Há 20 anos, o programa de rádio “Vozes do Sequestro” usa suas transmissões para enviar mensagens de esperança a vítimas de sequestro e seus entes queridos.
O programa começa todos os sábados à meia-noite e tem duração de seis horas. Em toda a Colômbia, milhares de familiares e amigos de vítimas de sequestro ligam seus rádios para ouvir o programa. Na esperança de que seu ente querido esteja escutando, alguns telefonam para o programa para enviar mensagens de amor, fé e coragem.
O programa é apresentado pelo jornalista Herbin Hoyos Medina. Hoyos trabalhou como correspondente de guerra durante a maior parte de sua carreira. Ele cobriu a Guerra do Golfo e conflitos na Bósnia, em Saraievo, Kosovo, Pristina, Belgrado e Serra Leoa. É autor do best-seller “Guerras do Terrorismo”.
Sequestros das FARC motivam programa de rádio
A ideia de criar um programa de rádio dedicado a ajudar vítimas de sequestro e seus familiares foi de Hoyos, depois que ele próprio foi sequestrado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Em 1994, membros das FARC raptaram Hoyos e o forçaram a caminhar dentro da selva. Ele passou fome e sede e teve ferimentos nos pés.
Hoyos e seus raptores chegaram a um acampamento das FARC, onde os guerrilheiros o amarraram a uma árvore. Outro homem sequestrado estava amarrado a outra árvore a poucos metros de distância. Hoyos conversou com o homem, que disse que ele e outros seis eram mantidos em cativeiro havia dois anos. Hoyos prometeu ao homem que, se conseguisse sair dali com vida, faria o possível para enviar “mensagens de esperança”.
Soldados do Exército colombiano combateram as FARC por 13 dias, mataram quatro guerrilheiros e resgataram Hoyos em 29 de março de 1994. O jornalista ficou em cativeiro por 17 dias.
Hoyos lançou o programa de rádio menos de duas semanas depois, em 10 de abril de 1994.
“Eu retornei à emissora e disse aos ouvintes que os reféns algumas vezes podiam ouvir rádio. Nós começamos a produzir o programa com a ajuda de voluntários”, diz Hoyos. “No primeiro fim de semana, recebemos 50 ligações e, no fim de semana seguinte, 500 pessoas telefonaram tentando enviar uma mensagem para seus entes queridos.”
O sequestro pelos membros das FARC não foi a única vez que Hoyos quase perdeu a vida.
Em 2000, o jornalista foi à Chechênia como participante de uma missão humanitária. Forças paramilitares chechenas o capturaram e, durante vários dias, os paramilitares o espancaram e torturaram. Hoyos foi jogado em uma cova coletiva e dado como morto.
Mas o jornalista sobreviveu e retornou à Colômbia para retomar seu programa de rádio. As experiências dramáticas deram-lhe um forte apreço pela missão de ajudar as vítimas de sequestro.
“A vida me deu muitas oportunidades. Agora, vivo a vida ao máximo. E minha paixão é ajudar as vítimas de guerra e de sequestro na Colômbia e em muitas partes do mundo”, diz Hoyos, que é considerado um herói destemido por muitos colombianos.
Mantendo viva a memória das vítimas de sequestro
No início de cada programa, Hoyos pede aos sequestradores que permitam aos reféns escutar o programa.
“Aos cavalheiros sequestradores, pedimos que concedam um rádio aos sequestrados, para que eles possam nos ouvir”, diz Hoyos. “Se eles estiverem dormindo, pedimos que os acordem. Para que eles fiquem motivados e queiram manter-se vivos. Para que eles tenham uma atitude positiva e não sejam um problema para vocês.”
“Essa é uma pedagogia com os guerrilheiros para que eles entendam que, quando uma vítima de sequestro não tem contato com sua família, ela quer morrer ou ser morta para não mais viver na solidão”, afirma Hoyos. “Uma pessoa sequestrada deprimida ou violenta é um problema para eles. Se o sequestrado ouve seus entes queridos, ele sabe que tem de se alimentar para ficar bem. “Fé e esperança de vida e a vontade de lutar pela vida são conquistadas com a energia dos entes queridos.”
“Com esta comunicação, conseguimos conquistar que os guerrilheiros deem às suas vítimas de sequestro o que nós agora chamamos de ‘kit de sequestro’, que é composto por rádio, pilhas, fios, escova de dentes e pasta de dente”, explica Hoyos.
Às vezes, os familiares e amigos dos sequestrados dedicam-lhes músicas. Toda semana, um segmento do programa honra a memória de uma vítima de sequestro.
O programa transmite cerca de 700 mensagens em uma noite. Os familiares das vítimas também mandam mensagens uns para os outros pelas redes sociais, como o Facebook e o Twitter.
A Rádio Caracol e suas 116 emissoras afiliadas transmitem o programa na Colômbia. A rede mundial World Radio Network o transmite para 2.300 emissoras de rádio em todo o mundo. O programa alcança 5 milhões de ouvintes por semana.
O programa de rádio relata notícias de sequestros, desaparecimentos e tráfico de pessoas em todo o mundo.
Forças de segurança combatem sequestros
A Polícia Nacional da Colômbia e as Forças Armadas do país realizaram grandes avanços nos últimos anos na redução de números de sequestros realizados pelas FARC, o Exército de Libertação Nacional (ELN) e outros grupos do crime organizado.
Entre 2000 e 2007, as autoridades registraram mais de 14.000 sequestros na Colômbia, de acordo com pesquisadores na Universidade de La Sabana, de Bogotá.
Em 1996, o governo criou o Grupo Antissequestro e Antiextorsão (GAULA), uma força de elite. Desde 2007, o GAULA desarticulou 47 gangues de sequestradores.
O trabalho do GAULA conquistou resultados positivos. Por exemplo, em 2013, foram registrados 299 sequestros na Colômbia, de acordo com dados do governo.
O serviço de inteligência colombiano DAS (Departamento Administrativo de Segurança) avalia que, de 1991 a 1999, familiares, amigos e parceiros de negócios de vítimas de sequestro pagaram US$ 1 bilhão para conseguir a libertação dos raptados.
Apoio aos militares
Membros das Forças Armadas colombianas participaram de um programa que foi ao ar recentemente. Eles enviaram palavras de estímulo aos soldados sequestrados.
Enrique Alfonso Celis telefona para o programa todos os sábados há 17 anos. Os guerrilheiros das FARC sequestraram seu cunhado, Héctor Velásquez Carrillo, em uma região de selva no departamento de Caquetá em 1997. Velásquez tinha 22 anos na época.
“Querido Héctor, eu lhe envio um abraço à distância. Nós queremos que todos na selva recebam o carinho e o amor de suas casas”, disse Celis. “O inverno começa na Colômbia e nós nos preocupamos que os sequestrados tenham abrigo e cobertores. Que todos os policiais militares e civis sequestrados tenham calor.”
“Héctor tinha um grande senso de humor”, disse Celis em uma entrevista. “Ele era muito inteligente e seus irmãos soldados o amavam muito. Ele tinha um grande talento como instrutor militar.”
A País Libre, uma organização sem fins lucrativos dedicada à prevenção de sequestros e ajuda às vítimas de sequestros, acredita que atualmente 200 soldados sejam mantidos em cativeiro por grupos ilegais na Colômbia.
Essa matéria foi originalmente publicada pelo Diálogos