Através de intervenções artísticas feitas por alunos da rede pública, o projeto valoriza a produção cultural nas cidades-satélites
Brasília, a cidade projetada pelo urbanista Lúcio Costa e palco de grandes escândalos políticos, cresceu deliberadamente. O Distrito Federal, região que abriga as cidades-satélites, consideradas áreas periféricas, cresceu e formou sua própria identidade cultural. Assim como as grandes metrópoles, a arte de rua ganhou cada vez mais espaço em um ambiente anteriormente visto como marginalizado. Com foco em alunos da rede pública dessas cidades, surgiu o projeto Mapa Gentil. Um dos principais objetivos é incentivar a produção cultural dos jovens através de intervenções urbanas, oficinas de audiovisual, grafite, poesia e animação.
A primeira etapa do projeto tem beneficiado 30 estudantes do Centro de Ensino Médio (CEMEIT) que definirão os locais das cidades de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia e Riacho Fundo que receberão as intervenções artísticas que passam a fazer parte do dia-a-dia dos moradores. Até agora foram feitas 97 intervenções mapeadas e que farao parte de um roteiro turístico com o objetivo de incentivar um outro olhar sobre as cidades-satélites. O ponto de partida do tour pelas intervenções artísticas é a Praça do Relógio, no centro de Taguatinga. As visitas são agendadas aos finais de semana, exceto as realizadas por grupos escolas públicas, que podem ser marcadas de segunda a sexta-feira. Os mediadores falam sobre a história de cada cidade-satélite, seu contexto urbano e a ideia das obras realizadas por estudantes moradores das cidades mapeadas.
A coordenadora do projeto, a artista plástica Janaína André, afirma que um dos principais objetivos é incentivar a expressão artística dos alunos moradores das cidades e valorizar a representatividade dessa expressão no cenário urbano. “Para incentivarmos essa valorização utilizamos nas obras as cores da bandeira do Brasil. A cor vermelha também é utilizada, mas para representar o amor ou a crítica ao capitalismo”, acrescenta. Os locais escolhidos para abrigar a arte dos alunos são estrategicamente selecionados: o projeto escolhe pontos de cultura, feiras de artesanato e locais de aglomeração social. A intenção do projeto é atingir todas as cidades do Distrito Federal, expectativa que depende de financiamento. Para Janaína, a grande satisfação em fazer parte do Mapa Gentil está em incentivar a autenticidade nos jovens: “Para mim é muito gratificante juntar redes com esse pontencial transformador da gentileza, tanto na mentalidade dos alunos quanto na mentalidade das cidades”.
Inspiração gentil
A grande inspiração para a filosofia do projeto tem nome: José Datrino, mais conhecido como profeta Gentileza. Datrino era empresário do ramo de transportes e decidiu largar uma vida de conforto para pregar o amor e a gentileza entre as pessoas no início da década de 1970. Após uma experiência marcante – ele presenciou um incêndio no Gran-Circus Norte-Americano em Niterói – Datrino iniciou o trabalho de mensagens positivas nas ruas cariocas.
Um dos pilares do trabalho voluntário de Datrino estava em representar mensagens de amor, sustentabilidade e gentileza em locais públicos. A intervenção mais simbólica do ativista da gentileza foi a obra nos pilares do viaduto do Caju, próximo à rodoviária Novo Rio. Datrino coloriu 56 pilastras com mensagens que criticavam o modelo político capitalista e que defendiam uma mudança social através do amor, sustentabilidade e gentileza. O profeta Gentileza que lutava por um mundo mais humanizado faleceu em 1996, aos 79 anos. Seu trabalho tem servido de inspiração para profissionais de diversas áreas de atuação como cinema, educação, artes plásticas e música.
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