Em toda a China, no início de cada ano letivo, estudantes são transferidos a contragosto para campos de treinamento militar por dias ou semanas, quando são sujeitos a um regime rigoroso de exercícios paramilitares, destinado a testar sua resistência e mostrar sua obediência às autoridades. Os estudantes participam dos programas – eles não têm escolha, afinal de contas –, mas numa série de incidentes recentes, a abordagem dura dos instrutores militares provocou conflitos violentos com os adolescentes enviados para treinamento, resultando em várias mortes.
“Homens tiveram de raspar suas cabeças, não mais do que 3 milímetros de cabelo, e foram punidos sendo obrigados a sentar-se em poças de água”, disseram universitários que realizaram o treinamento militar, à mídia estatal recentemente.
Fotos de calouros da Universidade de Política e Direito do Noroeste, na cidade de Xi’an, província de Shaanxi, mostraram alunos em uniformes militares marchando sob a chuva forte enquanto seguravam guarda-chuvas em 14 de setembro, informou o China Business News. Quando a chuva diminuiu eles foram orientados a fechar os guarda-chuvas e prosseguir os exercícios na chuva mais branda, disse o artigo.
Se a postura de um aluno não satisfizesse os instrutores, ele seria instruído a repetir dezenas de vezes sentar-se numa poça e ficar de pé. As estudantes mulheres foram instruídas a observar o castigo dos homens, uma medida destinada a aumentar a humilhação, disse um dos estudantes.
Treinamentos militares são realizados em escolas de ensino médio, faculdades e universidades em toda a China, normalmente no início do primeiro semestre do primeiro ano escolar. A provação pode durar de alguns dias até mais de um mês, dependendo da localização na China. Os alunos são normalmente enviados para uma base militar onde os soldados e reservistas se encarregam deles.
Um instrutor militar reconheceu que a experiência pode ser difícil, numa entrevista com a mídia chinesa, mas disse que o objetivo do treinamento duro é tornar os alunos mais firmes, de modo que sejam capazes de suportar maiores dificuldades posteriormente.
No entanto, uma série de escândalos tem ofuscado argumentos desse tipo. O castigo físico infligido por instrutores militares por vezes feriu gravemente os estudantes e em vários casos provocou mortes.
Em 10 de setembro, por exemplo, um aluno de 13 anos na cidade de Baoding, província de Hebei, foi mandado para casa no meio do treinamento militar, porque o instrutor disse que ele estava muito cansado. Quando chegou a casa, ele começou a vomitar e desmaiou. Ele morreu no hospital no dia seguinte e o médico disse que foi devido a um ferimento grave na cabeça. Os pais suspeitam que ele foi severamente espancado no campo de treinamento militar.
Um incidente semelhante ocorreu em 9 de agosto em Qingdao, província de Shandong, quando um jovem de 15 anos morreu de insolação durante o treinamento militar. Outros casos de morte foram notificados este ano.
Uma estudante do ensino médio na cidade de Jingdezhen, província de Jiangxi, suicidou-se durante o treinamento militar em 6 de setembro, pulando num rio perto da escola, após ser repreendida pelo instrutor por não usar seu uniforme militar.
Estudantes masculinos foram punidos sendo colocados para fazer flexões enquanto alunas se deitando no chão na frente deles, durante o treinamento militar na Universidade Normal de Nanjing. A notícia, com fotografias, foi amplamente divulgada, e os leitores reagiram com indignação, dizendo que o castigo era totalmente inadequado.
Um conflito em grande escala eclodiu entre alunos e instrutores militares em 25 de agosto no condado de Longshan condado, província de Hunan. Um dos instrutores começou a chutar e espancar um aluno com varas, pelo que ele disse ter sido uma falta de respeito com outro treinador. Isso desencadeou numa grande briga entre os grupos. Um instrutor foi espancado até a inconsciência e precisou ser hospitalizado, enquanto muitos estudantes sofreram fraturas ósseas. As autoridades locais disseram que os dez treinadores envolvidos seriam multados e detidos, embora o anúncio não tenha indicado se eles continuarão a desempenhar suas funções.
Estes escândalos de treinamento militar provocaram discussões acaloradas na China sobre a finalidade dos exercícios marciais para civis não alistados. “O único objetivo do treinamento militar é fazer os alunos se tornarem obedientes. Não há qualquer propósito…”, disse um blogueiro chinês popular, que tem mais de um milhão de seguidores no Sina Weibo. “Aprender sobre acampamento, saber reconhecer plantas e animais ou participar de atividades beneficentes são muito mais úteis do que o treinamento militar, que se resume principalmente a marchar.”