Em face de uma desaceleração da economia, as autoridades locais na China planejam estimular o crescimento através de grandes programas de investimento. No entanto, segundo especialistas, esta nova versão de uma ferramenta política que já foi aplicada antes não acabará bem.
Desde o início de julho, os governos regionais na China têm anunciado planos de investimento totalizando mais de 7 trilhões de yuanes (1,1 trilhões de dólares), que serão distribuídos ao longo de vários anos. Este desenvolvimento vem depois de um discurso de abril do primeiro-ministro Wen Jiabao que pediu crescimento econômico estável. Para a China, estável significa crescimento de 7-9% ao ano. O Wall Street Journal observou que não está claro o período de tempo de aplicação dos pacotes e se algum deles foi anunciado anteriormente.
Em 20 de agosto, uma reunião de planejamento econômico realizada em Guangzhou concluiu que a província de Guangdong iniciará 177 projetos de investimento com um volume total de 1 trilhão de yuanes (157 bilhões de dólares) para expandir a economia marítima da província, segundo a 21st Century Media, um portal de notícias chinês focado em economia e finanças. Guangdong é uma região costeira no sul que gera 21% da produção marítima da China e o investimento será focado em áreas como ciência e tecnologia marinhas, turismo costeiro e proteção ecológica marinha.
No mesmo dia, a cidade de Chongqing, no sudoeste da China, decidiu investir 1,5 trilhão de yuanes (236 bilhões de dólares) para construir aglomerados empresariais em áreas como tecnologia e informação, fabricação de automóveis, energia, petróleo, gás natural e materiais químicos, segundo a mídia estatal.
Outro governo local que fará estímulos pesados é Ningbo, na província de Zhejiang, que planeja expandir seu transporte público. O anúncio foi feito em 16 de julho. Semelhantes planos de investimento do governo local também foram anunciados nas províncias de Hunan, Jiangsu e Hebei.
Enquanto o volume e alcance dos projetos são enormes, especialistas suspeitam que devido à corrupção endêmica no país e à dívida local, o estímulo provavelmente criará mais problemas.
“Uma política monetária e fiscal frouxa antes de 2008 foi a razão de a China ficar exposta a maior risco financeiro durante a crise financeira global e um pacote de estímulo de mais de 4 trilhões de yuanes (630 bilhões de dólares). As consequências financeiras para a China dos últimos quatro anos incluem dívidas de cobrança duvidosa [de projetos de investimento], bem como dívidas de governos locais, e precisarão de tempo para serem resolvidas”, disse Liao Shiming, um analista do sistema financeiro chinês baseado em Washington DC.
Ele disse que o pacote de estímulo provavelmente aumentará o fluxo de dinheiro para o setor imobiliário e produzirá o aumento do preço dos imóveis.
O fato de que os governos locais estão gravemente endividados tornará mais difícil realizar esses projetos de investimento, disse Frank Tian Xie, um professor da Escola de Administração da Universidade da Carolina do Sul Aiken. O Dr. Xie assinalou que relatórios estaduais não lançaram luz sobre como esses projetos serão financiados e se forem encerrados devido a problemas de financiamento, demissões em larga escala serão inevitáveis.
O povo chinês provavelmente pagará a conta quando esses projetos falharem, disse He Qinglian, uma especialista em economia chinesa baseada nos EUA. O estímulo de 2008, lançado pelo regime comunista chinês, resultou em inflação e numa bolha imobiliária. Ela disse que as iniciativas locais repetem o erro coordenado centralmente.