Propaganda do Estado chinês compara colapso da China ao da União Soviética

02/08/2013 14:21 Atualizado: 02/08/2013 14:21
A mídia estatal Xinhua publicou um artigo de Wang Xiaoshi em 1º de agosto, alertando que a China estaria numa situação miserável se “tumultos” irrompessem no país (Imagem de tela)

Um artigo publicado na quinta-feira na primeira página da Xinhua, uma mídia porta-voz do Estado chinês, avisou que, se “tumultos” ocorrerem na China, seria pior do que o colapso da União Soviética.

A referência à turbulência deveria sugerir qualquer mudança para um sistema político democrático ou a perda de poder do Partido Comunista Chinês (PCC).

“Esses ângulos, mentores e pessoas conhecidas que têm motivos maliciosos, se você quer provocar tumulto na China controlando a opinião pública, você terá de passar por cima do meu cadáver”, escreveu o autor Wang Xiaoshi no final de sua diatribe. “Eu não os deixarei terem sucesso enquanto eu viver!”

Muitos intelectuais públicos estariam “difamando o atual sistema socialista”, disse o artigo, bem como promovendo ideias subversivas do capitalismo e do governo constitucional por meio das mídias sociais. Isto, o autor disse, incita ressentimento sobre o regime atual e provoca agitação social.

“Olhando friamente para vocês escravos do mundo ocidental, vocês enganam as pessoas na internet todos os dias, vocês enganam o povo chinês e permitem que outros ameacem a China, fazendo a China pobre e seus militares fracos. Vocês são cães dos EUA. Vocês trazem vergonha e desastre para a China”, escreveu o autor.

“Após o colapso da União Soviética, por acaso o povo russo alcançou a felicidade?”, perguntou o autor. Muito do restante do artigo está na forma de um longo “não”.

O longo artigo, de cerca de 5 mil palavras, marca uma nova saraivada na guerra de propaganda contra intelectuais liberais e foi logo reproduzido por outras mídias estatais na China. Internautas e intelectuais liberais, os vilões da peça, olharam de lado o artigo.

Um comentou: “Quem disse que a China seria pior do que a União Soviética, por favor, pergunte ao povo russo e verifique se eles gostariam de voltar ao reinado de terror?!”

Outro internauta tentou mostrar que a Rússia não é tão ruim assim: “Por favor, observemos o quão miserável a Rússia é: 1. atendimento médico universal gratuito; 2. educação pré-escolar, elementar e secundário profissional, incluindo almoço, gratuitos; 3. as mulheres podem receber pensão aos 55 anos e os homens aos 60; 4. o pior é que o povo russo pode votar.”

Internautas chineses também argumentaram que o artigo evitava as questões sociais concretas do dia. Yu Jianrong, um acadêmico conhecido e diretor do Centro de Pesquisa de Assuntos Sociais da Academia Chinesa de Ciências Sociais, um instituto de pesquisa afiliado ao Estado, disse: “Vamos falar sobre quem levará a China à agitação em primeiro lugar. Não são os figurões que fizeram o fosso entre ricos e pobres se agigantar?! Não é o poder político descontrolado que cria injustiça na sociedade?! Não são os oficiais corruptos que arruínam a moralidade?! Você não observa isso, mas apenas critica o discurso das pessoas. Qual é sua verdadeira motivação?”

Um grande número de casos de corrupção oficial foram reportados online e por meio das mídias sociais nos últimos anos e, embora o PCC diga que está tentando eliminar a corrupção, ele não tem normalmente acolhido qualquer envolvimento cidadão nesta tarefa. “As autoridades só querem silenciar as pessoas comuns e nos manter numa jaula”, escreveu um blogueiro chinês.

“Se a China segue o velho caminho da União Soviética, mas não tem tantos recursos, o que o povo chinês comerá?”, escreveu Wang Xiaoshi, o autor da Xinhua, implorando aos leitores. “Quantas vezes mais miserável será a China? Você preparou casacos de algodão para o inverno? Você e sua família podem suportar o inverno?”

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