Propaganda e submarinos nucleares na China

23/11/2013 10:29 Atualizado: 23/11/2013 10:29

Os submarinos nucleares têm sido um tópico favorito da mídia estatal do regime chinês recentemente, quando alardeando a força militar da China ou ameaçando o Ocidente. No entanto, apesar do barulho que a China faz sobre seus submarinos nucleares, eles não satisfazem exatamente a propaganda feita.

Jonathan Greenert, almirante da Marinha dos EUA, foi questionado sobre um artigo recente publicado na mídia estatal chinesa Global Times, que afirmou que submarinos da China poderiam matar de 5 a 12 milhões de americanos com mísseis nucleares. Greenert apontou várias falhas importantes nos submarinos chineses.

“Para um míssil balístico lançado de um submarino ser eficaz, ele deve ser preciso e você também precisa ser furtivo e capaz de sobreviver, mas ficarei por aqui”, disse Greenert em 16 de novembro no Fórum Reagan de Defesa Nacional, informou o Washington Free Beacon.

O artigo do Global Times incluía um mapa dos Estados Unidos cheio de alvos de ataques nucleares nas principais cidades, incluindo Seattle, São Francisco e Los Angeles. O artigo segue-se a um segmento da emissora estatal CCTV, que no final de outubro mostrou a frota de submarinos da China em função das disputas territoriais chinesas no Mar do Sul da China e no Mar do Leste da China.

Furtividade

No entanto, apesar de breves, os comentários de Greenert são bem fundamentados. Submarinos nucleares da China têm várias falhas técnicas, limitações geográficas e a implantação de sua frota de última geração tem enfrentado vários reveses. Isto é, além do fato de que os Estados Unidos tem sistemas de controle complexos capazes de monitorar submarinos muito mais avançados do que os que a China pode produzir.

O principal ‘submarino nuclear lançador de mísseis balísticos’ (SNLMB) da China é o classe-Jin (Tipo-094). Três deles estão atualmente operacionais e a China pode ter mais cinco em serviço na próxima década, segundo o relatório anual do Pentágono de 2013, “Desenvolvimentos militares e de segurança envolvendo a República Popular da China”.

Apesar de serem os submarinos mais avançados da China, os classe-Jin são mais ruidosos do que os submarinos soviéticos de 30 anos atrás, segundo um relatório de agosto de 2009 do Escritório de Inteligência Naval da Marinha dos EUA.

A guerra antissubmarina é fortemente baseada na capacidade de um país de detectar e rastrear submarinos. O sistema principal usado pelos Estados Unidos para rastrear submarinos é o Sistema de Vigilância Sonora (SOSUS), que faz parte do Sistema de Vigilância Submarina Integrada (IUSS).

O SOSUS consiste numa grande rede de sensores submarinos instalados em pontos de estrangulamento no oceano. Ele permite que os Estados Unidos possam detectar submarinos e monitorá-los com base em suas assinaturas de ruído. Isso foi usado na Guerra Fria para acompanhar os SNLMB soviéticos.

A furtividade é um dos elementos principais de uma força de submarinos e controlar o nível de ruído é fundamental para se alcançar furtividade. Reduzir o nível de ruído está entre as principais razões para os submarinos mudarem sua energia motriz de diesel para nuclear e por que frotas modernas têm outras tecnologias avançadas para amortecimento de ruído.

A maioria da frota de submarinos da China ainda é a diesel, a maioria deles foi comprada da Rússia nos anos 1990 e 2000, segundo o relatório do Pentágono. Estima-se que a China tenha 49 submarinos a diesel e 5 submarinos nucleares.

Alcance

Outro problema com os submarinos classe-Jin é o alcance de ataque – e isto é afetado tanto pela tecnologia como pela geografia.

Os submarinos classe-Jin acabarão sendo armados com ‘mísseis balísticos lançados de submarino’ (SLBM) do tipo chinês JL-2, segundo o relatório do Pentágono. Os mísseis nucleares têm um alcance estimado de 7.400 km e devem se tornar operacionais este ano.

Se um submarino chinês classe-Jin fosse atacar Seattle, ele teria de navegar profundamente em águas japonesas, segundo um relatório de Hans Kristensen, diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação dos Cientistas Americanos.

O relatório afirma: “Devido ao nível de ruído aparente dos submarinos de mísseis chineses e dos amplos recursos antissubmarinos dos Estados Unidos, seria de fato arriscado envolver-se numa guerra.”

A outra opção para os submarinos nucleares chineses seria disparar seus mísseis por sobre a Rússia. O relatório observa: “Todos os [mísseis balísticos intercontinentais] ICBM da China lançados em direção aos Estados Unidos de suas áreas de implantação atual sobrevoariam a Rússia.”

Os submarinos nucleares da China estão confinados a uma pequena área em torno da China e o alcance de seus mísseis nucleares é limitado. De acordo com o relatório, mesmo se fossem atacar o Havaí, os submarinos teriam de entrar no Mar do Japão ou no Mar das Filipinas.

No entanto, o relatório afirma que submarinos nucleares chineses representam uma ameaça aos territórios dos EUA fora do território continental, incluindo o Alasca e Guam. E também são uma ameaça para os navios de guerra dos EUA na região.

Manter os submarinos nucleares chineses fora do alcance dos Estados Unidos continental baseia-se em mantê-los nas águas da China.

A China também está desenvolvendo sua nova geração de SNLMB, o Tipo-096, que, segundo um relatório próximo da Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China, deve “melhorar o alcance, a mobilidade, a furtividade e a letalidade” dos submarinos nucleares da China, informou a Defense News.