Sonhos desfeitos e promessas quebradas são tudo o que resta da esperança que levou os Estados Unidos a abrir o livre comércio com a China em 2001.
O presidente americano Bill Clinton disse a uma sala lotada um ano antes disso que “se você acredita num futuro de maior abertura e liberdade para o povo da China, você deve apoiar este acordo”. A decisão teve apoio bipartidário, e os líderes no Reino Unidos compartilharam a convicção de que, com a queda da União Soviética, o comércio com a China a ajudaria a mover-se em direção à democracia e liberdade.
Ao invés de a China se tornar mais livre e democrática, muitas empresas norte-americanas e ocidentais se curvaram aos interesses da China e muitas outras têm enfrentado enormes prejuízos econômicos.
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Abrir o comércio “não os tornou mais democráticos”, disse Peter Navarro, diretor do filme “Death by China” (“Morte pela China”). Pelo contrário, “isso fez sua máquina autoritária mais eficiente”.
Mas agora, uma mudança pode estar ocorrendo. Muitas grandes empresas começaram a sentir o impacto, e muitas agora estão se retirando da China. A Best Buy anunciou em 4 de dezembro que venderia suas 184 lojas na China e deixaria o país. Ela agora se junta a outras empresas que deixaram a China, incluindo Google, Home Depot, Metro, Media Market, Adidas, Panasonic, Rakuten, Nestlé e Danone.
O momento é relevante. O regime chinês comemorará o 15º aniversário de sua ascensão à Organização Mundial do Comércio em 2016, e os legisladores nos Estados Unidos estão observando os prejuízos que o livre comércio com a China trouxe para a economia global.
Guerra comercial
“Eles vieram e causaram estragos na economia americana e na economia europeia”, disse Navarro. O problema, disse Navarro, é que a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o status de “nação mais favorecida” são destinados a criar um sistema ou regras para o livre comércio. Quando esses benefícios foram concedidos à China, no entanto, ela passou a usar as regras e normas para impulsionar seu próprio comércio, mas sem seguir as regras ao lidar com outras nações.
“Eles colhem todos os benefícios da organização internacional, mas não respeitam as regras”, disse Navarro. O abuso da China de seus novos privilégios começou imediatamente. De acordo com Navarro, assim que o regime chinês foi incorporado à OMC, ele começou a inundar os Estados Unidos com importações subsidiadas ilegalmente. Além disso, os militares chineses lançam ciberataques quase constantemente para roubar propriedade intelectual de empresas americanas e usam falsificações e pirataria para prejudicar empresas norte-americanas.
Estima-se que 15-20% de todos os produtos fabricados na China são falsificações, segundo um relatório do Centro de Estudos Internacionais do MIT, e cerca de 8% do PIB da China vem de mercadorias falsificadas.
Há também a manipulação da moeda praticada pela China – sua desvalorização do yuan, que dá à China uma vantagem de 25-40% em relação ao dólar americano. Navarro disse que o efeito da manipulação cambial da China é que isso subsidia as importações da China destinadas aos Estados Unidos, mas impõem uma tarifa sobre as importações dos EUA para a China. O efeito é que isso faz com que seja muito fácil para a China vender para os Estados Unidos, embora torne muito caro vender de volta para a China, e os efeitos no longo prazo é que as empresas chinesas dominam o mercado, enquanto as empresas norte-americanas são prejudicadas.
Inclusive os números da economia chinesa são instáveis. A revista Fortune informou recentemente que o mercado acionário da China está subindo, mas o país se depara com crescimento cada vez mais lento e uma enorme bolha imobiliária. Sua descrição é: “O mercado acionário da China não desafia tanto a gravidade quanto desafia a lógica.”
Para aqueles que acompanham, disse Navarro, os Estados Unidos perderam cerca de 57 mil fábricas, 25 milhões de americanos são incapazes de encontrar um trabalho digno e os Estados Unidos tem uma dívida de US$ 3 trilhões com a maior nação totalitária do mundo. A mídia The Blade de Ohio informou recentemente que o comércio com a China desde 2001 custou 106,4 mil postos de trabalho apenas em Ohio.
E como se isso não bastasse, o regime chinês continua a abusar de seus trabalhadores, seus militares estão fincando cada vez mais hostis num ritmo alarmante, e as empresas norte-americanas têm sido punidas com suas investigações antitrustes. “É um mundo do olho-por-olho e isso é parte do negócio”, disse Navarro, a respeito de como o regime chinês tem castigado as empresas norte-americanas sobre questões políticas.
Um mercado hostil
A intensidade dos abusos da China parece estar gerando efeitos colaterais, no entanto, e erodiu a confiança de empresas e de funcionários do governo americano.
Uma pesquisa divulgada em 2 de setembro pela Câmara Americana de Comércio mostrou que 60% das empresas norte-americanas na China se sentem menos bem-vindas do que antes e 49% acreditam que estão sendo atacadas diretamente pelo regime chinês.
Numa pesquisa relacionada na Europa, 61% das empresas estrangeiras que estiveram na China há mais de uma década dizem que fazer negócios na China está se tornando mais difícil.
A única indústria dos Estados Unidos que goza de superávit comercial decente com a China é a agricultura, segundo o relatório de 2013 do Conselho de Segurança Econômica EUA-China. No entanto, mesmo na agricultura, o relatório adverte que a China tem utilizado inúmeras artimanhas de guerra comercial que tem levado especialistas a questionarem os verdadeiros custos.
Há agora um crescente apelo para que a China comece a jogar pelas regras, e a saída recente da Best Buy poderia muito bem indicar o que está por vir.
“Hoje eu clamo a China que cumpra integralmente todos os seus compromissos com a Organização Mundial do Comércio e de forma plena e digna implemente todas as decisões da OMC contra ela”, disse o senador Sherrod Brown, presidente da Comissão Executiva do Congresso sobre a China, numa audiência no Congresso americano em 25 de novembro sobre o descumprimento da China das normas da OMC.
Brown citou dados recentes que “retratam um quadro sombrio dos esforços do Estado chinês para intervir na economia e injustamente ajudar as empresas chinesas, apesar de seus compromissos na OMC para não fazer isso”.
Ele ressaltou que, em 2012, o déficit comercial dos EUA com a China era de US$ 300 bilhões, e um número semelhante era esperado nos valores de 2013. Brown disse: “Estes enormes déficits comerciais são inaceitáveis e custam empregos em lugares como Toledo, Akron, e vilas e cidades em todo o país.”
De acordo com Navarro, o impacto da admissão da China à OMC está se tornando mais claro, e empresas e autoridades dos EUA estão agora atentando para o problema.
William Reinsch, ex-subsecretário de comércio para a administração de exportação sob o presidente Bill Clinton, foi outrora uma voz de liderança no apoio comercial dos EUA com a China, mas mesmo ele mudou o tom.
“É uma verdadeira decepção pessoal ter de escrever essas coisas”, afirmou Reinsch num relatório recente, segundo o Washington Free Beacon. “Eu sempre fui um otimista sobre o relacionamento, mas essa visão está se tornando cada vez mais insustentável, enquanto a China se afirma de maneira que inevitavelmente se chocará com nossos interesses na região e em fóruns multilaterais.”
Para as empresas norte-americanas que agora saem da China, Navarro disse: “Isso é uma simples análise do custo-benefício: o custo está subindo, os benefícios diminuindo, e o risco está aumentando.”
Alguns fatos
• Os Estados Unidos já perderam cerca de 57 mil fábricas;
• 25 milhões de americanos são incapazes de encontrar trabalho decente;
• Os Estados Unidos têm uma dívida de US$ 3 trilhões com a maior nação totalitária do mundo;
• 60% das empresas norte-americanas na China se sentem menos bem-vindas do que antes (pesquisa da Câmara Americana de Comércio);
• 49% acreditam que estão sendo atacadas diretamente pelo regime chinês (pesquisa da Câmara Americana de Comércio);
• 15-20% de todos os produtos fabricados na China são falsificações (relatório do Centro de Estudos Internacionais do MIT);
• A Best Buy anunciou em 4 de dezembro que venderia suas 184 lojas na China e deixaria o país. Ela agora se junta a outras empresas que deixaram a China, incluindo Google, Home Depot, Metro, Media Market, Adidas, Panasonic, Rakuten, Nestlé e Danone.