Professor afastado da UERJ recorre após bullying ideológico

09/06/2014 18:43 Atualizado: 17/06/2014 05:53

RIO DE JANEIRO – O advogado Bernardo Santoro requereu hoje (9) à procuradoria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) a revogação de seu pedido de exoneração do cargo de professor substituto de economia política da Faculdade de Direito da instituição, no Maracanã, zona norte da cidade. Santoro havia pedido exoneração na tarde de 4 de junho, após o Conselho Departamental da faculdade acatar, no mesmo dia, proposta do Centro Acadêmico Luiz Carpenter (CALC) e decidir abrir sindicância contra o docente determinando seu afastamento temporário. Ele discordou da decisão e alega bullying ideológico.

O diretor da Faculdade de Direito, Carlos Eduardo Guerra, negou que tenha havido perseguição política. “Após a denúncia de assédio moral feita por uma aluna, o conselho decidiu abrir investigação.” Perguntado sobre a materialidade da alegação, afirmou apenas que “a coisa tomou um rumo que não era para tomar (sic)”. Guerra também informou ao Epoch Times que o caso depende agora da avaliação da procuradoria sobre a validade jurídica do requerimento do professor. Procurado por telefone, nenhum representante nem designado do CALC foi encontrado.

De acordo com testemunhas, uma aluna de Bernardo Santoro na UERJ teria informado ao Coletivo das Mulheres da UFRJ que o professor teria feito um comentário machista. O coletivo produziu uma nota de repúdio exigindo retratação e acusando o professor de ter exibido posturas machistas dentro da UERJ. O Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO), da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, levou o post do professor à Congregação, órgão máximo deliberativo da faculdade, que terminou aprovando uma moção de repúdio e encaminhando o caso para o Departamento de Direito Social e Econômico, onde continuou a repercutir.

Após tomar conhecimento da aluna autora da denúncia, e sentindo-se perseguido, Santoro resolveu processá-la e a procurou para conversar sobre seu possível desligamento da disciplina caso fosse de mútuo interesse, dada a situação de estar sendo por ele processada criminalmente. A aluna se sentiu ameaçada de expulsão da matéria e denunciou ao CALC estar sendo moralmente assediada, que por sua vez propôs uma sindicância ao órgão colegiado, a qual foi aceita, resultando no afastamento preventivo do professor.

Na reunião do Conselho Departamental da FDN da UERJ, apresentando cópia de postagens e conversas por e-mail, Bernardo comprovou que o comentário, em forma irônica mas não pejorativa nem ofensiva, fora feito fora do âmbito universitário, numa conversa entre amigos em sua página do Facebook. Também denunciou ameaças e a existência, desde então, de uma perseguição do movimento feminista em todos os eventos em que participava, chegando a resultar em cancelamento por falta de segurança, e que as militantes prometiam linchá-lo durante a apresentação de sua tese de mestrado.

O centro acadêmico da UFRJ afirmou em nota que repudia o post do professor, mas que “nunca se posicionou sobre possíveis medidas punitivas para o professor em relação à questão”. Já na UERJ, a direção do curso decidiu seguir o CALC e afastá-lo provisoriamente, resultando em seu pedido de exoneração. Dizendo respeitar mas discordar da decisão do conselho, o professor havia usado sua página no Facebook para explicar sua decisão e se despedir de seus alunos.

Despedida

“Para os alunos do primeiro e do segundo período da Faculdade de Direito da UERJ:

Em reunião da Conselho Departamental da Faculdade de Direito ocorrida hoje, foi proposto pelo CALC a abertura de sindicância e meu afastamento provisório do cargo de professor de Economia Política I e II em virtude das acusações de uma aluna de que estava sofrendo “assédio moral”.

Apresentei, dentre outras, as seguintes provas:

1 – Print do link do post onde a aluna acusa meu contrato de ser ilegal e onde sugerem ter havido favorecido pessoal no concurso em que fui aprovado (se fizeram isso, fizeram muito mal, já que fui o terceiro colocado);

2 – Cópia dos e-mails das alunas que criavam cizânia, onde combinamos que elas teriam a OPÇÃO de fazer um trabalho ao invés de prova, e sempre convidando-as para fazermos a paz e retomarmos com o andamento natural da aula;

3 – Cópia da discussão entre essa aluna da UERJ e uma aluna da UFRJ (que não foi minha aluna), onde as duas decidem fazer a tal nota conjunta mentirosa em que afirmam que eu persigo politicamente mulheres na faculdade, que me fez virar o alvo do movimento feminista do Brasil inteiro, me fez ter de dar explicações até a um jornal local e fez um evento acadêmico ser cancelado por falta de segurança, como relatado pelo organizador do evento com testemunhas;

4 – Cópia e testemunhos escritos de uma série de ações injuriosas e até ameaçadoras da aluna contra mim;

5 – Cópia de declaração das minhas turmas da UFRJ em defesa da minha pessoa, atestando minha conduta ilibada;

6 – Cópia da mensagem onde, por conta de todos os transtornos sofridos, entendia que era de mútuo interesse o fim da relação professor-aluna, em virtude de todo o caos que essa senhorita gerou na minha vida pessoal e profissional nas últimas duas semanas;

7 – Cópia da mensagem para outra aluna, que tem deficiência auditiva, a quem propus também o mesmo modelo alternativo de avaliação, além de aulas particulares exclusivas, o que a deixou muito contente;

8 – Cópia de mensagem de Coletivo Feminista onde ameaçam invadir e “me esculachar” no evento da minha defesa de dissertação de mestrado.

Apesar de toda a farta documentação, o colegiado entendeu ainda assim que havia justa causa para abertura de sindicância, e que por conta do meu atual estado emocional (que, diga-se, é excelente dado que tenho sofrido ataques pessoais, ameaças e perseguições políticas de todo o Brasil há duas semanas) eu deveria ser afastado provisoriamente das minhas funções.

Respeitando a decisão do Colegiado, mas discordando por ser manifesto caso de injustiça, decidi nesta tarde pedir exoneração imediata do meu cargo de professor na Faculdade de Direito da UERJ.

Venho pedir desculpas para todos os meus alunos de ambos os períodos, mas infelizmente não havia como eu estender essa luta por mais tempo. Essa situação já estava afetando minha família, em especial minha esposa e filho, e meu trabalho (por conta dessas questões acadêmicas e de “julgamentos”, estamos indo para quinta-feira e só consegui trabalhar na terça de manhã).

Repudio com veemência o patrulhamento ideológico e a violência conduzida pelo movimento feminista contra minha pessoa. Não aceito a proposição educadamente apresentada na Congregação de que homens são opressores naturais da mulheres, com todo o respeito ao professor que se manifestou assim. Não aceito a sugestão de que persegui esquerdistas na minha classe. Isso é absurdo e todos os meus alunos sabem disso. Fiquei particularmente ofendido com isso.

Espero que vocês entendam que não estou saindo por vontade própria e sei também que não é a vontade de 98% de vocês, mas saibam que sempre estarei à disposição de vocês para o que precisarem.

Foi realmente uma grande honra poder ter sido o professor de vocês, ainda que por um período tão breve.

Abraços para todos.”

A postagem alcançou mais de 900 “curtidas” e quase 300 comentários, de alunos e outros interessados, sobre o caso e a veracidade das alegações que motivaram a abertura de sindicância contra o professor.

O comentário mais apoiado entre os que se opõem ao professor foi feito por Mariana Medeiros: “Não houve perseguição política alguma contra o professor. Pelo contrário, o professor expôs ainda mais a aluna em sua sustentação, fugindo da questão apresentada pelo CA. O debate ideológico é democrático. O que o colegiado decidiu de forma unânime foi de que o professor conduziu mal o conflito com a aluna e se excedeu, pois ocupa um espaço de privilégio como professor (sem falar como homem) e agiu de forma extremamente anti-pedagógica. Mas não se trata de demonização, e sim de uma oportunidade de amadurecer com os erros. Homens não são vítimas de violência e de perseguição como são as mulheres, não é possível ignorar, como bem destacou o professor conselheiro, mulheres são mortas e agredidas todos os dias por serem mulheres”.

Apoiando o docente, Ana Carla Costa comentou: “O único grande erro do professor Bernardo em todo esse processo foi ter tentado ser condescendente com ela, dando opção para ela poder fazer outra forma de avaliação. Ele devia realmente ter ido falar com a Direção da Faculdade. Mas ficou com pena. Ter coração mole e tentar adiantar todo mundo dá nisso. Ele aprendeu a lição, tenho certeza”.

Alexsander Rosa, amigo pessoal do professor, manifestou em sua própria página no Facebook: “Um absurdo o que fizeram com meu amigo Bernardo Santoro, professor de Direito da UERJ. Ele sofreu uma patrulha ideológica desumana, baseada em mentiras, e essas mentiras causaram ódio nos grupos falsamente ofendidos. Esses grupos, ludibriados pelas alunas mentirosas originais, se exaltaram e fizeram sérias ameaças ao Bernardo. Num país livre seria caso de polícia”.

Bernardo Santoro (Cortesia/Instituto Liberal)
Bernardo Santoro (Cortesia/Instituto Liberal)

Perseguição político-ideológica

Pouco antes da reunião colegiada que decidiu por seu afastamento preventivo, Bernardo Santoro havia publicado no grupo do Facebook da Faculdade de Direito da UERJ um texto de esclarecimento em que diz ter sido vítima de “patrulhamento ideológico” de caráter “esquerdista” e “feminista” presente no meio acadêmico.

“Esclarecimento sobre o print apresentado pelo Coletivo de Mulheres da UFRJ:

Em primeiro lugar vou explicar como a história toda surgiu. Alguns alunos da graduação e da pós-graduação da UERJ, meus amigos, reclamaram que estavam sendo perseguidos pelo movimento feminista na UERJ pelo seu perfil conservador. Achando que essa reclamação era um exagero, fiz uma brincadeira com esses amigos dizendo que eles deviam agradecer pelo fato do feminismo ter existido, pois isso teria libertado o homem do sistema patriarcal também e criado um sistema que lhes favorecia muito. Essa clara brincadeira com amigos conservadores, fora do âmbito da UERJ e da UFRJ, foi deturpada de maneira sórdida pelo “Coletivo de Mulheres da UFRJ”, e seria vista como uma brincadeira se não fosse por esse parágrafo, escrito pelo Coletivo: “Bernardo é conhecido por citações pejorativas em sala de aula contra diversos movimentos sociais que buscam uma sociedade mais igualitária e recentemente tem intensificado seus ataques públicos contra as mulheres e o movimento feminista, em especial o das mulheres da faculdade de Direito da UERJ”.

Nunca, em momento nenhum, citei pejorativamente movimentos sociais ou ataquei mulheres e o movimento feminista, especialmente dentro da faculdade de Direito da UERJ ou da UFRJ. Pelo contrário, sou conhecido por minha defesa do contraditório e abertura democrática a todos os alunos. Pode perguntar a qualquer aluno marxista meu e ele atestará que a aula é marcada pela pluralidade e respeito ao pensamento diferente. Essa mentira foi feita, de acordo com pessoas que já se propuseram a testemunhar publicamente, pela aluna Maria Clara Bubna e jogada para o Coletivo da UFRJ, que a divulgou sem prévio esclarecimento.

Abro parênteses para falar dessa aluna. Desde o primeiro momento a aluna antipatizou comigo sem nenhum motivo que não fosse ideológico, e mesmo com toda a minha paciência, ela se recusava a ir às aulas. Contando com a aula de ontem, em todo o período foi apenas a terceira aula assistida por ela. Ela injuriava o professor constantemente seja ao vivo (com testemunhas), seja pela internet (com prints).

O auge das calúnias foi a alegação, pela internet, de que o meu contrato seria ilegal por conta de decisão judicial (que, diga-se, não abarca o contrato do professor), e sugerindo que houve favorecimento pessoal nessa contratação, o que põe em xeque a idoneidade de toda a Direção da Faculdade de Direito da UERJ, em especial o vice-diretor João Eduardo Pereira e o Coordenador da Graduação, Gustavo Siqueira, que foram membros da banca que aprovou o professor em concurso.

Destaco também que o grupo de esquerda vinculado a essa aluna acusou de discriminação contra mulheres o prof. Marcello Ciotola (com print – UERJ e UNESA) e o prof. Paulo Emílio de Macedo (sem print, pois foi apagado antes – UERJ e UFRJ), sem falar em nomes, pois eles são professores efetivos, e eu, um reles professor substituto.

No mesmo dia, extremamente aborrecido pelas calúnias levantadas contra ele e contra a Direção da Faculdade de Direito, declarei em sala que quem quisesse poderia não assistir as aulas e que eu aprovaria os alunos com nota mínima. Três alunas aceitaram, Maria Bubna e outras duas, em e-mail enviado a mim. Respondi, já de cabeça fria, que não poderia, por razões acadêmicas, aprová-las sem avaliação, motivo pelo qual daria um trabalho para as três alunas fazerem, e enviei o texto que é um resumo da matéria toda para esse trabalho, o que foi aceito. Inclusive, avisei que elas poderiam frequentar A AULA A QUALQUER MOMENTO E FAZER AS PROVAS AO INVÉS DO TRABALHO. Uma das alunas mudou de ideia e vai fazer as provas, o que foi motivo de muita alegria para mim. Esse mesmo rito de avaliação foi o utilizado para a aluna Malu Brito, que por problemas de deficiência auditiva, tinha dificuldades de acompanhar a aula. Eu, inclusive, me dispus a dar aulas particulares para ela fora do período de aula, mesmo sem ser pago para tal.

Quando fiquei sabendo que a aluna [Maria Clara Bubna] foi a responsável pela difamação feita pelo Coletivo de Mulheres da UFRJ, decidi processá-la criminalmente, por ser meu direito de cidadão contra o verdadeiro bullying feito pela aluna durante todo o tempo. Isto posto, procurei sim a aluna para discutir a possibilidade de desligamento da mesma da matéria, e nunca obtive retorno, mas nunca exigi, em momento nenhum, sua saída, e a aluna, inclusive, compareceu pela terceira vez no semestre na aula de segunda passada. Esse sentimento perpassa pelo mesmo motivo pelo qual juízes são suspeitos de julgar inimigos no processo civil (art. 135,I do CPC). E é isso que a aluna tem se mostrado perante mim: ser minha inimiga, mesmo sem nenhum motivo aparente, pois sempre fui condescendente com os atos levianos da aluna. Portanto, com essa ação [de procurá-la para discutir a possibilidade de desligamento], estava PROTEGENDO a aluna, e não o contrário, por entender que não há mais condições de se manter um relacionamento profissional ou acadêmico com a mesma.

Lembro, nesse ínterim, que a aluna ignorou por completo todas as repercussões que suas ações infundadas poderiam trazer para mim, que possuo uma esposa que não pode trabalhar porque precisa cuidar do nosso filho, que é uma criança especial (autismo).

Vale ressaltar ainda que a totalidade de alunos meus na UFRJ foram em minha defesa em manifestação online e que estão averiguando a possibilidade de fazer um grande abaixo-assinado em minha defesa, mesmo já estando de férias.

Nesse tempo também recebi ligações de números privados que nada falavam, um evento acadêmico em que eu participaria criticando a reforma agrária foi cancelado por falta de segurança e continuam as ameaças a todo evento que participo, inclusive uma ameaça de invasão à minha defesa de dissertação de mestrado, nesta sexta, que terá segurança reforçada.

Por fim, destaco que tudo o que foi escrito aqui está amplamente documentado, com prints ou testemunhos, e será entregue à Direção das faculdades em questão ainda nessa semana para que as providências cabíveis sejam realizadas.

Na UFRJ o Centro Acadêmico de lá retirou as acusações após entrevistar mais de 30 alunas minhas e todas afirmarem que sou um ótimo professor e de caráter ilibado.

Meu único erro nessa história toda foi ter sido condescendente com ela o tempo todo. Quando ela me caluniou dizendo que meu contrato era ilegal e insinuaram que eu era não concursado, eu deveria ter levado o caso para a direção imediatamente. Quando eu descobri que ela era a responsável pelo post difamatório do coletivo de mulheres da UFRJ, ao invés de amigavelmente tentar terminar o nosso vínculo, deveria ter entrado com um processo administrativo contra ela. Ao invés disso, ela usou a minha boa vontade e minha compaixão contra mim.

Na UERJ, o centro acadêmico entrou com um pedido de sindicância e afastamento preventivo, que foi aceito. Eu fiz uma defesa que era interrompida o tempo inteiro pelo diretor, e os chefes de departamento deixaram claramente sua antipatia por mim, por questões políticas, e por isso pedi exoneração, mas mudei de ideia. Agora vou lutar e vou até o fim. Antes do evento, se ouvia pelo corredor coisas do tipo “é uma ótima oportunidade para mostrarmos que essa faculdade tem sim uma posição ideológica”.”