Ativistas de 55 países participarão de um protesto global neste mês contra a gigante da biotecnologia Monsanto. De acordo com a organizadora do protesto Tami Monroe Canal, a ideia nasceu da frustração.
“Nos primeiros meses após me mudar para Utah, não tive acesso a mercados agrícolas e a produtos frescos como eu estava acostumada na Califórnia”, disse Tami. “Fiquei cada vez com mais raiva quando ia ao supermercado e gastava uma pequena fortuna para garantir que não estava alimentando minha família com veneno.”
Tami começou o projeto como uma página no Facebook em 28 de fevereiro e diz que sua ira foi aumentada pelo fracasso da campanha Proposta 37 da Califórnia para rotular os organismos geneticamente modificados (OGM). A medida falhou, mas a luta lhe forneceu uma imagem mais clara sobre os OGMs, a Monsanto e os fabricantes de alimentos, que gastaram US$ 45 milhões para derrotar a iniciativa.
“A Proposta 37 realmente abriu meus olhos para o que os OGM realmente são e como eles podem prejudicar a saúde humana”, disse Tami. “Eu simplesmente não poderia mais em sã consciência alimentar minha família com isso.”
Os consumidores não compram produtos diretamente da Monsanto, mas o milho e a soja transgênicos da empresa dominam o mercado norte-americano. O protesto incentiva pessoas a participarem do crescente boicote a empresas que utilizam OGM – incluindo a Kellogg e a General Mills – como uma forma de mudar o sistema.
O Anonymous apoiou o evento próximo, mas os organizadores dizem que a maioria das pessoas envolvidas na marcha nunca foi a um protesto antes. De acordo com o Tami, pessoas de todas as esferas da vida compartilham sua frustração.
“A comida afeta a todos”, disse ela.
Linha embaçada
A Monsanto tem um legado de produtos polêmicos e venenosos – como PCB, Agente Laranja, DDT, hormônio de crescimento bovino (rbGH), Roundup e aspartame, para citar alguns poucos. No entanto, nas duas últimas décadas, o foco principal da Monsanto tem sido os OGM e muitos temem que a nova tecnologia alimentar ameace a saúde humana.
A Administração de Drogas e Alimentos (FDA) dos EUA afirma que os transgênicos são seguros, mas muitos agricultores, médicos e pesquisadores discordam. As estimativas sugerem que cerca de 80% dos produtos alimentares dos EUA contêm ingredientes transgênicos. Sem rótulos para identificar os OGM, Tami diz que as pessoas precisam saber que há motivo para preocupação.
“Estamos tentando sensibilizar os consumidores”, disse ela, “porque quem em sã consciência dará aos filhos algo que provocará todas estas questões adversas à saúde.”
Logo após Tami desenvolver a ideia da marcha e do boicote, ela contou com a ajuda da experiente ativista e jornalista Emilie Rensink de Seattle.
Enquanto críticos têm se manifestado contra a Monsanto por anos, Rensink diz que uma combinação de decisões políticas impopulares e mídias sociais criou as condições ideais para uma grande manifestação.
“Esse foi um tipo de tempestade perfeita”, disse ela.
A atenção sobre a marcha ganhou velocidade logo após o presidente Barack Obama assinar uma lei de orçamento que incluía uma medida apelidada de Lei de Proteção Monsanto. No entanto, os críticos dizem que a recente legislação é apenas um exemplo da linha tênue entre a indústria e o governo.
“Acho que a receita para o sucesso [da Monsanto] é devido em grande parte ao favoritismo político que ela recebe nos Estados Unidos”, disse Rensink. “A FDA é liderada por ex-executivos da Monsanto e eles lhes dão subsídios especiais em detrimento de pequenos agricultores e outras operações agrícolas. Eles recebem uma vantagem injusta em minha opinião.”
Tami citou Michael Taylor, que durante as duas últimas décadas alternou sucessivamente entre seu trabalho como advogado da Monsanto e chefe da regulamentação alimentar dos EUA.
“Há um enorme conflito de interesses na posição de poder que ele detém”, disse Tami. “Eu honestamente acho que a intermediação do governo é inútil a essa altura, porque a FDA está emaranhada com a Monsanto.”
Embora os órgãos reguladores dos Estados Unidos tenham demonstrado pouca preocupação pelos OGM; fora dos EUA, a pressão tem sido muito mais significativa. De acordo com o Projeto Não-OGM, nações mais desenvolvidas etiquetam, restringem ou proíbem os OGM.
Num e-mail, Tom Helscher, o porta-voz da Monsanto, disse que a empresa não tinha qualquer declaração sobre o próximo protesto. No entanto, recentemente, Hugh Grant, o CEO da Monsanto, caracterizou os críticos dos OGM como elitistas da mídia social que ignoram os problemas alimentares urgentes dos menos afortunados.
“Há esse estranho elitismo reverso: Se alguém decide fazer algo, então tudo mais não deve existir”, disse Grant à Bloomberg numa entrevista em 14 de maio. “Há espaço na prateleira de supermercado para todos nós.”
Apoiadores da Monsanto apontam que a empresa promete enfrentar a fome no mundo com o aumento da produtividade agrícola e preços mais baixos dos alimentos, mas os críticos discordam dessas afirmações.
Em Seattle, manifestantes marcharão em frente à Fundação Bill e Melinda Gates para destacar o que consideram ser uma instituição que ajuda a promover a agenda dos OGM.
“Bill Gates tem sido um grande defensor dos OGM como solução para a fome no mundo”, disse Rensink, “mas os estudos mostram que os OGM não produzem rendimentos maiores. Assim, a noção de que os OGM são capazes de alimentar o mundo é de fato apenas uma afirmação vazia.”
A marcha e o comício em Salt Lake City contarão com presença de um veterinário vietnamita que discutirá como ele perdeu amigos vítimas do Agente Laranja; um apicultor que falará sobre o perigo que os pesticidas da Monsanto representam para a população de abelhas; e uma apresentação da organização ‘Grow Food Not Lawns’ (‘Cultive Alimentos Não Gramados’) sobre autosustentabilidade e como apoiar cooperativas orgânicas.
À semelhança de outros locais ao redor do mundo, Salt Lake também contará com bandas tocando músicas de protesto contra a Monsanto e os OGM.
“Tentaremos manter um ambiente alegre”, disse Tami, “mas quero que as pessoas entendam a gravidade do problema e percebam que é hora de se levantar e se posicionar contra algo tão errado.”
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