Protestos antinucleares na Índia seguem a ideologia de Gandhi

12/06/2013 17:37 Atualizado: 13/06/2013 13:59
Aldeões próximos da usina nuclear de Kudankulam no Estado de Tamil Nadu, Índia, relembrando as vítimas de Hiroshima (Epoch Times / Amrithraj Stephen)
Aldeões próximos da usina nuclear de Kudankulam no Estado de Tamil Nadu, Índia, relembrando as vítimas de Hiroshima (Epoch Times / Amrithraj Stephen)

Amrithraj Stephen, fotojornalista indiano, esperava outro protesto Biriyani – nome de um prato popular indiano – próximo a uma usina nuclear projetada na vila costeira de Idinthakari no Estado de Tamil Nadu, na Índia.

O que ele encontrou em vez disso foi uma revolta em massa, não-violenta, raramente vista desde que Mahatma Gandhi faleceu há mais de seis décadas.

“Até agora, eu tinha visto protestos Biriyani, mas pela primeira vez eu pude ver um verdadeiro protesto ao modo Gandhi”, disse Stephen.

Ele explicou que os protestos Biriyani envolvem na sua maioria jovens desempregados ou outras pessoas economicamente desfavorecidas que se reúnem em protestos organizados por partidos políticos “que prometem um pouco de Biriyani e algum dinheiro”. É comum para os partidos políticos em Tamil Nadu organizarem protestos oferecendo esses incentivos nos comícios.

Stephen estava em Nova Delhi quando os protestos começaram. Foi durante uma viagem à sua aldeia natal, próxima a Idinthakari, que a curiosidade o levou para o local. “Quando cheguei lá e vi a energia dos protestos em massa, eu senti que não era apenas um protesto, mas uma revolução”, ele disse.

Stephen conversou com os manifestantes e sentiu que as suas preocupações eram genuínas, depois começou a fotografar.

“Os meios de comunicação regionais de Tamil Nadu pertencem a vários partidos políticos, e estavam divulgando informação muito tendenciosa desde o início”, disse Stephen. “Decidi então documentar o fato plenamente.”

Seguem por mais de um ano os protestos em Idinthakari contra a usina de energia nuclear em construção na cidade vizinha de Kudankulam. Liderado pelo Movimento Popular Contra a Energia Nuclear (MPAEN), em Tamil Nadu, os protestos exigem que seja paralisada a construção da usina. De acordo com Stephen, até março de 2012, o governo do estado de Tamil Nadu apoiou os manifestantes.

“Em março de 2012, quando o resultado das eleições de Tamil Nadu foram anunciadas, o governo estadual mudou seu discurso e afirmou que a usina é segura. Nesse momento viu-se a raiva da população e a vila foi imediatamente cercada pela polícia. Todos os suprimentos básicos, água e energia elétrica foram interrompidos para a aldeia por alguns dias”, disse Stephen.

Em entrevista ao jornal Mail Today, o líder do MPAEN, Uday Kumar, também disse que o governo apoiou o movimento antes das eleições de outubro de 2011 visando formar uma grande bancada eleitoral, mas depois, voltou-se contra o movimento. Logo após a eleição da assembleia estadual, o governo lançou uma ofensiva contra os manifestantes, disse Kumar.

Os políticos querem ocupar os cargos disponíveis, portanto apoiaram os protestos antinucleares que ocorreram no período das eleições do distrito de Tirunelveli.

Não apenas um protesto, mas um modo de vida

Os protestos transformaram a comunidade, disse Stephen. “Os protestos pacíficos em Idinthakari tornaram-se um estilo de vida para as pessoas.”

Kumar, em uma ocasião, acalmou a multidão agitada dizendo que as pessoas devem ficar em paz, mesmo que leve um longo tempo para o protesto surtir efeito. A multidão imediatamente se acalmou, lembrou Stephen. Ele também elogiou a decisão dos membros da comunidade de parar de beber álcool.

“Durante os protestos, a comunidade teve a iniciativa de que ninguém beberia álcool. Nem todo mundo parou de beber ainda, mas a taxa de consumo tem decaído drasticamente”, disse ele.

Stephen também disse que percebe dentro de um dos maiores protestos em massa na Índia moderna – contra a usina de Kudankulam – valores da não-violência, do voluntarismo e da união na comunidade.

“Este protesto não é sobre uma usina nuclear, mas sobre toda a indústria nuclear no país. É também sobre como funciona a democracia na Índia “, disse Stephen.

Nos últimos protestos, cerca de 500 barcos de 10 aldeias costeiras do Distrito Tirunelveli participaram do cerco à usina nuclear de Kudankulam que fica de frente para o mar.

“Eu comecei a entender o modo de agir de Gandhi devido a esse protesto”, disse Stephen. “Mesmo as pessoas mais simples da comunidade que estão protestando falam sobre as ideologias de Gandhi. Muitas pessoas aqui estão com pensamentos de não-violência. Essa grande mudança aconteceu. ”

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