Artigos na mídia estatal chinesa indicam que o ex-chefe do Partido em Chongqing, Bo Xilai, pode enfrentar punições mais duras do que simplesmente ser removido de seu posto no Partido, de acordo com os comentaristas. Num sinal da gravidade de como Pequim está conduzindo o caso de Bo Xilai, esforços têm sido feitos para explicar aos membros do Partido e ao público.
A mídia estatal porta-voz do regime, Xinhua, anunciou em 10 de abril às 11 da noite que o ex-peso pesado do Partido, Bo Xilai, foi removido de suas posições no Comitê Central e no Politburo do Partido Comunista Chinês (PCCh). Um minuto depois, através dos mesmos meios de comunicação, veio o anúncio de que a mulher de Bo, Gu Kailai, foi entregue às agências legais em conexão com a morte suspeita de Neil Heywood, um empresário britânico de 41 anos.
A mesma notícia também estourou em todo Weibo, o maior serviço de microblogue na China Continental similar ao Twitter, mas foi rapidamente censurada.
Segundo o jornal Ming Pao de Hong Kong em 11 de abril, o PCCh emitiu documentos para oficiais municipais e do alto escalão do Partido, transmitindo informações relacionadas a Bo e sua esposa para as chamadas “sessões de estudo” explicando por que Bo estava sendo removido do Partido.
No entanto, o Ming Pao relatou que os documentos foram imediatamente retomados, por razões que não são claras. O Ming Pao também relatou que os conselhos editoriais dos principais jornais de Pequim foram chamados para reuniões para discutir a cobertura da questão Bo.
Comentaristas dizem que este tipo de tratamento de um alto oficial do Partido não é visto desde a Revolução Cultural há mais de 30 anos.
As reações céticas
Após a reportagem do Xinhua, muitas respostas céticas apareceram online sobre o escândalo de Bo e o que está realmente provocando a atual turbulência nos escalões superiores do Partido.
Liu Gang, um ex-líder do movimento estudantil de 1989 em Tiananmen, escreveu no website Blogue do Movimento Jasmim Chinês que, de acordo com os métodos habituais do PCCh, qualquer coisa relacionada a um membro do Politburo é acobertada, e qualquer crítica pública só acontece quando uma figura de alta posição perdeu toda a influência política.
Liu questionou a forma como a investigação sobre a suspeita de assassinato de Heywood estava sendo realizada. Ele ressaltou que, até que o caso esteja finalizado, ninguém estaria autorizado a revelar publicamente informações sobre o caso. Liu perguntou, por que o PCCh se apressou em divulgar o suposto crime da mulher de Bo?
O colunista do Epoch Times, Wang Hua, disse, “A reportagem do Xinhua engana a opinião pública. Quando Xi Jinping visitou os EUA em 15 de fevereiro, as autoridades norte-americanas já haviam dito à imprensa que Wang Lijun expôs o maior crime de Bo Xilai, que era a conspiração planejada com Zhou Yongkang parar deter Xi Jinping de tomar posse.”
Outro comentarista do Epoch Times, Zhang Tianliang, acredita que, “Se alguém revela informações sobre a corrupção de Bo Xilai, prostituição ou até mesmo ajuda a acobertar o suposto crime de sua esposa, tudo isso visa diluir a real importância do caso de Bo Xilai.”
Maior tempestade política
No artigo do Xinhua sobre a esposa de Bo, com 53 anos, ser presa pela polícia, Gu foi referida como “Bo-Gu Kailai”, um nome que ela nunca usou.
O Prof. Weifang da Escola de Direito da Universidade de Pequim escreveu em seu microblogue, “[Isto é] difícil de explicar, seu sobrenome é Gu, por que o sobrenome do marido está na frente? Ela imigrou para o Ocidente, ou são (as autoridades) tentando associá-la com seu marido? Este drama ainda não acabou, [está] ficando mais e mais agitado.”
O comentarista social Wen Zhao disse ao Epoch Times, “Os dois conjuntos de notícias vieram juntos, dizendo que Bo Xilai estava sendo investigado pela Comissão Central de Inspeção Disciplinar e sua esposa Gu Kailai é suspeita de homicídio, e foi entregue aos aplicadores da lei, o que significa basicamente que ela está presa. Colocando estas duas notícias juntas, a indicação é clara, ou seja, que Bo Xilai enfrenta não simplesmente o fim de sua carreira política; ele enfrenta punição muito mais séria.”
No mesmo dia em que a agência de notícias Xinhua anunciou a decisão contra Bo, com 62 anos, o Diário do Povo publicou um artigo editorial que definia um tom político. O editorial refere-se ao “incidente de Wang Lijun”, a tentativa do ex-chefe de polícia em Chongqing de pedir asilo no consulado dos EUA em 6 de fevereiro. A fuga de Wang pôs em movimento os eventos que levaram aos anúncios envolvendo Bo e Gu em 10 de abril.
O editorial disse, “A partir das evidências, parece que o incidente de Wang Lijun é um grande incidente político com sérios impactos negativos tanto no estrangeiro como em casa. A morte de Neil Heywood é um caso criminal sério envolvendo dirigentes do Partido e do Estado, e seus parentes próximos e funcionários. Bo Xilai violou gravemente a disciplina do Partido e trouxe prejuízos para o Partido e o país, e prejudicou seriamente a imagem do Partido e do país.”
Shi Zangshan, um especialista em China baseado em Washington DC, disse ao Epoch Times que o editorial do Diário do Povo, “não só revelou que Bo pode ter violado a lei criminal, mas também deve ser responsável pelo ‘sério incidente político’ de Wang Lijun”.
Shi disse que o PCCh não anunciou que tipo de problemas políticos o ex-secretário do Partido em Chongqing possa ter. Na opinião de Shi, o editorial do Diário do Povo indica que Bo pode ser acusado de conspiração e traição.
Shi afirmou que “este é um prelúdio de uma tempestade política ainda maior”.
Pequim aperta o controle
Enquanto isso, todas as principais universidades da China realizaram reuniões de emergência do Partido em torno das 10 horas horário de Pequim em 10 de abril, apenas uma hora antes da publicação dos artigos do Xinhua sobre Bo e sua esposa. Fontes dizem que as reuniões foram realizadas para informar os estudantes e funcionários da universidade de acordo com as mesmas linhas apresentadas pelos artigos do Xinhua e do Diário do Povo.
Ao mesmo tempo, notícias no Weibo declararam que havia forte controle de tráfego da polícia em Pequim e arredores.