A antiga e superada esquerda costumava chamar os liberais de conservadores. Numa época de lutas de classes, na qual o comunismo socialista defendia, supostamente, o interesse dos pobres, caia bem acusar os empresários de exploradores e defensores inveterados do status quo. Enquanto essa mentira foi contada e recontada com funestos ares de verdade, foi possível manter um regime político autoritário e estatizante que, por meio da demonização dos setores produtivos, arbitrariamente se apropriava das riquezas sociais para festa e deleite de uma gananciosa elite oficial. Além da ganância, era uma elite de ódio porque usava o medo como a arma de dominação do povo, tratando adversários políticos como inimigos de Estado a serem exterminados por métodos de sangue. Aliás, toda ditadura, seja ela qual for, é um mal que só a democracia, bem exercida, pode salvar.
Com a queda do Muro de Berlim, a mentira socialista virou pó, marcando o triunfo definitivo do liberalismo econômico. No entanto, talvez por um certo êxtase da vitória da liberdade sobre a opressão, os liberais falharam no aspecto político. Objetivamente, os liberais ficaram obcecados pelo potencial de desenvolvimento e progresso que a liberdade econômica proporciona, mas deixaram de lado a defesa de um perene e inegociável avanço institucional por meio da elaboração de uma doutrina política capaz de explicar que, sem liberdade, não há dignidade nem possibilidade de aperfeiçoamento humano. E somente seres humanos dignos são capazes de olhar para o outro, criando vínculos sociais como a família e estruturas políticas como as cidades, os Estados e a nação. Enfim, a liberdade é um elemento nuclear do processo civilizatório.
No vácuo teórico do liberalismo político, a cena pública brasileira e mundial tem sido inundada por retrógadas pautas socializantes que, novamente levantando velhas bandeiras populistas, acabam por cavar valas de dominação estatal e, ato contínuo, canais de silenciosa castração da liberdade individual. É hora, portanto, de reagir com a simplicidade do saber irrefutável. Por exemplo, é preciso lembrar que não existe emprego sem empresa, ou seja, todos aqueles que atacam o empresariado e o empreendedorismo são inimigos do povo e de sua possiblidade de crescimento humano e social. Indo adiante, temos que mostrar os avanços estruturais e sociais que o liberalismo ocasionou na Alemanha Ocidental e o atraso que foi gerado no lado socialista Oriental. Temos que mostrar as duas Coreias; uma próspera e desenvolvida, a outra pobre e fechada. Em síntese, temos que falar de liberdade e dos sucessos que as pessoas podem ter sendo livres, desimpedidas e politicamente instruídas.
Antigamente, fazia sentido a divisão esquerda e direita. No entanto, no mundo líquido moderno, as correntes políticas se fundiram numa amorfa luta de poder pelo poder, tornando o jogo político confuso e desencontrado. Nessa babel democrática, é imperativo o surgimento de uma doutrina política que converse e explique ao povo o valor central da liberdade no regime democrático. Aí, você poderá escolher entre ser um progressista do atraso ou um conservador do progresso. Alternativamente, poderá, ainda, ser uma progressista do vício ou um conservador da virtude. A escolha é e sempre será sua. É tempo de fazer escolhas e falar verdades que o Brasil precisa escutar. Então, de qual lado o senhor e a senhora querem estar no trem da história que passa para não mais voltar?
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr.. é advogado especializado em direito do estado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e em direito previdenciário pela Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Millenium