Prolongada crise humanitária dilacera a Síria

14/03/2013 17:44 Atualizado: 15/03/2013 11:59
Refugiados sírios carregam cobertores e suprimentos da ACNUR enquanto chegam ao campo de refugiados Za’atari em 30 de janeiro de 2013, em Mafrq, Jordânia (Jeff J Mitchell/Getty Images)

Não há muita informação sobre as guerras sírias entre o Império Selêucida e o Reino Ptolomaico do Egito que ocorreu entre 274-168 a.C. O que se sabe, porém, é que essas guerras drenaram de tal forma a infraestrutura e a mão de obra de ambas as partes que provocou sua destruição e conquista por Roma e pela Pártia.

Dois anos após ter começado, o conflito de hoje na Síria ameaça causar não só destruição material, mas também, como as guerras sírias, enorme perda de mão de obra e a destruição do tecido social do país.

De acordo com dados das Nações Unidas, o conflito causou mais de 70 mil mortes, das quais cerca de metade seriam de civis, muitos deles mulheres e crianças. O impacto do conflito, no entanto, vai além de mortos e mutilados.

Estima-se que mais de 1 milhão de sírios deixaram seu país e se tornaram refugiados no Líbano, Jordânia, Iraque, Turquia e, cada vez mais, na África do Norte, colocando um pesado fardo sobre os serviços de saúde e social desses países. Além disso, cerca de 2 milhões de sírios foram deslocados dentro do próprio país.

Como é possível medir o impacto desses deslocamentos sobre as famílias, particularmente as crianças? Como avaliar a perda de propriedade, trabalho, educação, contatos com a família e vizinhos?

Alguma coisa pode ser vislumbrada por meio de declarações de sobreviventes recolhidas por organizações de direitos humanos. Um levantamento cuidadoso foi feito pela Human Rights Watch (HRW) e pela Comissão Internacional de Resgate (IRC), o último num relatório divulgado em janeiro de 2013 intitulado “A Síria: Uma crise regional”.

A situação das mulheres e meninas refugiadas é particularmente perturbadora. Mulheres refugiadas pesquisadas pelo IRC citam o estupro como a principal razão por que fugiram de suas casas. No entanto, apesar da grande quantidade de mulheres e meninas que abandonaram suas casas, há uma notável falta de serviços médicos e de aconselhamento para as sobreviventes para ajudá-las a se recuperarem em seus novos países. Além disso, elas enfrentam situações de insegurança nos campos de refugiados e altos níveis de violência doméstica.

George Rupp, presidente e CEO do IRC, declarou: “A Síria está se dilacerando. Médicos são alvos porque tratam dos feridos. Mulheres e meninas são estupradas e brutalizadas, causando dano máximo em suas famílias. Casas, escolas e hospitais são destruídos. Toda a comunidade internacional terá de cavar fundo para ajudar a reunir o que está sendo despedaçado.”

Estou particularmente desanimado com o testemunho de uma mulher de Homs no relatório da HRW. Ela ouviu as forças de segurança e milícias “shabiha” (grupos paramilitares de homens vestidos com roupas civis que apoiam o Partido Baath), que estupraram suas vizinhas enquanto ela se escondia em seu apartamento. “Eu podia ouvir uma das meninas lutando com um dos homens. […] Ela o empurrou afastando-o e ele atirou na cabeça dela.”

A mulher disse que três meninas, a mais jovem de 12 anos, foram então estupradas. Quando os homens saíram, a mulher foi até suas vizinhas. “A cena era irreal. A menina de 12 anos estava deitada no chão, com sangue pelas pernas. […] Mais de uma pessoa a havia estuprado. […] Eu nunca retornarei lá. As imagens retornam. Eu as vejo em meus sonhos e apenas choro.”

Estes são seres humanos comportando-se com crueldade máxima, no nível mais básico possível. E o conflito não dá qualquer indicação de que isso acabará em breve, mas sim que se estenderá aos países vizinhos.

Como afirmado no relatório, “Uma catástrofe humanitária está se aprofundando a cada dia e é provável que continue por muito tempo após a guerra civil terminar. […] O fim da guerra civil não acabará necessariamente com a violência sectária. Na verdade, a violência poderia aumentar. Reconciliação, recuperação e transição política estarão repletas de desafios e poderão levar anos.”

Tremo só de pensar que este é o país de alguns dos meus antepassados, o país que sonhei visitar um dia.

O Dr. César Chelala é um escritor de questões de direitos humanos e um ganhador do prêmio ‘Overseas Press Club of America’.

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