A recente proposta do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao de um “governo limpo” e do combate à corrupção “à luz do dia” é um passo corajoso que inspira esperança de que a China pode se reformar pacificamente e resolver os problemas de longa data sobre o Estado de Direito e os direitos humanos.
15 de abril foi o 23º aniversário da morte de Hu Yaobang, ex-líder reformista chinês e secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC). No mesmo dia, a mídia porta-voz do regime, Xinhua, publicou uma prévia do artigo anticorrupção de Wen Jiabao.
O artigo de Wen, “Que o poder seja exercido sob a luz do sol”, que em breve será publicado pela revista Buscando a Verdade, debruça-se sobre as novas conquistas da reforma governamental chinesa e as principais tarefas à frente na luta contra a corrupção.
No final do artigo, Wen declarou, “Nós vamos tomar medidas mais fortes para combater a corrupção e construir um governo limpo, sob a liderança do Secretário-Geral Hu Jintao.”
Levantando-se pelo povo chinês
A revista Buscando a Verdade é um importante porta-voz do estado chinês cujas histórias principais muitas vezes representam as orientações do Partido para a política e a opinião pública, de acordo com o colunista do Epoch Times, Xia Xiaoqiang.
Comentando sobre o artigo de Wen, Xia disse que não tem muito conteúdo novo. No entanto, é bastante incomum à luz da recente e intensa luta interna na cúpula da liderança do PCC, e, além disso, este artigo foi publicado no dia do aniversário da morte de Hu Yaobao.
Xia disse que Hu Dehua, o filho de Hu Yaobang, disse à imprensa chinesa cerca de um mês atrás, “A diferença entre meu pai e Deng Xiaoping é que Deng queria salvar o Partido, enquanto meu pai queria salvar o povo, o povo comum.”
Mas a coincidência da publicação do artigo de Wen com o aniversário Hu Yaobang não é tão incomum quando se considera que Wen costumava ser assistente de Hu Yaobang em seus anos mais jovens.
Hu Yaobang foi removido por ser muito reformista e liberal em sua condução dos protestos estudantis em 1987. Ele foi sucedido por Zhao Ziyang, que continuou muitas das reformas de Hu. Após a morte de Hu, em 1989, cerca de 100 mil estudantes tomaram a Praça Tiananmen, levando aos protestos estudantis e ao Massacre de 1989. Wen Jiabao foi orientado por ambos os líderes.
Wen também tem sofrido perseguição em sua família. Ao dar uma palestra em sua alma mater, a Escola Superior de Nankai, no ano passado, Wen revelou que seu pai e avô foram continuamente atacados em muitos movimentos políticos no passado.
De acordo com Xia, Wen está bem ciente do lado negro do PCC, seus crimes cometidos durante a Revolução Cultural, o Massacre de Tiananmen, e a perseguição ao Falun Gong. Ele também está ciente do envolvimento do poderoso Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), o aparelho da segurança doméstica, em muitos crimes hediondos de direitos humanos e corrupção desenfreada.
Zhou Yongkang, o chefe da CAPL e membro do Comitê Permanente do Politburo, e Jiang Zemin, o ex-líder do Partido, têm colaborado ativamente na perseguição do grupo espiritual do Falun Gong.
Xia disse que, embora o sistema do PCC tenha destruído a humanidade e a consciência de muitas pessoas, é uma grande coisa que alguns líderes do Partido, como Hu Yaobang, Zhao Ziyang, e Wen Jiabao, tenham ainda lugar em suas consciências e uma linha moral limite.
“A forma mais simples ‘à luz do sol’ que o povo chinês precisa é de uma internet sem censura, e um reconhecimento aberto das injustiças a que o povo chinês tem sido submetido, incluindo a perseguição de 13 anos ao Falun Gong”, disse Xia.
Li Tianxiao, um comentarista político e colunista do Epoch Times, disse que o artigo de Wen carrega profundas conotações políticas. Wen estava na verdade pedindo pelo apoio de admiradores de Hu Yaobang, a fim de expandir a aliança Hu-Wen e alienar a facção linha-dura de Zhou Yongkang e Jiang Zemin.
“Wen estava enviando uma mensagem clara, pedindo aos oficiais para tomarem o partido de Hu e Wen”, disse Li.
Wen também tem feito comentários sobre acabar a perseguição ao Falun Gong e tem pressionado Zhou para que os crimes contra o Falun Gong sejam expostos, incluindo a utilização generalizada de tortura e casos de extração forçada de órgãos.
Li disse que uma vez que esses crimes terríveis sejam tornados públicos, o povo chinês tomará uma posição sobre este assunto, e toda a sociedade chinesa sofrerá uma mudança fundamental.
Wen também disse no artigo, “O governo deve satisfazer as pessoas.” Li disse que é óbvio que os líderes querem caçar Zhou Yongkang, como Zhou não é mais apenas um criminoso condenado, mas também estava envolvido numa tentativa de golpe e muitos outros crimes.
Em 26 de março, na conferência anual do Conselho de Estado em oposição à corrupção, Wen também mencionou a necessidade de uma reforma, dizendo, “Se esta questão [a corrupção] não for resolvida, a natureza do poder político pode mudar, e o Partido pode perder seu poder de governar o país.” De acordo com uma fonte em Pequim, as observações de Wen visavam Zhou Yongkang e o CAPL.