Quando o Partido Comunista Chinês acabar, começa o futuro da China

19/07/2012 12:00 Atualizado: 19/07/2012 12:00

Praticantes do Falun Gong carregam faixas que comemoram os 119 milhões de chineses que renunciaram sua filiação ao Partido Comunista Chinês num desfile em 13 de julho em Washington DC. (Edward Dai/The Epoch Times)Movimento para renunciar ao PCC está mudando a China enquanto as pessoas exigem seus direitos

Quando um grupo se levanta e diz simplesmente, “Não” à opressão, que efeito isso tem num país longamente governado por um regime comunista autoritário?

“É enorme”, diz Tang Baiqiao, um ativista chinês veterano da democracia. Tang era um líder estudantil durante o movimento da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989 e esteve ativo desde então. Uma mudança ocorreu ao longo dos últimos anos por causa de um movimento iniciado por praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual que tem sido perseguida na China desde 1999. Esse movimento é chamado Tuidang, ou “Sair do Partido”.

“No passado as pessoas queriam mudar políticas específicas do Partido Comunista Chinês (PCC). Agora, é diferente”, diz Tang. “Agora, as pessoas querem apenas eliminá-lo, removê-lo do poder. Rápido. O Tuidang mostra às pessoas uma maneira muito boa de fazer alguma coisa. É uma forma não-violenta de resistência.”

O movimento Tuidang começou no final de 2004, logo após a publicação do Epoch Times dos ‘Nove Comentários sobre o Partido Comunista’, conhecido como ‘Jiuping’ em chinês, primeiro como uma série editorial e, em seguida, como um livro.

Os participantes do Tuidang podem usar seus nomes reais ou um pseudônimo para declararem sua renúncia ao PCC. Frequentemente, participantes do Tuidang não são membros formais do PCC, mas podem adicionar seus nomes ao rol de renunciantes da mesma maneira. Quase todos os cidadãos chineses nascidos depois de 1949 foram induzidos a aderir aos Jovens Pioneiros e à Liga da Juventude, organizações comunistas de massa que penetram a sociedade e disseminam o dogma do PCC. O Tuidang exorta o povo chinês a cortar seus laços com essas afiliações.

De acordo com o ‘Centro de Assistência Global para Renunciar ao PCC’, mais de 120 milhões de pessoas renunciaram a qualquer filiação com o PCC.

“O Tuidang é sobre a não-cooperação e a resistência à dominação violenta do PCC. Assim como o espírito do movimento de resistência de Gandhi era a não-violência e a não-cooperação. Isto é o que o Tuidang é para a China. Mas muitos grupos dissidentes na China cooperavam com o PCC. O Tuidang foi o primeiro movimento que mudou fundamentalmente a maneira como as pessoas pensavam sobre sua relação com o PCC: cortar completamente os laços com ele”, disse Tang Baiqiao.

Tang acredita que isso acabará por conduzir à democratização da China.

Uma mulher renuncia a sua filiação ao PCC num estande instalado perto de um ponto turístico em Hong Kong em 2011. (Li Zhen/The Epoch Times)Sem precedentes

O conceito do movimento Tuidang surgiu inicialmente a partir do ativismo de praticantes do Falun Gong, uma forma de resistência nunca antes vista na China, segundo vários dissidentes.

“Em toda a violência e totalitarismo do PCC, houve onda após onda de louca perseguição e ataques, mas nunca houve uma organização ou grupo que abertamente se levantou e protegeu seus direitos legais”, disse Guo Guoting, um exilado chinês e advogado dos direitos humanos que agora vive no Canadá, numa entrevista anterior.

“Quando o Falun Gong começou a fazer isso, cada chinês foi pego de surpresa”, disse ele. “Tem sido um processo contínuo, um processo extraordinariamente tenaz de proteger seus direitos a suas crenças, uma mostra de persistência e intrepidez”, acrescentou ele.

Guo disse que, assim como Martin Luther King e Gandhi promoveram a resistência não-violenta, assim, “Na China, esse movimento de desobediência civil não-violenta é precisamente o Falun Gong. Eu acho que isso tem dado a todos os setores da sociedade chinesa um caminho extremamente significativo e eficaz: apelo e protesto pacíficos e não-cooperação pacífica.”

Ao contrário dos movimentos dissidentes anteriores ou publicações anti-PCC, os praticantes do Falun Gong, assistidos pela internet e com voluntários destemidos em diversas cidades do mundo, têm sido capazes de entregar a mensagem do Tuidang em toda parte.

“Basicamente, todos na China já leram ou, pelo menos, ouviram falar dos ‘Nove Comentários’”, disse Tang.

Os ‘Nove Comentários’ é a primeira literatura anticomunista que se tornou parte da tessitura da compreensão de como os chineses se relacionam com o Partido Comunista, segundo os dissidentes. E isso teve um impacto crucial e invisível, tornando-se uma espécie de corrente que informa os chineses sobre o futuro da China e o futuro do Partido Comunista, de acordo com os dissidentes.

Tang Baiqiao, um proeminente dissidente chinês, fala num comício do Tuidang em Brooklyn. Nova York, em 27 de março de 2011. Ele se reuniu com outros apoiadores do movimento Tuidang para comemorar as renúncias em massa ao PCC. (Edward Dai/The Epoch Times)Futuro da China

Como o povo do Tuidang compreende, os dois são opostos: o futuro da China começa quando a PCC terminar.

Os ‘Nove Comentários’ e o Tuidang reforçam a ideia de que os chineses comuns devem simplesmente se livrar do PCC. E, simultaneamente, asseguram-lhes que a China não cairá no caos como resultado.

O movimento Tuidang representa a forma mais responsável de consciência cívica possível na China no momento, segundo Tang Baiqiao.

“O maior bem cívico que o povo chinês pode fazer agora é se livrar do PCC”, diz Tang. “Isso é maior do que proteger os direitos dos praticantes do Falun Gong, isso é para todos: vítimas de Tiananmen, budistas tibetanos, cristãos clandestinos, todas essas perseguições acabarão.”

“Acabar com a ditadura do PCC é a melhor maneira de trazer justiça para a sociedade chinesa, pois a maior causa de injustiça na sociedade é o PCC. O Tuidang visa corrigir esse problema em sua raiz. Este é o caminho do futuro da China e a contribuição do Tuidang para isso é a maior.”

A penetração e a aceitação da ideia de que não há esperança pela reforma do Partido Comunista tem profundas implicações. Em última análise, isso significa que os chineses estão mais dispostos a lutar por seus direitos e se opõem ao regime.

Aldeões chineses desafiaram a linha do PCC em relação ao Falun Gong numa série de incidentes ao longo do ano passado. Em grande medida, isso pode ser atribuído às ideias do Tuidang sendo amplamente aceitas.

Protestos em massa contra o Partido Comunista também cresceram dramaticamente durante o período de divulgação do Tuidang. Isso é atribuído principalmente a um consequente aumento das demolições forçadas de casas de camponeses durante o período e dissidentes também dizem que as ideias subjacentes do Tuidang deram maior confiança a tais movimentos de protesto.

Há um sentimento de que a mudança política na China está muito atrasada e não apenas logo na esquina.

De acordo com Zhong Weiguang, houve uma progressão no ativismo de praticantes do Falun Gong e isso tem se popularizado. “Eles passaram de simplesmente dizerem a verdade, a protegerem seus direitos, até o Tuidang.” A ideia de abandonar o PCC se tornou uma progressão lógica e inevitável.

Quanto mais pessoas aderem à necessidade de se livrar do PCC pelo futuro da China, o Tuidang se tornou o veículo mais potente e ideal para isso.

“Na China, temos uma história sobre Chubawang, durante a Dinastia Han. Liu Bang e Xiang Yu estavam lutando. No final, Xiang Yu foi preso. Ele não se renderia. O que fazer? Assim, Liu Bang teve uma ideia: ele organizou todos os seus soldados para cercarem Chubawang e cantarem músicas de sua cidade natal. Eles não tinham mais disposição de lutar. As tropas simplesmente se dissolveram”, disse Zhong.

“Na China, nós chamamos isso de ‘inimigos vindo de todos os lados”. Agora, o Partido Comunista está nesta situação. Este é o efeito dos ‘Nove Comentários’ e do Tuidang.”

Resistência das aldeias

Uma série de incidentes em 2011 e 2012 ilustra o impacto direto do movimento Tuidang e dos esforços dos praticantes do Falun Gong em explicarem a si mesmos e a perseguição de sua disciplina para o povo chinês.

A Anistia Internacional documentou um caso em que 2.300 habitantes próximos de Tianjin assinaram seus nomes em petições em nome de Zhou Xiangyang, um praticante do Falun Gong. Li Shanshan, a esposa de Zhou, viajou até as aldeias, explicou a história de sua família e a perseguição implacável do PCC a seu marido e os convenceu a assinarem seus nomes na petição, numa situação de risco pessoal.

Incidentes quase idênticos ocorreram na vila de Zhouguantun na província de Hebei, onde 300 famílias assinaram uma petição exigindo a libertação de Wang Xiaodong, um professor e praticante do Falun Gong local. A pressão levou o procurador do Estado, que normalmente participaria na perseguição, a enviar o caso de volta às autoridades locais do PCC. No entanto, os oficiais locais buscaram vingança, coagindo os moradores a renunciarem seu apoio a Wang enquanto as autoridades da segurança registravam os processos em câmeras de vídeo.

No nordeste da China, 15 mil moradores assinaram uma petição apelando às autoridades para investigarem o caso de um praticante do Falun Gong, aparentemente espancado até a morte sob custódia. Qin Rongqian, a filha do falecido, organizou a petição por vários meses.