Protestos na China violentamente reprimidos antes de oficiais se renderem

10/07/2012 03:00 Atualizado: 10/07/2012 03:00

Manifestantes encontram a polícia de choque na cidade de Shifang, na província de Sichuan. (Weibo.com)Incidente viu maior participação da juventude e censura inteligente

Depois que dezenas de milhares de chineses numa pequena cidade no sudoeste do país foram às ruas para protestar contra um projeto industrial, virando carros, invadindo escritórios do governo e destruindo propriedade pública depois de terem sido violentamente reprimidos pela polícia de choque, o governo recuou em seus planos e libertou 21 das pessoas que haviam sido presas.

Os protestos violentos na cidade de Shifang, na província de Sichuan, eclodiram na segunda-feira contra a construção de uma refinaria de liga de cobre-molibdênio. A polícia moveu-se rapidamente para dispersar a multidão usando gás lacrimogêneo e cassetetes. No entanto, os meios violentos utilizados para controlar a multidão provocaram fortes críticas, com fotos postadas online da violência cometida contra os manifestantes e alegações de pessoas espancadas até a morte nas ruas.

Participação dos jovens

Uma série de protestos foi parcialmente caracterizada pela participação de um público mais jovem, que cada vez mais exigem seus direitos no sistema comunista chinês e expressam sua insatisfação através de mídias sociais.

Xia Yeliang, um professor da Universidade de Pequim que regularmente comenta sobre movimentos sociais no país, caracterizou o evento de “algo significativo” numa postagem entusiasmada no Twitter.

Um slogan dizia, “Nós podemos sacrificar a nós mesmos, nós nascemos nos anos 90”, apareceu numa parede em Shifang e foi publicado online.

“Estas são as palavras mais otimistas já ditas nos últimos 23 anos”, escreveu um observador, referindo-se ao tempo que passou desde o massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989. “O homem nascido na década de 60 que tentou parar os tanques com seu próprio corpo, agora tem um sucessor”, disse um internauta no Twitter, referindo-se a uma imagem icônica da época.

Propaganda diferente

O incidente atraiu enorme atenção dentro da China, incluindo de um número de destacados comentaristas. A edição chinesa do Financial Times publicou uma coluna relativamente longa citando respostas da mídia, incluindo críticas de porta-vozes pró-governo como Kong Qingdong, que tentou defender os oficiais locais do Partido Comunista Chinês (PCC).

A pressão posta sobre as autoridades pelos manifestantes surtiu efeito. Na tarde de 3 de julho, o governo da cidade de Shifang anunciou que havia interrompido os planos de continuar o projeto.

As autoridades de Shifang tentaram aproveitar ao máximo a oportunidade, tentando transformar a embaraçosa situação em propaganda. A postagem no blogue oficial da cidade no website Weibo disse, “Muitos cidadãos têm resolutamente apoiado a grande decisão do Comitê de Cidade, que conscientemente escolheu proteger a estabilidade social e ativamente melhorar a vida das pessoas.”

Um internauta satirizou as observações do Weibo, dizendo, “Vocês foram obviamente obrigados a cancelar o projeto, mas vocês viraram as coisas e fingem que as pessoas os apoiaram. Vocês têm qualquer vergonha?”

Censores da internet chinesa adotaram uma abordagem um pouco mais sofisticada desta vez. Ao invés de pesquisas definitivamente bloqueadas para o termo “Shifang”, como é o modus operandi habitual, tais pesquisas foram autorizadas, mas foram eliminadas em massa, segundo uma revisão de eliminações recentes realizada pelo Projeto Mídia da China, feito na Universidade de Hong Kong.

Internautas chineses foram rápidos em notar uma ocorrência aparentemente relacionada com o mercado de ações: ‘Ações do Grupo Biotech de Chenguang subiram 10% em 3 de julho’, em meio aos protestos violentos em Shifang. A empresa produz uma série de produtos alimentares, incluindo capsaicina, que é usado para fazer bombas de gás lacrimogêneo. O uso irrestrito de gás lacrimogêneo pela polícia em Shifang foi amplamente documentado em relatos online.

Quando contatados pelo Epoch Times para verificar as alegações, o pessoal transferiu a ligação pelo menos quatro vezes. Um gerente finalmente disse, “Eu não tenho opinião sobre isso. Nós temos um produto que é um precursor das substâncias utilizadas em bombas de gás lacrimogêneo, mas nós não fazemos gás lacrimogêneo.”