Promotor de dúbias ações chinesas golpeado pela SEC

03/08/2012 03:00 Atualizado: 03/08/2012 03:00

Uma bandeira se agita em frente ao edifício da Comissão de Câmbio e Títulos (SEC) dos EUA em Washington DC. Peter Siris, um promotor de ações, foi recentemente acusado pela SEC de violar as leis de títulos. (Chip Somodevilla/Getty Images)Uso de aquisições inversas permitiu às empresas escaparem de investigação

Um homem, que ajudou a trazer empresas chinesas ao mercado de capitais norte-americano que frequentemente estão associadas à fraude, foi acusado pela Comissão de Câmbio e Títulos (SEC, em inglês) de uma série de violações a lei de títulos na segunda-feira.

A maioria das acusações contra Peter Siris, um gerente de investimentos e ex-colunista de finanças que completou 68 anos pouco mais de duas semanas atrás, está relacionada a suas atividades com a ‘China Yingxia Internacional Inc.’. A empresa China Yingxia era uma varejista de alimentos antes de sua ruína.

Siris foi acusado de enganar investidores em seus dois fundos de cobertura por não declarar a extensão de seu envolvimento com a empresa. Ele também foi acusado de fazer negócios ilegais lucrando com informações não públicas quando estava em posição privilegiada para obtê-las.

Depois de se tornar ciente dos problemas na empresa em fevereiro de 2009, incluindo que o CEO estava envolvido em atividades ilegais de captação de recursos na China e que uma fábrica da empresa havia sido fechada, Siris começou a vender centenas de milhares de suas ações. No início de março de 2009, Siris novamente despejou 1.143.660 de suas ações da empresa depois que viu o esboço de um comunicado de imprensa sobre a situação, o que teria causado uma queda no preço das ações, uma vez que fosse publicado.

A acusação é o primeiro movimento formal dos reguladores contra agentes de ações que ajudaram empresas chinesas a entrar nos mercados de capitais nos Estados Unidos, um processo que frequentemente recorre a uma fusão reversa, ou aquisição inversa (RTO, em inglês), o que acarreta menos escrutínio regulatório do que uma oferta pública inicial (IPO).

“Peter Siris envolveu-se em toda uma constelação de fraudes em torno das RTOs chinesas”, disse Kevin Barnes, um analista de ações da ‘Absaroka Capital Management LLC’, em entrevista por telefone, referindo-se às acusações na denúncia da SEC.

“Está muito claro que ele [Siris] era um jogador importante no espaço das RTOs e o fato de que eles [SEC] trouxeram uma denúncia contra ele é bastante indicativo de todas as fraudes que ocorreram nessas empresas”, disse Barnes.

Siris apareceu regularmente na Barrons e na CNBC para “exaltar as maravilhas dessas empresas”, segundo Barnes. “Mas ele foi altamente conflituoso nessas declarações e engajou-se em comportamento ilícito”, acrescentou ele.

Num artigo da CNBC, Siris é citado dizendo que, “Nós tivemos menos fraudes com empresas chinesas do que tivemos com empresas de porte semelhante dos EUA.” No entanto, participantes da indústria dizem que a afirmação é muito imprecisa.

A SEC descreveu Siris como, “a pessoa indicada quando empresas chinesas de fusão reversa queriam levantar capital ou precisavam de aconselhamento sobre as operações”, segundo as palavras de Andrew M. Calamari, diretor-interino do Escritório Regional da SEC em Nova York.

No esquema mais amplo das RTOs chinesas, Siris era um peixe pequeno. Calcula-se que bilhões de dólares foram desviados de investidores norte-americanos para os bolsos dos chefes de empresas chinesas, que muitas vezes contam com o apoio de oficiais locais do Partido Comunista na China.

“Provavelmente, a SEC está tremendamente frustrada com sua incapacidade de atingir ou ter qualquer impacto sobre os cidadãos chineses que estiveram envolvidos nesses acordos”, disse Crocker Coulson, CEO da ‘CCG Investor Relations’, em entrevista por telefone. Coulson também foi vítima de engano por parte da empresa chinesa de carvão Puda, que manteve relações de serviços com investidores enquanto cometia fraude maciça. Coulson, mais tarde, ficou “consternado” com o que aconteceu, disse ele.

Siris e suas empresas concordaram em pagar mais de 1,1 milhão de dólares em restituição contra as acusações da SEC.

Outra pessoa que foi alvo das autoridades de segurança dos EUA é Benjamin Wey, que era mais ativo que Siris em corretagem de negócios chineses duvidosos. Wey teve seus escritórios invadidos pelo FBI em 25 de janeiro, embora nenhum caso contra ele tenha sido formalmente arquivado.

Michael Emen, chefe da Listagem de Qualificações da NASDAQ, numa audiência fechada em 24 de fevereiro de 2011, se referiu diretamente a Wey dizendo, “Há uma indústria aqui e na China que se dedica a organizar essas operações de fusão reversa.”

Ele continuou, “As pessoas que organizam essas transações e as próprias empresas têm atraído um nível sem precedente de atenção da mídia e esta, por sua vez, tem atraído a atenção da SEC e do Congresso.”

Numa revisão realizada pela Pittsburgh Tribune de 125 RTOs chinesas, o jornal constatou que 105 foram retiradas da listagem pela SEC ou tinham processos de fraude contra elas ou “outros problemas que poderiam ser de grande preocupação para os investidores e outros que fazem negócios com elas.”

Siris foi alfinetado sobre os escândalos contábeis recorrentes nestas empresas numa entrevista com o comentarista de mercado Herb Greenberg na CNBC em julho de 2011. Quando perguntado se ele estava preocupado com os frequentes relatórios de fraude, Siris respondeu, “Eu não estou preocupado com o que vejo.”