O exame do pulso é um dos principais métodos para conhecer a localização e a natureza da enfermidade na medicina chinesa, sendo indissociável da prática da acupuntura e fitoterapia. No ocidente e até mesmo no oriente, atualmente, seu valor tem sido reduzido devido à complexidade de sua avaliação e do caráter místico atribuído por alguns profissionais que possuem um entendimento superficial da técnica.
Para entender corretamente o que os pulsos nos revelam, antes é necessário compreender profundamente as bases da anatomia, fisiologia energética e as teorias de base. Pouco adianta procurar sentir através da palpação algo que o intelecto ainda não assimilou mediante completa iconografia do pulso, suas características e o significado subjacente.
Segundo Porket: “Tirar sentido das diferenças sutis sentidas nas posições dos pulsos sem a mais estrita referência e conscienciosa atenção aos instrumentos intelectuais preparados para essa finalidade ao longo de quase 2.000 anos, é como uma tentativa de interpretar um eletrocardiograma depois de se recusar todo o conhecimento ensinado sobre essa técnica médica nas faculdades por meio de física, fisiologia e medicina clínica”.
Então o que necessitamos é de suporte intelectual adequado e mãos bem treinadas.
Outro fator que impede uma correta leitura dos pulsos é a desconexão do homem com o meio natural, o qual desviou-se do Tao e da compreensão básica das leis naturais.
Os pulsos variam de acordo com o período lunar, estação do ano e também de acordo com a circulação energética humana onde a energia é mais proeminente em determinado sistema a cada duas horas.
O Nan-ching (Clássico das Dificuldades) diz que no inverno o pulso é como pedras em um riacho, ou seja, profundo e firme. Na primavera é tenso, longilíneo. No verão é amplo e cheio, tal como a estação que prolonga e amadurece o impulso da vida desenvolvido na primavera. No outono é superficial e disperso como “cabelos ao vento”, dando a ideia de algo em dispersão, só pode ser sentido na superfície e com suavidade no toque, caso contrário a sensação é perdida. De acordo com a fase lunar, na lua nova as energias estão no início de uma nova fase e é normal o pulso manifestar-se fraco. Já na lua cheia a energia e o sangue são abundantes e o pulso revela-se forte e cheio.
Na imagem vemos o pulso dividido em três sessões. Cada região do pulso é avaliada em três distintas profundidades. Por meio desse exame é possível conhecer o estado energético dos órgãos e o estado da circulação de energia e sangue em nosso organismo nessas 3 regiões, pois revelarão, por certas características, as desordens nessas áreas.
Por incrível que pareça um profissional experiente pode saber o sexo de um bebê já no primeiro mês de gestação, muito antes de poder verificar mediante exames de imagem, pois o estado energético já se revela. A medicina chinesa evidencia sua supremacia quando o que não pode ser visto já pode ser conhecido pelo entendimento da bioenergética.
Como na medicina chinesa os órgãos são responsáveis também pelo nosso psiquismo, por meio da insuficiência ou do excesso energético, podemos traçar o perfil psíquico de uma pessoa pela avaliação do pulso sem mesmo conhecê-la. É nessa hora que muitas pessoas acham que há algo de místico no profissional, visto que afirma com relativa precisão muitos dados sem que tenha sido relatado pelo paciente. Mas não há nada de místico. Se fosse assim seria muito fácil, bastaria ser um iniciado em uma arte esotérica. A realidade é que por detrás do véu da simplicidade existe uma extensa base teórica, relatos clínicos e muito treinamento para poder fazer a ligação entre o que sente e as teorias de base da pulsologia chinesa.
Além de servir como um dos métodos diagnósticos, serve também como parâmetro no acompanhamento do processo de cura ou adoecimento, sendo que muitas condições descritas pelos tratados de pulsologia indicam quadros onde a atuação já não é mais possível e a morte é iminente.
No Tibet existem vários relatos de médicos tradicionais que preveem, inclusive, o tempo de vida que resta a uma pessoa. Mais uma vez saliento que não se trata de esoterismo ou superstição, e sim, de uma extensa prática clínica enriquecida com o entendimento de um clínico superior.