Destacados economistas concordaram que o próximo governo argentino vai se deparar com um cenário complexo no país, que só poderá ser revertido com políticas econômicas ativas, como parte do primeiro dia do Congresso Econômico Argentino (CEA), realizado em 17 de março no Hotel Hilton, em Buenos Aires.
Durante todo o dia, os economistas fizeram uma análise da situação atual da economia, das perspectivas futuras e dos desafios do próximo governo.
O CEA foi realizado na terça-feira e quarta-feira no Expo EFI, Exposição Argentina de Economia, Finanças e Investimentos, com seminários, workshops e palestras com personalidades de destaque.
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No primeiro painel, que teve a sala lotada, dissertaram o proprietário da consultoria Econviews, Miguel Kiguel; o diretor da EFI, Daniel Artana; o economista chefe da Economia & Regiones, Diego Giacomini e o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidad Católica Argentina (UCA), Juan Carlos De Pablo, os quais, apesar de suas diferentes formas de expor, todas muito agradáveis, tiveram vários pontos de concordância.
Kiguel disse em seu discurso que o legado que o atual governo vai deixar para quem assumir em dezembro será complicado, uma vez que receberá o comando juntamente com uma taxa de câmbio desvalorizada, inflação alta (entre 25 e 30%), um déficit orçamentário de 6% do PIB, reservas internacionais baixas, acesso limitado ao mercado de capitais e em default (situação de calote).
“…a herança que receberá a próxima administração é uma instabilidade no sistema de preços. Isso vai ser um dos grandes desafios do próximo governo”, acrescentou.
Em entrevista ao Epoch Times em espanhol, Kiguel disse que durante o evento foram expostas as dúvidas sobre o será deixado pelo atual governo e “como o próximo governo, seja ele qual for, conseguirá resolver o déficit fiscal e os outros problemas deixados pelo presente governo”.
No que diz respeito aos ajustes que precisam ser feitos, disse que cada variável terá um tratamento diferente. “Há variáveis a serem ajustadas rapidamente, como por exemplo eliminar os estoques e unificar a taxa de câmbio, e há outras que demorarão um pouco mais, como o déficit fiscal”, expressou.
Entretanto, Artana alertou em seu discurso que “2015 será semelhante a 2014, mas com déficits fiscais elevados provocados pela emissão de moeda e as reservas do Banco Central além de uma recessão de 2%, a menos que se consigam dólares”. Sobre o legado que será deixado pelo atual governo, ele disse: “O legado vai ser muito pesado, porque a taxa de câmbio atual é insuportável, o déficit fiscal é muito alto, a inflação caiu, mas permanece em níveis elevados e as reservas brutas são razoáveis, mas a liquidez é baixa”.
Para o Epoch Times em espanhol, Artana disse que o próximo governo deverá canalizar a economia e lamentou que o atual governo não tenha sabido aproveitar as oportunidades. O economista citou como exemplo o ano de 2011, quando a presidente Kirchner ganhou mais de 50% dos votos e disse que em vez de usar o “capital político” para resolver os problemas econômicos, “foram usadas as reservas e tentou-se tapar o sol com a mãos “.
Ele também enfatizou que existem muitas oportunidades para o próximo governo, mas que ele deverá ser “normal”, uma vez que o atual governo argentino não fez bem nas questões político-econômicas dos últimos anos.
Por sua vez, Giacomini disse durante seu discurso que “é necessário retomar o caminho do crescimento que a Argentina perdeu nos últimos 12 anos” e que “o modelo de crescimento através do consumo está esgotado, agora é vital poupar”. No entanto, em 2016, observou que “a taxa de câmbio não é o único problema” e assinalou a necessidade de que o próximo governo encare a reforma fiscal e monetária como o principal desafio.
“Será necessário realizar reformas fiscais, monetárias e da dívida. Não é suficiente uma desvalorização porque se não for resolvido o problema subjacente, que é o gasto público excessivo e a carga tributária, não há taxa de câmbio que resista. Seja com uma política de choque ou gradual, é preciso baixar os impostos para gerar poupança, porque a poupança assegura o investimento “, disse ele.
Em conversa com Epoch Times em espanhol, Giacomini disse que “o cerne do problema devido ao qual a Argentina não cresce é que existe um nível excessivo de gastos públicos e isso, além da alta carga tributária, sufoca o setor privado.”
“O modelo de crescimento tem de ser com base na poupança, e não no consumo. Com mais poupança, há mais financiamento, mais investimento, maior acumulação de capital, aumento da criação de empregos e maior bem-estar para todos os cidadãos que vivem na Argentina”, acrescentou.
Da mesma forma, De Pablo centralizou seu discurso na dificuldade de prever os fenômenos econômicos. “A chave é estudar as circunstâncias, mas não existem muitos fatos independentes. Frente a um mesmo desafio pode-se fazer uma brincadeira ou aproveitar uma oportunidade”, disse ele sobre o fato de que, frente aos desafios, o próximo governo terá que, em sua opinião, ser “muito enérgico”.
Em entrevista ao Epoch Times em espanhol, o professor disse que a primeira coisa que deveria se perguntar o próximo ministro da Economia é “qual é o papel que eu desempenho e qual é a relação entre governo e sociedade? e a partir disso falar sobre política econômica.”