliminando essa liderança, todos seguiriam.”
O regime não entendeu que cada praticante segue sua própria consciência, disse Browde. Há pouca hierarquia, e nenhum praticante atua como líder no Falun Dafa.
O então líder chinês Jiang Zemin expôs suas razões para lançar uma campanha para “erradicar” o Falun Dafa numa carta que circulou pelo Politburo na noite de 25 de abril de 1999.
Jiang Zemin temia o grande número de pessoas que praticavam o Falun Gong – relatórios oficiais calculavam entre 70 e 100 milhões de adeptos, mais do que os membros do PCC. Jiang Zemin também viu os ensinamentos morais do Falun Dafa, que são baseados nos princípios da verdade, compaixão e tolerância, como um desafio à ideologia do PCC.
Defendendo uma causa
Wang foi condenado a 16 anos de prisão. Ele foi inicialmente enviado para o Campo de Trabalho Forçado de Tuanhe, um lugar no extremo nordeste da China, notório por abusar de seus detentos. Depois de um tempo, ele foi enviado para o Presídio Qianjin em Pequim.
A sentença chocou Danielle de tal forma que ela perdeu temporariamente a visão. Temendo por seu pai, ela também perdeu temporariamente a capacidade de falar por ele. Autoridades do PCC na China disseram a parentes de Danielle que se ela abordasse o caso do pai em público, eles iriam puni-lo.
Seu pai lhe encorajou. Numa carta que ela recebeu dele em 2001, Wang escreveu: “Um homem nobre é sempre magnânimo. Um vilão vive constantemente preocupado.” Danielle escreveu num ensaio que foi ao ar na Rádio Pública Nacional: “A carta de meu pai me mostrou que, por que ele pratica o Falun Gong, ele vive sem ódio ou rancor, então eu comecei a falar.”
Ela primeiramente aproveitou todas as oportunidades que teve no Texas, onde se estabeleceu após sair da China. Em 2007, Danielle falava numa conferência de imprensa do lado de fora da reunião da APEC em Sydney. Depois disso, ela não recebeu mais cartas do pai e, no total, ela disse que só foi autorizado a receber três ou quatro.
Em 2008, Danielle deixou o emprego de engenheira (ela é a 3ª geração de uma família de engenheiros) e mudou-se para Washington DC.
Lá, ela tem trabalhado em tempo integral há um ano, visitando escritórios do Congresso, o Departamento de Estado, a Comissão de Direitos Humanos – qualquer um que ela julgasse que poderia influenciar a libertação de seu pai.
Centro de lavagem cerebral
Em 18 de outubro, Danielle pensou que seu pai seria finalmente libertado, depois de servir quase 15 anos de sua sentença de 16 anos.
A partir de conversas com parentes na China, Danielle soube que uma de suas tias teve permissão para entrar na prisão na manhã de 18 de outubro e levar uma nova muda de roupa, mas depois foi obrigada a partir imediatamente. Depois que sua tia saiu, a polícia local e membros da Comissão de Vigilância Cidadã local entraram e em seguida levaram Wang para um centro de lavagem cerebral no distrito Changping em Pequim.
Segundo a família, Wang teria sido pego de surpresa para esta transferência. Seus parentes foram informados por funcionários, mas eles não tiveram como alertá-lo.
Autoridades foram à casa de uma das tias de Danielle e disseram-lhe que, no centro de lavagem cerebral, Wang comeria bem e dividiria o quarto com apenas um detento. Sua vida, segundo eles, seria mais fácil. Eles também disseram que há um mês Wang sofreu um derrame e foi hospitalizado. Ele tem pressão alta e seu estado de saúde foi descrito como “ruim”.
Enquanto Danielle queria a libertação do pai do Presídio Qianjin o mais rápido possível, de maneira alguma ela queria que ele fosse enviado para um centro de lavagem cerebral. “Um centro de lavagem cerebral é pior”, disse Danielle numa entrevista por telefone. “A prisão, pelo menos, é parte do sistema legal. Os centros de lavagem cerebral não são. Eles não são sequer legalizados.”
“Há dois centros de lavagem cerebral em Changping em Pequim”, disse Danielle. “De acordo com o Minghui, em ambos os locais praticantes do Falun Dafa foram espancados até a morte. Nesses locais, drogas que danificam o sistema nervoso são injetadas, destruindo a saúde dos praticantes. Estou muito preocupada.”
O Minghui é um website administrado por praticantes do Falun Dafa que fornece em primeira pessoa relatos de testemunhas da perseguição que sofreram na China.
Em setembro de 2009, o Minghui informou sobre os maus-tratos que Wang estava sofrendo na prisão. Quatro grupos de quatro criminosos cada foram designados para monitorá-lo em tempo integral. Eles não o deixariam dormir e, se ele fechasse os olhos, eles o espancariam.
Eles também o forçaram a sentar-se num banco por longos períodos de tempo com os pés estirados. Se ele moveu um músculo, ele levaria uma surra. Eles também enfiaram palitos sob suas unhas, fazendo-o sangrar profusamente, disse o Minghui.
Em 2007, Danielle recebeu uma das poucas cartas do pai. Nela, ele se concentrou principalmente em aconselhar a filha sobre como viver bem, como uma jovem mulher que faz seu caminho no mundo.
Depois de oito anos de prisão que sua família informou ter sido de tortura frequente, Wang escreveu à filha sobre sua situação: “A verdadeira natureza da felicidade é a alegria, a tolerância, a indiferença à fama ou ganho, um espírito puro, um comportamento calmo e viver pacificamente, mas com confiança e livre de quaisquer restrições. Estas são as qualidades que me esforço em alcançar. Esta é uma vida de qualidade e um estado de espírito nobre que eu tentei estabelecer respectivamente com uma mente aberta e uma atitude positiva.”
A família de Wang disse que ele seria internado apenas 10 dias no centro de lavagem cerebral, mas temem se uma vítima de derrame pode durar até um dia num lugar que existe especificamente para espancar as pessoas com o objetivo de fazê-las desistir de suas crenças.